Catecismo de Heidelberg

A Grande Reforma legou à Igreja de Cristo um

verdadeiro tesouro que são os catecismos e as confissões de

fé. Prestando atenção a esses documentos e examinando-os

ao lado da Bíblia teremos grande proveito para a nossa vida

espiritual.

Eles esboçam e colocam a doutrina da criação, da queda

e da redenção de forma sistemática facilitando-nos a

compreensão de todo o Conselho de Deus. Começaremos

aqui pelo Catecismo de Heidelberg.

O Catecismo de Heidelberg – Sua História

O grande movimento religioso do século XVI,

conhecido como a Grande Reforma Protestante, que marcou

e mudou a história da Igreja, deu origem a muitos escritos,

com o objetivo de trazer a Igreja de volta às Escrituras, entre

eles estão as declarações doutrinárias – as confissões de fé e os

catecismos. E um dos mais extraordinários desses

documentos escritos naquele período foi o famoso Catecismo

de Heidelberg – o mais importante documento confessional

da Igreja Reformada Alemã, que veio a tornar-se também, a

mais amplamente aceita das confissões de fé protestantes. Ele

surgiu na cidade de Heidelberg, Alemanha, a pedido do

Eleitor Frederico III, governador entre 1559 e 1576, da mais

influente província alemã, chamada Palatinado. Frederico

queria um catecismo que fosse conciliador e combinasse o

melhor da sabedoria luterana e reformada, que servisse para

instruir as pessoas comuns nos elementos básicos da fé cristã.

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O Catecismo de Heidelberg

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Confiou a importante tarefa a dois homens notáveis: Zacarias

Ursinus e Gaspar Olevianus, talentosos teólogos de

orientação suíça, ambos muito jovens, mas muito experientes.

Ursinus foi nomeado professor de teologia – ele havia iniciado

os seus estudos teológicos com Philipp Melanchton (principal

colaborador de Martinho Lutero) e também estudou

pessoalmente com João Calvino. Olevianus era um

protestante reformado francês que também havia estudado

com Calvino e apreciava os escritos de Melanchton. Este

tornou-se o pastor da principal igreja de Heidelberg. Seus

nomes ficariam permanentemente associados ao produto

mais influente do movimento reformado alemão – o

Catecismo de Heidelberg, publicado no dia 19 de janeiro de

1563. Zacarias Ursinus (1534-1583) nasceu na cidade de

Breslau (hoje na Polônia), passou sete anos em Wittenberg

(1550-1557) sob a orientação de Melanchton, ao qual se

apegara fortemente. Ali ele estudou lógica, dialética e teologia.

Gaspar Olevianus (1536-1587) nasceu em Treves, na fronteira

de Luxemburgo. Ursinus e Olevianus trabalharam no Colégio

da Sabedoria, a escola de teologia criada por Frederico III.

Olevianus atuou principalmente como pregador e Ursinus

como professor. Nasceu o Heidelberg, uma das peças mais

preciosas da herança reformada, e foi publicado sob o título

Catecismo ou Instrução Cristã como tem sido transmitida nas

Igrejas e Escolas do Palatinado Eleitoral. Uma edição latina

publicada em 1563 foi usada como base para várias traduções

para o inglês. O Catecismo Palatino, como veio a ser

chamado, teve também ampla aceitação na Escócia e depois

de sua aprovação e reconhecimento pelo Sínodo de Dort

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O Catecismo de Heidelberg

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(1618-1619) aumentou grandemente a sua autoridade. A

importância do Catecismo de Heidelberg como um guia para

a vida cristã é evidenciada pelas suas muitas edições e

traduções. Somente nas últimas décadas do século XVI foram

feitas quarenta e três edições e traduções. No século XVII, no

Brasil, foi traduzido para o Tupi, a língua mais falada aqui

naquela época, antes do Português ser oficializado. Hoje,

seguramente, mais de 200 versões são conhecidas. O

Catecismo é uma belíssima exposição da fé calvinista e

reformada. São 129 perguntas e respostas, que fazem uma

perfeita exposição sistemática da doutrina bíblica, dividida em

52 seções, para ser aplicada uma a cada Domingo. Ele enfatiza

três coisas: 1) cada homem necessita saber de sua miserável

condição diante de Deus; que está condenado a perdição

eterna sob a ira de Deus; 2) ele pode ser salvo dessa condição;

como? crendo e confiando unicamente em Jesus Cristo, o

Mediador; 3) como ele deve viver como salvo: em total

gratidão a Deus, durante toda a sua vida, sempre crescendo

mais e mais através dos meios da graça de Deus.

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Parte 1 – Nossa Miséria

Dia do Senhor 1

P. 1: Qual é o seu único consolo, na vida e na morte?

R.: Que não pertenço a mim mesmo, mas pertenço, de

corpo e alma, tanto na vida quanto na morte, ao meu fiel

Salvador Jesus Cristo.

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Ele pagou completamente todos os meus pecados com o

seu sangue precioso e me libertou de todo o domínio do

diabo.

Ele também me guarda de tal maneira que, sem a

vontade de meu Pai celeste, nem um fio de cabelo pode cair

da minha cabeça; na verdade, todas as coisas cooperam para a

minha salvação.

Por isso, pelo seu Espírito Santo, ele também me

assegura a vida eterna e me faz disposto e pronto de coração

para, de agora em diante, viver para ele.

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Comentário: Devemos ter consciência de que somos do

Senhor, primeiro por direito de criação, segundo por direito

de redenção e terceiro por direito de preservação e

conservação. Deus é quem dá a vida, tanto a natural quanto a

espiritual. A nossa vida espiritual é uma vida de fé e é o

próprio Deus que nos faz perseverar na fé. De modo que é

Ele que nos mantém tanto física quanto espiritualmente. Se

devemos tudo a Ele, então somos dele – “Do Senhor é a terra e a

sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” – Salmos 24.1.

Quão tolo é o homem que supõe ser dono de si próprio.

Frágil como somos, nada é mais consolador do que saber que

temos um Dono e que Ele é o Grande Senhor Jesus Cristo.

Não reconhecer a Deus e não servi-lo é o maior pecado da

humanidade. A grande maioria sempre viveu como se Deus

não existisse. Assim, todos os homens são igualmente

pecadores e culpados diante de Deus. Porém, aqueles que são

chamados à fé em Cristo e, conscientemente passam a servi-lo

em amor, esses são resgatados da escravidão do pecado, têm

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sua culpa perdoada e passam a ser habitados pelo Espírito

Santo de Deus e preservados do mal deste mundo. Esses são

os eleitos de Deus que habitarão com Ele para sempre. Esse é

o nosso maior consolo.

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P. 2: O que você precisa saber para viver e morrer nesse

consolo?

R.: Primeiro, como são grandes meus pecados e

minha miséria;

Segundo, de que modo sou liberto de todos os meus

pecados e miséria.

Terceiro, de que modo devo ser grato a Deus por tal

libertação.

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Comentário: O pecador tem uma doença eterna,

incurável que o levará fatalmente à morte eterna, a menos que

ele receba a Cristo como seu Salvador. Jesus Cristo é grande

Médico e somente Ele pode nos curar. O pecado causa a

morte física de todo homem, mas além dessa morte ele causa

também a morte espiritual, a qual de fato, veio primeiro. A

redenção que Deus proveu através de Cristo Jesus, redime o

espírito do crente, mas seu corpo irá morrer; contudo, depois

que for abatido pela morte, um dia Deus o ressuscitará e unirá

corpo à alma novamente, dessa vez para sempre. Essa é a cura

eterna, o corpo glorificado nunca mais pecará e nem

adoecerá. Por essa tão grande cura que é a nossa salvação

devemos ser muito gratos a Deus e servi-lo com grande

alegria. É isso que o Catecismo ensina: sermos conscientes da

multidão dos nossos pecados e nossa total depravação – “Toda

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a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até

a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres

não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo” – Isaías 1.5-6.

Também estarmos conscientes que apenas e tão somente em

Jesus Cristo temos esperança – “E em nenhum outro há salvação,

porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os

homens, pelo qual devamos ser salvos” – Atos 4.12. E finalmente

sermos eternamente gratos a Ele por sua grande misericórdia

por nós – “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem

feito?” – Salmos 116.12. Sermos povo do Senhor é o nosso

maior privilégio, quem não é cristão e não adora a Deus

através de Jesus Cristo, não está reconciliado com Deus, mas

está em rebelião contra Ele e será tratado como seu inimigo –

“E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse

sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim” – Lucas 19.27.

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Dia do Senhor 2

P. 3: Como você sabe dos seus pecados e miséria?

R.: Pela lei de Deus.

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Comentário: Os padrões absolutos de Deus nos

expõem, revelando toda nossa maldade, corrupção e

fraquezas. Como um espelho, a Lei revela a nossa feiura,

assimetria e sujeira; como um esquadro e um prumo expõe as

nossas deformidades; como um gabarito expõe a nossa

incapacidade. Seus padrões são tão elevados que homem

algum jamais os poderia alcançar – “Por isso nenhuma carne será

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justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o

conhecimento do pecado” – Romanos 3.20.

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P. 4: O que a lei de Deus exige de nós?

R.: Aquilo que Cristo nos ensina resumidamente em

Mateus 22:37-40 – “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu

coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o

grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:

Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos

dependem toda a Lei e os Profetas”.

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Comentário: Todo o ensino das Escrituras Sagradas se

resume nisso: Amar a Deus acima e antes de tudo, e em

seguida o amar ao próximo como a si próprio. Amar a Deus

significa obedecê-lo, temê-lo, o adorá-lo e agradá-lo sempre –

“Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de

todo o homem” – Eclesiastes 12.13. Amar o próximo significa

respeitá-lo, servi-lo, buscar viver em paz com ele e empenharse para que em tudo ele vá bem – “Portanto, tudo o que vós

quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a

lei e os profetas” – Mateus 7.12.

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P. 5: Você consegue guardar tudo isso perfeitamente?

R.: Não. Por natureza, sou inclinado a odiar a Deus e a

meu próximo.

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Comentário: Homem algum, jamais cumpriu toda a Lei

de Deus, pois a Lei é espiritual e nós somos carnais – “Porque

bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o

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pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço,

mas o que aborreço isso faço” – Romanos 7.14-15. E o homem

natural ama apenas a si mesmo. A Deus e ao próximo, ele ama

na medida em que estes o sirvam e satisfaçam seus interesses

pessoais. Esse é seu amor: interesseiro e carnal. Então ele, de

fato, não ama nem a Deus e nem ao seu próximo, antes os

odeia. Por isso diz a Escritura: “Porque também nós éramos noutro

tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias

concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiandonos uns aos outros” – Tito 3.3. Por isso contamos com a Graça de

Deus para nos capacitar à obediência. Rogamos a Deus que

torne a obediência de Cristo nossa obediência e confiamos

que Ele nos aperfeiçoará a cada dia.

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Dia do Senhor 3

P. 6: Então, Deus criou o homem assim tão mau e

perverso?

R.: Não, pelo contrário, Deus criou o homem bom e à

Sua imagem, isto é, em verdadeira justiça e santidade, de

modo que ele pudesse conhecer corretamente a Deus, o seu

Criador, amá-lo de coração, e viver em eterna felicidade para o

louvar e glorificar.

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Comentário: Depois que Deus terminou a criação,

incluindo o homem, avaliou sua obra, aprovou-a e deu nota

máxima. “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”

– Gênesis 1.31. Ninguém, além do próprio Deus poderia avaliar

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sua criação. E Ele declarou que tudo o que havia criado era

perfeito. Não havia nenhum erro, nem defeito ou

deformidade, fosse física ou moral. Tudo era muito bom.

Quanto ao homem, a única criatura feita à imagem e

semelhança do Criador, tinha tudo o que precisava para

conhecer a Deus, comungar com Ele e desfrutar da sua

amizade para sempre. Adão, contudo, perdeu tudo isso com a

queda. Situação que foi revertida com a morte de Cristo na

cruz. Na cruz a queda foi revertida e a maldição removida.

Um dia veremos a manifestação plena desta vitória e os

santos resplandecerão à imagem de Deus – “Então os justos

resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” – Mateus 13.43, e por

toda a eternidade Ele habitará entre nós – “Eis aqui o

tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão

o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” –

Apocalipse 21.3.

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P. 7: De onde veio, então, a natureza corrompida do

homem?

R.: Da queda e desobediência dos nossos primeiros pais,

Adão e Eva, no Paraíso. Pois ali, a nossa natureza tornou-se

de tal modo corrupta, que somos todos concebidos e

nascidos em pecado.

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Comentário: Adão sendo nosso representante máximo,

o cabeça da humanidade, quando desobedeceu a Deus e caiu

em pecado, consequentemente colocou toda a sua

descendência sob a mesma condição: caída e condenada. O

apóstolo Paulo explica assim: “Portanto, como por um homem

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entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a

morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” – Romanos

5.12. Assim, cada bebê que nasce neste mundo, traz dentro

dele a semente do pecado. O homem nada traz à este mundo

exceto o seu pecado. Essa é a única propriedade a que tem

direito – o pecado e suas mazelas. Todas as demais coisas que

ele obtêm neste mundo, de fato não lhe pertencem, pois

quando deixar esta vida, todas as coisas ficarão aqui, exceto o

seu pecado, este continuará com ele para sempre. A única

maneira de se ver livre dessa propriedade indesejada é ser

redimido por Cristo. O redimido deixará tudo inclusive o

pecado e partirá, livre da presença do pecado para sempre.

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P. 8: Mas somos tão corruptos que não somos capazes

fazer bem algum e somos inclinados a todo mal?

R.: Sim, a menos que sejamos gerados novamente pelo

Espírito de Deus.

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Comentário: O pecado é essencialmente maligno.

Mesmo o menor pecado tem tanta malignidade que seria

suficiente para alimentar o inferno eternamente. Então ele

corrompe e contamina completamente – pensamentos,

vontade, motivações, emoções, impedindo o homem de fazer

qualquer coisa pura aos olhos de Deus. Mesmo as nossas

melhores obras são contaminadas e trazem a coloração turva,

o odor fétido, o sabor salobre do pecado. Ainda as obras dos

regenerados não são perfeitas e nem totalmente agradáveis,

mas, por causa de Cristo, o Pai as considera, pois elas não

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objetivam alcançar o favor de Deus, mas são feitas por fé e

amor, em gratidão a Deus.

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Dia do Senhor 4

P. 9: Mas Deus não age injustamente com o homem ao

exigir em sua lei aquilo que o homem não consegue cumprir?

R.: Não, pois Deus criou o homem de tal forma que este

era capaz de cumprir essa lei. Mas o homem, sob a instigação

do diabo, em desobediência deliberada, privou-se a si mesmo

e a todos os seus descendentes desses dons.

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Comentário: Ocorre que antes da queda o homem

tinha condições de obedecer a Deus, mas cedendo à tentação

e à cobiça, aspirou por novidades. Mais do que Deus lhe havia

dado e ainda lhe daria Adão jamais teria por outros meios,

mas seduzido pela mulher, por sua vez seduzida pela

Serpente, Adão desobedeceu a lei de Deus. A sedução era:

“sereis como Deus” – Gênesis 3.5. O fato é que nem Adão e nem

Eva sabiam bem o que a Serpente estava sugerindo. Mas a

curiosidade e a cobiça, somado o desejo de novidade e de ter

mais do que tinham levou-os a desprezar a lei de Deus. Como

Deus lhes havia alertado, o desastre foi inevitável e o

resultado imediato: morte espiritual, separação da vida e da

comunhão com Deus. Tiveram seus olhos abertos, para que?

Para ver suas vergonhas. Conheceram o bem, mas não tinham

o poder para realizá-lo; conheceram o mal e não podiam

evitá-lo. Depois da queda Deus continua exigindo obediência.

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Isso não só é justo, como é bom para o homem, pois a lei lhe

estabelece limites seguros e restrições saudáveis. O bom Deus

também promete o seu Espírito Santo, que nos capacita para

a obediência. No mais, que nenhuma criatura se atreva a julgar

Deus ou avaliá-lo. Tudo o que Deus faz é bom, justo, e tem

santos propósitos e motivações.

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P. 10: Deus permitiria que tal desobediência e apostasia

ficassem sem castigo?

R.: Certamente que não, pois tanto o nosso pecado

original quanto os nossos pecados presentes o deixam

terrivelmente irado.

Por isso, ele os castigará com justo juízo, agora e

eternamente, conforme declarou: “Maldito todo aquele que

não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei,

para praticá-las” (Gálatas 3.10).

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Comentário: Deus não apenas exige obediência aos

seus mandamentos, como se ira contra a quebra deles pelos

homens – “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas

coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” – Efésios 5.6.

Para quem os despreza há uma punição temporal, nesta vida,

e ainda a punição eterna para os que se perdem – “Então dirá

também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,

malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” –

Mateus 25.41. E “Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição,

ante a face do Senhor e a glória do seu poder” – 2ª Tessalonicenses 1.9.

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P. 11: Mas Deus não é também misericordioso?

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R.: Deus é, verdadeiramente misericordioso, mas

também é justo.

A sua justiça requer que o pecado cometido contra a sua

suprema majestade seja castigado também com a pena

máxima, quer dizer, com o eterno castigo do corpo e da alma.

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Comentário: A ira de Deus não é uma paixão como a

ira humana. Ele não é um ser temperamental, inconstante,

mutável. Sua ira é um atributo, que, como todos os demais

atributos, é eterna. Assim como o amor e a misericórdia de

Deus são eternos, assim também a sua ira é eterna. E esse

atributo seu não pode contemplar o pecado, a injustiça, a

iniquidade. Por isso a Escritura diz que Ele tanto age com

misericórdia longânima, quanto se ira com ira eterna –

“Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que

guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e

guardam os seus mandamentos” – Deuteronômio 7.9. E “O Senhor é

Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor

toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus

inimigos” – Naum 1.2. E ainda “Porque do céu se manifesta a ira de

Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a

verdade em injustiça” – Romanos 1.18. Assim, seus atributos

podem manifestar-se ao mesmo tempo. Como o Senhor Jesus

Cristo fez: “E, olhando para eles em redor com indignação,

condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a tua

mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, sã como a outra”

– Marcos 3.5. Ele irou-se e afligiu-se ao mesmo tempo, tendo

misericórdia daqueles homens pecadores perdidos.

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Parte 2 – Nossa Salvação

Dia do Senhor 5

P. 12: Se pelo justo julgamento de Deus merecemos

tanto o castigo temporal quanto o eterno, como, então,

poderemos escapar dessa punição para sermos novamente

recebidos em graça?

R.: Deus requer que sua justiça seja satisfeita. Por isso,

nós mesmos devemos satisfazer completamente essa justiça,

ou outro deve fazê-lo por nós.

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Comentário: A santa justiça de Deus requer que o

pecado cometido contra a sua suprema majestade não

permaneça sem a devida punição. Todo pecado é punido com

o máximo rigor, com o máximo poder, com a máxima

exatidão. Deus avisou a Adão que se ele o desobedecesse

seguramente seria punido com a morte – “Mas da árvore do

conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em

que dela comeres, certamente morrerás” – Gênesis 2.17. E assim

aconteceu, ele pecou e a morte entrou no nosso mundo –

“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo

pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por

isso que todos pecaram” – Romanos 5.12. Todos pecaram e

ninguém escapará do juízo de Deus. Todo pecado será

castigado com a morte – “Eis que todas as almas são minhas; como

o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que

pecar, essa morrerá” – Ezequiel 18.4. Porém, quando um pecador

crê em Jesus Cristo e arrepende-se de seus pecados, recebe o

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perdão de Cristo, porque Ele morreu para resgatar seu povo

dos pecados deles. Assim, os cristãos verdadeiros não serão

mais punidos, porque Jesus já o foi no lugar deles. Contudo,

quanto aos demais, os que não creem em Cristo, serão

infalivelmente justiçados e condenados ao castigo eterno.

Todo pecado que não foi punido na cruz será punido no

inferno. Os pecados dos crentes foram atribuídos a Cristo e

punidos nele na cruz do Calvário. Os descrentes terão que

acertar sozinhos sua dívida com a justiça divina.

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P. 13: Podemos, nós mesmos, satisfazer essa justiça?

R.: Certamente que não. Pelo contrário, todos os dias

aumentamos a nossa dívida para com Deus.

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Comentário: Homem algum, jamais, poderia satisfazer a

justiça de Deus e assim dar conta de seus próprios pecados. A

melhor justiça do mais santo dos homens não daria conta de

nem mesmo um único pecado. E nós temos multidões deles e

só fazemos aumentá-los. A única justiça que satisfez a Deus

foi a Sua própria, por isso a justiça de seu Filho o satisfez,

pois Jesus é Deus e tem a justiça eterna – “Setenta semanas estão

determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para

extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e expiar a iniquidade, e

trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e ungir o Santo dos

santos” – Daniel 9.24.

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P. 14: Qualquer mera criatura pode satisfazê-la por nós?

R.: Não.

Primeiro, porque Deus não castigará outra criatura pelo

pecado que o homem cometeu.

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Segundo, porque nenhuma mera criatura pode suportar

o peso da ira eterna de Deus contra o pecado, nem liberar

outros dela.

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Comentário: Homem por homem, essa é a justiça da lei.

Se alguém iria tomar o nosso lugar deveria ser outro homem,

isto é, outro da família humana. Deveria ser da nossa raça,

mas sem o nosso pecado. Não poderia, portanto, ser um

homem terreno, teria que vir do céu. Para suportar a ira

eterna pelos pecados da humanidade não poderia ser um

simples mortal. Por isso o Filho eterno se encarnou, veio ao

mundo fazer o que ninguém mais poderia: expiar os nossos

pecados e nos salvar, o que era completamente impossível a

nós. Jesus Cristo é o único homem divino da história do

tempo e da eternidade; nele, Deus se fez carne – “E o Verbo se

fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do

Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” – João 1.14; “Porque um

menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os

seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus

Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” – Isaías 9.6. Aquele

menino que nasceu, era também o Deus Forte, Pai da

Eternidade…, por isso ele pôde vencer não apenas o pecado,

mas também Satanás, o mundo e a morte; pôde suportar a ira

divina contra os nossos pecados e nos atribuir a justiça eterna.

Amém.

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P. 15: Que tipo de mediador e libertador temos que

buscar?

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R.: Alguém que seja verdadeiro homem e justo, e mais

poderoso que todas as criaturas, isto é, alguém que seja ao

mesmo tempo verdadeiro Deus.

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Comentário: Só há um Mediador entre o Deus Santo e

o homem caído – “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre

Deus e os homens, Jesus Cristo homem” – 1ª Timóteo 2.5. Deus

mesmo o estabeleceu, portanto, ele é único perfeitamente

justo e absolutamente suficiente para realizar a redenção.

Antes de Cristo, Deus perdoava todo aquele que se

aproximava dele confiando no Cordeiro que viria – “E disse

Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto” – Gênesis

22.8; “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um

cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus

tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca” – Isaías 53.7. Depois

que Cristo veio, Deus perdoa todo aquele que se aproxima

dele confiando no Cordeiro que já veio – “No dia seguinte João

viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira

o pecado do mundo” – João 1.29.

————————————————————————–

Dia do Senhor 6

P. 16: Por que o mediador tem que ser um verdadeiro

homem e homem justo?

R.: Tem que ser verdadeiro homem, porque a justiça de

Deus exige que a mesma natureza humana que pecou pague

pelo pecado. Tem que ser homem justo, porque alguém que,

17

O Catecismo de Heidelberg

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por natureza já é pecador, não pode pagar pelos pecados dos

outros.

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Comentário: Como o pecado entrou no mundo por um

homem, a expiação e redenção deveriam também ser feitas

por um homem. Porém esse homem não poderia ser um

pecador como os demais. Os cordeiros dos sacrifícios, que

eram tipos do Cordeiro de Deus que viria, deviam ser sem

quaisquer defeitos – “O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula” –

Êxodo 12.5. “E, quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao Senhor,

separando dos bois ou das ovelhas um voto, ou oferta voluntária, sem

defeito será, para que seja aceito; nenhum defeito haverá nele” – Levítico

22.21; da mesma forma também o nosso representante, tinha

que ser necessariamente imaculado – “Àquele que não conheceu

pecado, o fez pecado por nós” – 2ª Coríntios 5.21. Jesus é sacerdote

santo, que nunca pecou – “… porém, um que, como nós, em tudo foi

tentado, mas sem pecado” – Hebreus 4.15; “Mas com o precioso sangue

de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” – 1ª Pedro

1.19.

————————————————————————–

P. 17: Por que ele deve ser, ao mesmo tempo, verdadeiro

Deus?

R.: Ele tem que ser verdadeiro Deus para que, pelo

poder da sua natureza divina, possa suportar em sua natureza

humana o peso da ira de Deus, e conquistar e restituir para

nós a justiça e a vida.

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Comentário: Nenhuma criatura moral, fosse homem ou

anjo, jamais poderia suportar o que Jesus Cristo suportou, isto

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O Catecismo de Heidelberg

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é, todo o furor da ira eterna de Deus pelos nossos pecados.

Na cruz o Senhor suportou as “angústias do inferno”- Salmo 116.3,

quando experimentou a total ausência da graça e da

assistência de Deus. Ele disse: “A minha alma está profundamente

triste até a morte” – Marcos 14.34. Para enfrentar Satanás e seus

demônios e derrotá-los, o nosso resgatador deveria ser além

de homem como nós, também Deus. A missão de reverter os

estragos da queda só poderia ser cumprida pelo Filho Eterno.

O maior brado de vitória que este mundo ouviu foi o do

Senhor Jesus na cruz, quando consumou a nossa redenção:

“Está consumado!” – João 19.30.

————————————————————————–

P. 18: Mas que Mediador é esse que é, ao mesmo tempo,

verdadeiro Deus e verdadeiro homem e homem justo?

R.: O nosso Senhor Jesus Cristo, “o qual se nos tornou, da

parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1a

Coríntios 1.30).

————————————————————————–

Comentário: Jesus Cristo é o nosso Campeão – o nosso

Davi que enfrentou Golias para salvar o Israel de Deus. Assim

como a vitória de Davi foi a vitória de Israel, também a vitória

de Cristo é a nossa vitória, sua justiça é a nossa justiça, sua

obediência à Lei é a nossa obediência. Todas as conquistas de

Jesus, nosso Irmão mais velho nos são atribuídas pelo nosso

Pai.

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P. 19: Como você sabe disso?

R.: Pelo santo Evangelho, que o próprio Deus revelou

pela primeira vez no Paraíso.

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O Catecismo de Heidelberg

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Depois, ele o proclamou pelos santos patriarcas e

profetas, e o prefigurou pelos sacrifícios e demais cerimoniais

da lei.

E, finalmente, o cumpriu por meio do seu único Filho.

————————————————————————–

Comentário: A Bíblia Sagrada, do começo ao fim, narra

duas histórias: a da criação e a da redenção; a redenção é uma

nova criação. Ela começa falando da história da criação num

plano, mas noutro plano se desenrola o maravilhoso plano da

redenção. Essas duas histórias caminham juntas de Gênesis ao

Apocalipse. Com a morte de Jesus Cristo na cruz do Calvário,

a maldição é removida, a queda é revertida e um novo tempo

começa. Hoje vemos o plano da redenção com muito mais

clareza do que os crentes do Antigo Testamento. Um dia

haverá a completude da redenção e a plena manifestação do

reino de Deus. Será a consumação de todas as coisas e

estaremos na esfera da nova criação.

————————————————————————–

Dia do Senhor 7

P. 20: Então, todos os homens são salvos por Cristo

exatamente como pereceram por meio de Adão?

R.: Não. Só são salvos os que, pela verdadeira fé, são

enxertados em Cristo e aceitam todos os seus benefícios.

————————————————————————–

Comentário: A redenção não é automática, mas o

Espírito Santo a revela e a aplica aos que creem. Todos

quantos são chamados do mundo, devem publicamente

professar a sua fé e confiar totalmente em Cristo para a sua

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O Catecismo de Heidelberg

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salvação. Apenas esses receberão os benefícios da sua morte e

ressurreição – “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de

serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome… Quem crê nele

não é condenado; mas quem não crê já está condenado” – João 1.12 e

3.18.

————————————————————————–

P. 21: O que é a verdadeira fé?

R.: A verdadeira fé é a convicção com que aceito como

verdade tudo aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra.

É também a firme certeza de que Deus garantiu – não

só a outros, mas também a mim – perdão de pecados, justiça

eterna, e salvação, por pura graça e somente pelos méritos de

Cristo.

O Espírito Santo opera essa fé em meu coração, por

meio do Evangelho.

————————————————————————–

Comentário: Fé é conhecer a Deus e confiar

plenamente nele. Conhecer, reconhecer, crer e confiar

plenamente em Seu Filho como o único mediador entre Deus

e os homens. É confiar que o Filho de Deus morreu por mim,

assim como por cada um dos que creem e vêm a Ele quando

são chamados. Fé não é visualização, superstição, nem sonho,

mas é confiança perseverante até o fim, até a morte. Não

podemos sentir nem mensurar a fé, mas podemos saber se ela

está no lugar certo. Ela não deve estar em nós mesmos, isto é,

nossa experiência, justiça, nem na nossa própria fé, nem ainda

em anjos, nem nos santos, mas apenas em Jesus Cristo. A

verdadeira fé, a fé que salva, é um dom de Deus e ela

direciona o crente para Jesus Cristo e a Ele unicamente. A fé

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O Catecismo de Heidelberg

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salvífica jamais foca outro mediador fora daquele que o Pai

estabeleceu. Portanto para alguém ser salvo não basta que

tenha fé, nem mesmo que tenha muita fé, mas sua fé precisa

estar em Cristo – “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que

crê em mim tem a vida eterna” – João 6.47; “Estas coisas vos escrevi a

vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que

tendes a vida eterna” – 1ª João 5.13. Então, não é crer em alguma

coisa, em qualquer coisa ou em qualquer um, mas crer no

Filho de Deus – Jesus Cristo. Essa é a fé bíblica.

————————————————————————–

P. 22: Então, em que o cristão deve crer?

R.: Em tudo que nos está prometido no Evangelho e

que nos é ensinado resumidamente pelos artigos da nossa

católica e indubitável fé cristã.

————————————————————————–

Comentário: Todo cristão deve crer na doutrina dos

apóstolos de Cristo – “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” –

Atos 2.42, pois isso é todo o Conselho de Deus para a Igreja

– “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” – Atos

20.27. De fato, o Credo dos Apóstolos, o Symbolum

Apostolicum, nos dá um perfeito resumo da doutrina de

Cristo por meio dos seus profetas e apóstolos.

————————————————————————–

P. 23: Que artigos são esses?

R. 1. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do

céu e da terra;

2. e em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor;

3. que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da

virgem Maria;

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O Catecismo de Heidelberg

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4. padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi

crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno;

5. no terceiro dia ressurgiu dos mortos;

6. subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai

Todo-Poderoso;

7. donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

8. Creio no Espírito Santo;

9. na santa Igreja católica, na comunhão dos santos;

10. na remissão dos pecados;

11. na ressurreição do corpo;

12. e na vida eterna. Amém.

————————————————————————–

Comentário: Crer em Deus Pai é crer, honrar e adorar o

único Deus vivo e verdadeiro. Crer em Jesus Cristo é confiar

inteiramente no mediador que o Pai estabeleceu para nossa

salvação. Crer na concepção virginal é crer nas duas naturezas

de Cristo – sua humanidade e sua divindade. Quando o Credo

diz que Ele nasceu da virgem Maria e padeceu sob o governo

de Pôncio Pilatos, está situando estes acontecimentos na

História, para mostrar que nossa fé tem lastro na história

secular a qual comprova esses fatos. Professar que cremos em

sua morte, crucificação e ressurreição, significa crer em todos

os seus atos redentivos, em sua vitória sobre todos os

inimigos e poderes do inferno. Crer no Juízo Final é aguardar

a promessa que o Senhor nos fez que voltaria para os seus.

Esse dia do juízo será, ao mesmo tempo, horrível para os

ímpios e glorioso para os fiéis. Crer no Espírito Santo é crer

na perfeita e Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

Professa a santidade e catolicidade da Igreja é crer que ela é

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O Catecismo de Heidelberg

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santa e uma só; daí também a comunhão dos santos, pois há

muitos membros, mas uma única Cabeça, formando um só

Corpo. Crer na remissão de pecados é crer na salvação pela

graça que foi conquistada por Cristo – Jesus nos redimiu. Crer

na ressurreição é esperar o novo corpo glorificado que o

Senhor nos dará no último dia, corpo no qual viveremos

eternamente com o Senhor. Amém.

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Dia do Senhor 8

P. 24: Como se dividem esses artigos?

R.: Em três partes:

– A primeira parte nos ensina sobre Deus, o Pai, e a

nossa criação;

– A segunda parte nos ensina sobre Deus, o Filho, e a

nossa redenção;

– A terceira parte nos ensina sobre Deus, o Espírito

Santo, e a nossa santificação.

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Comentário: Apesar de o Credo separar cada parte dessa

forma, para melhor compreensão do leitor, de fato, o Pai, o

Filho e o Espírito Santo, são eternamente juntos; eles estão

juntos na criação, bem como na redenção, assim também na

nossa santificação. Eles são inseparáveis, trabalham e operam

eternamente juntos. O Senhor Jesus disse: “… Meu Pai trabalha

até agora, e eu trabalho também” – João 5.17, como quem diz:

“Meu Pai trabalha e eu trabalho com ele; trabalhamos juntos”.

O Credo confessa essa unidade da Trindade.

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O Catecismo de Heidelberg

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P. 25: Visto que só existe um único Deus, por que é que

você fala em três Pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo?

R.: Porque o próprio Deus se revelou de tal maneira em

sua Palavra, que essas três Pessoas distintas são o único,

verdadeiro e eterno Deus.

————————————————————————–

Comentário: O Credo dos Apóstolos, conhecido como

o Símbolo, se apresenta em três partes principais onde cada

uma enfatiza uma das Pessoas da Trindade. Isto mostra que a

fé histórica da Igreja de Cristo sempre expressou essa

doutrina, que embora não tenha nome nas Escrituras, pode

ser largamente percebida tanto no Antigo quanto no Novo

Testamento. Elohim é uma palavra plural que se refere a um

só Deus e compreende ao mesmo tempo três Pessoas

Benditas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não podemos

compreender esta doutrina com a nossa mente natural, mas

devemos crê-la pois é assim que o verdadeiro Deus se revela

no Sagrado Livro. Um milagre não é verdadeiro só se eu

puder explicá-lo, mas se Deus o fez. Da mesma forma uma

doutrina não é verdadeira só se eu puder compreendê-la, mas

se Deus a disse, se está no seu Livro. Seria grande estupidez

de nossa parte, criaturas caídas que somos, desejar

compreender tudo quanto Deus é e o que Ele faz. Há três

atributos principais que são inerentes a Deus e

incomunicáveis: Onipotência, Onisciência e Onipresença. Só

Deus tem esses atributos. Uma vez que são incomunicáveis,

nenhuma criatura os recebeu. Mas o Deus Pai, o Deus Filho e

o Deus Espírito Santo são todos tanto onipotentes, quanto

oniscientes, quanto onipresentes. A Bíblia apresenta cada um

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O Catecismo de Heidelberg

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deles tendo todos esses atributos intransmissíveis. E como

Deus é um só, estes três constituem o único e verdadeiro

Deus, Aquele que é Santo, Santo e Santo. Ele é o Deus da

Igreja e o Senhor Jesus disse que cada membro efetivo do seu

povo deve ser selado “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito

Santo” – Mateus 28.19. O apóstolo invocou a bênção sobre a

Igreja dizendo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e

a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém” – 2ª

Coríntios 13.13. O Credo Apostólico colocou a Igreja junto com

Espírito Santo. É o Espírito que chama os eleitos de Deus,

lhes revela o Evangelho de Cristo e o Cristo do Evangelho;

Ele os regenera, dá-lhes fé e arrependimento e os congrega

num corpo, a Igreja.

————————————————————————–

Deus Pai e a nossa criação

Dia do Senhor 9

P. 26: Em que você crê quando diz: “Creio em Deus Pai,

Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”?

R.: Creio que o eterno Pai do nosso Senhor Jesus Cristo,

que criou do nada, o céu e a terra e tudo o que neles há, e

também os sustenta e governa por seu conselho e providência

eternos é o meu Deus e o meu Pai, por causa do seu Filho

Jesus Cristo.

Creio nele tão completamente, que não tenho nenhuma

dúvida de que ele me suprirá de tudo o que é necessário ao

corpo e à alma, e que também converterá em bem para mim

toda a adversidade que me enviar nessa vida conturbada.

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O Catecismo de Heidelberg

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Ele assim pode fazer porque é Deus Todo-Poderoso e o

quer fazer porque é Pai Fiel.

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Comentário: Os cristãos são criacionistas, pois é o que a

Bíblia diz; ela diz que Deus é o Criador de tudo quanto existe.

O livro de Gênesis começa dizendo: “No princípio criou Deus os

céus e a terra” – Gênesis 1.1. E o Evangelho de João começa assim:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era

Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas

por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” – João 1.1-3. Ele

pensou, planejou, decretou e ordenou a existência, a

manutenção, o propósito de todas as coisas criadas. Ele

decretou a vida de cada ser e todas as circunstâncias que os

envolvem em toda a sua vida do começo ao fim. Uma vez

tudo criado, Ele sustenta, mantêm, governa e dirige tudo e

todos para o fim que decretou – “Mas o nosso Deus está nos céus;

fez tudo o que lhe agradou” – Salmo 115.3. Toda a criação depende

de Deus para continuar existindo e sem Ele toda criação

entraria em colapso. Portanto nosso Deus não é apenas o

Criador, mas também o sustentador, mantenedor, gestor de

toda a sua criação. Sendo nosso Pai, confiamos que Ele

sempre nos sustentará, nos dando tanto provisão material

quanto espiritual; guardando-nos do maligno e fazendo com

que o mal que nos sobrevêm nesta vida, sempre promova o

nosso bem maior – “E sabemos que todas as coisas contribuem

juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são

chamados segundo o seu propósito” – Romanos 8.28. Saber que esse

Deus maravilhosíssimo é o nosso Pai através de Jesus Cristo, é

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O Catecismo de Heidelberg

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algo que nos dá toda segurança, tranquilidade e consolação. O

Senhor Jesus ensinou: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas

coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará

bens aos que lhe pedirem?” – Mateus 7.11. Então, quando

confessamos que cremos em Deus Pai Todo-poderoso,

estamos dizendo que sabemos que Ele nos adotou em Jesus

Cristo e tem uma providência especial para nós; e que

estamos absolutamente descansados nele tanto para manter

nossa vida e integridade física quanto espiritual. Confiamos

que com a sua graça cruzaremos o deserto deste mundo e

chegaremos à terra da promissão, porque Aquele que fez a

promessa é fiel – “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança;

porque fiel é o que prometeu” – Hebreus 10.23.

————————————————————————–

Dia do Senhor 10

P. 27: O que você entende por “Providência de Deus”?

R.: A Providência de Deus é o seu onipotente e

onisciente poder, por meio do qual, com sua mão, ele sustenta

continuamente o céu e a terra e todas as criaturas,

governando-os de tal modo que ervas e plantas, chuva e seca,

abundância e escassez, comida e bebida, saúde e doença,

riqueza e pobreza, na verdade, todas as coisas, não nos vêm

por acaso, mas procedem da sua mão paternal.

————————————————————————–

Comentário: Muitos simplificam a definição de

providência, apenas como sendo Deus dando provisão

material aos seus filhos. É isso também, mas não apenas isso.

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O Catecismo de Heidelberg

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Providência é Deus sustentando, mantendo, governando,

dirigindo toda a criação para um fim que Ele mesmo decretou

em Seu conselho eterno. Tudo o que acontece na criação vem

da providência e é governado por ela. Deus mantém controle

absoluto sobre todas as criaturas e seus atos, tanto no céu

como na terra, as visíveis e as invisíveis; Ele governa e

administra o tempo e a eternidade. Nenhuma criatura é

independente ou autônoma. Deus é quem determina e ordena

os tempos, os dias e todas as circunstâncias que envolve cada

uma delas. Não existe um só pensamento em todo o universo

criado que seja desconhecido de Deus. Ele conhece nossas

palavras, ações, reações, também nossos pensamentos e

motivações que as geraram. Por isso o salmista disse: “Senhor,

tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu

levantar; de longe entendes o meu pensamento… Não havendo ainda

palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces”

– Salmo 139.1-4. Deus tem absoluta ciência de tudo quanto

acontece em todo o universo criado, sustentado e governado

por Ele. Ele sabe, vê e ouve tudo, seja do tempo passado,

presente ou futuro, em tempo real. Ele cuidará de nós pois

sua promessa é fiel e Ele nos ama. Disso já nos deu prova –

“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou

por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” –

Romanos 8.32.

————————————————————————–

P. 28: Que benefício há em sabermos que Deus criou

todas as coisas e que continuamente as sustenta pela sua

Providência?

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O Catecismo de Heidelberg

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R.: Podemos ser pacientes na adversidade, agradecidos

na prosperidade e, quanto ao futuro, podemos confiar

firmemente em nosso Deus e Pai Fiel, porque criatura alguma

poderá nos separar do seu amor; pois todas elas estão de tal

modo em sua mão que, sem a sua vontade, elas não podem

nem mesmo se mover.

————————————————————————–

Comentário: Sabendo que tudo quanto existe e

acontece está sob a gerência precisa de Deus, o nosso Pai,

temos consolo nas adversidades. Estamos num mundo caído

e momentos difíceis fazem parte desta vida, mas o Senhor

converte toda dor, perda, sofrimento em benefícios

espirituais. Todo sofrimento que passamos nesta vida está

repleto do amor de Deus por nós. Quanto mais

conhecimento da Providência tanto mais temos paciência e

esperamos em Deus. Temos a bendita promessa de que nem

homens, nem anjos, nem privações, nem escassez de coisas

materiais, nem perseguições, nem ameaças, nada nos tirará

dos braços de amor do nosso Deus e Pai. Até a mais

poderosa, maldosa, maligna e cruel das criaturas caídas, está

nas mãos do Senhor Jesus Cristo e só faz o que lhe é

concedido e ordenado – “E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo

quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua

mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” – Jó 1.12. Temos muito

que agradecer ao nosso bondoso Pai. A ingratidão é um

grande pecado, que invariavelmente é potencializada com as

murmurações. Devemos aprender a contabilizar as bênçãos

que temos e não as que não temos. Então veremos que temos

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O Catecismo de Heidelberg

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muito mais do que merecemos. Nosso maior privilégio é

sermos filhos de Deus em Cristo.

————————————————————————–

Deus Filho e nossa salvação

Dia do Senhor 11

P. 29: Por que razão o Filho de Deus é chamado de

“Jesus”, que quer dizer “Salvador”?

R.: Porque Ele nos salva de todos os nossos pecados, e

porque em nenhum outro devemos buscar ou podemos

encontrar salvação.

————————————————————————–

Comentário: O Filho Eterno santificou e imortalizou o

nome “Jesus” que significa “Javé salva” ou simplesmente

“Salvador”. “Jesus”, assim como “Josué”, era um nome até

comum naqueles dias, mas o Filho de Deus era a realidade

desse nome, Ele era o que o nome dizia. Por isso recebeu esse

nome: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus ; porque

ele salvará o seu povo dos seus pecados” – Mateus 1.21. Jesus Cristo

não é um salvador, mas é o único Salvador. Todos quantos

tiverem de ser salvos, o serão através dele, conforme está

escrito: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do

céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos

ser salvos” – Atos 4.12. Só existe um povo salvo na terra. Esse

povo é composto por homens e mulheres, judeus e gentios de

todas as nações, povos e raças, de todos os tempos, e todos

têm um Salvador comum: Jesus Cristo – “Depois destas coisas

olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas

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O Catecismo de Heidelberg

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as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e

perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas

mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus,

que está assentado no trono, e ao Cordeiro” – Apocalipse 7.9-10. O

Cordeiro é Jesus Cristo, que tomou o nosso lugar sob a ira

divina e a maldição da Santa Lei, a fim de nos tornar

aceitáveis diante de Deus e nos reconciliar com Ele.

————————————————————————–

P. 30: Aqueles que buscam com fervor a sua salvação ou

bem-estar nos antos, em si mesmos, ou em outra coisa

qualquer, também creem no único Salvador Jesus?

R.: Não. Embora se gloriem nele com palavras, eles na

verdade negam a Jesus como o único Salvador.

Pois, das duas coisas, só uma é verdadeira: ou Jesus é um

Salvador incompleto, ou aqueles que, pela verdadeira fé

aceitam esse Salvador, têm que achar nele tudo o que é

necessário para a sua salvação.

————————————————————————–

Comentário: A Bíblia Sagrada fala da “fé que uma vez foi

dada aos santos” – Judas 1.3; e de outra fé que até os demônios

têm – “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o

creem, e estremecem” – Tiago 2.19. A primeira salva enquanto que a

segunda para nada aproveita. A fé que os crentes autênticos

têm, os direciona exclusivamente para Jesus Cristo. Já a fé dos

reprovados não, por isso professam crer em Deus e Seu Filho,

Jesus Cristo, mas também confiam nos santos e em outros

ídolos; confiam também em si próprios, ou seja, em sua

justiça pessoal, suas obras e méritos; confiam em superstições,

tais como orações fortes, propósitos, visualizações, objetos ou

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O Catecismo de Heidelberg

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elementos sagrados, relíquias, lugares sagrados; ou confiam

ainda em suas experiências espirituais. Eles têm uma fé

pulverizada e essa não é a fé bíblica. Assim, não confiam

plenamente e somente em Nosso Senhor e Salvador Jesus

Cristo, ainda que professem crer nele. Uma fé desse tipo

desonra e insulta a Deus, por isso é uma fé reprovada. Os

crentes autênticos têm sua fé e confiança única e

exclusivamente em Cristo Jesus. Jamais confiam em boas

obras, justiça e méritos pessoais, experiências sobrenaturais,

ou em outros mediadores, sejam mortos ou vivos. Também

não confiam em coisas, objetos, nem em palavras

supersticiosas. Mas apenas e tão somente em nosso Senhor e

Salvador, Jesus Cristo.

————————————————————————–

Dia do Senhor 12

P. 31: Por que razão ele é chamado de “Cristo”, que quer

dizer “Ungido”?

R.: Porque Ele foi ordenado por Deus, o Pai, e ungido

com o Espírito Santo, para ser: nosso supremo Profeta e

Mestre, que nos revelou completamente o propósito secreto e

a vontade de Deus quanto à nossa redenção; nosso único

Sumo Sacerdote, o qual por um único sacrifício do seu corpo

nos remiu e intercede continuamente por nós diante do Pai; e

nosso Rei eterno, que nos governa pela sua Palavra e por seu

Espírito, e que nos defende e preserva na redenção que ele

conquistou para nós.

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33

O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: “Cristo” vem do Grego e quer dizer

Ungido, “Messias” vem do Hebraico, que também significa

Ungido. Os reis, sacerdotes e profetas de Israel eram ungidos

de Deus. O Senhor Jesus é a expressão máxima de todas

aquelas funções e ministérios, reunindo e expressando em si

mesmo todas elas. Ele é o Grande Sumo-sacerdote; dele está

escrito: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote

eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” – Salmo 110.4. Também

é o Grande Profeta [e Mestre]: “O Senhor teu Deus te levantará um

profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis” –

Deuteronômio 18.1, e ainda é o Grande Rei: “Eu, porém, ungi o meu

Rei sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o Senhor

me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” – Salmo 2.6-7. Depois de

Cristo não há mais rei, sacerdote nem profeta na sua

Congregação, conforme no Antigo Testamento. Agora todos

os crentes são, em Cristo e com Ele, reis, profetas e

sacerdotes. A igreja é um reino sacerdotal, profético que reina

com Cristo -”E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele

glória e poder para todo o sempre. Amém” – Apocalipse 1.6.

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P. 32: Por que você é chamado de cristão?

R.: Porque, pela fé, sou membro de Cristo e, por isso,

partilho da sua unção par poder: como profeta, confessar o

seu nome; como sacerdote, apresentar a mim mesmo como

sacrifício vivo de gratidão a ele; e, como rei, de livre e boa

consciência, combater o pecado e o diabo nessa vida, e no

porvir reinar eternamente com ele sobre tidas as criaturas.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: O cristão é aquele que ouviu de Cristo, crê

nele, segue-o e o obedece de coração. Ele está em Cristo e o

imita, e o Espírito Santo o conforma a Cristo dia a dia.

Estando em Cristo, participa com Ele de todas as suas vitórias

e seus benefícios redentivos. Ele reina com Cristo sobre o

pecado e o mal: “Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por

esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da

justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” – Romanos 5.17.

Como um profeta ele anuncia a Palavra de Cristo ao mundo:

“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo… E a unção que vós

recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos

ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é

verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele

permanecereis” – 1ª João 2.20, 27. Como sacerdote ele oferece,

através de Cristo, sacrifícios espirituais a Deus. Tudo isso o

crente é em Cristo e juntamente com Ele: “E nos fez reis e

sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre.

Amém” – Apocalipse 1.6.

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Dia do Senhor 13

P. 33: Por que ele é chamado “Filho Unigênito” de

Deus, se nós também somos filhos de Deus?

R.: Porque somente Cristo é, por natureza, o eterno

Filho de Deus.

Nós, porém, somos filhos de Deus por adoção, pela

graça, por causa de Cristo.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Jesus Cristo é chamado de único Filho de

Deus porque Ele é o Filho Eterno, gerado eternamente do Pai

– “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória,

como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade…

Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do

Pai, esse o revelou” – João 1.14, 18. Ele é Deus como o Pai. Os

crentes são chamados de filhos de Deus num outro sentido –

são adotivos, criados no tempo e abençoados com o privilégio

dessa herança – “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder

de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” – João 1.12;

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes

em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual

clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito

que somos filhos de Deus” – Romanos 8.15-16. Jesus sempre será

Deus Criador junto com o Pai, enquanto que nós sempre

seremos criaturas. Todos os homens são filhos de Deus em

Adão, porém nem todos são filhos de Deus em Cristo Jesus.

Em Adão todos estão sob a ira de Deus e um dia serão

chamados à prestação de contas e receberão a condenação

eterna por causa de seus pecados. Já os homens que foram

reconciliados com Deus e adotados na família de Deus, são os

verdadeiros filhos de Deus em Cristo Jesus; esses são amados

com o amor eterno, objeto do amor especial de Deus. Esses

são destinados à eternidade no novo céu e nova terra.

Quando Jesus veio a este mundo era apenas o Unigênito, mas

quando retornou à glória eterna, foi como o Primogênito –

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem

conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o Primogênito

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O Catecismo de Heidelberg

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entre muitos irmãos” – Romanos 8.29. Assim no que diz respeito

à sua divindade, ele é o Unigênito do Pai, e em relação à sua

humanidade ele é o Primogênito. Na sua posição gloriosa de

Unigênito do Pai, sempre será único e será sempre o nosso

Deus.

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P. 34: Por que você o chama de “nosso Senhor”?

R.: Porque ele nos comprou e nos resgatou, corpo e

alma, de todos os nossos pecados, não com ouro nem prata,

mas com o seu precioso sangue, e nos libertou de todo o

domínio do diabo, para nos tornar sua possessão.

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Comentário: Jesus tem direito sobre nós por criação,

por redenção e por preservação – “Mas agora, assim diz o

Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque

eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas

águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão;

quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em

ti” – Isaías 43.1-2. Ele nos criou, redimiu e mantém nossa vida

física e espiritual. Então é o nosso Senhor, nosso Dono,

nosso Amo, nosso Deus. Ele próprio ensinou seus discípulos

que era o Senhor – “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem,

porque eu o sou” – João 13.13. Também Sua divindade foi

reconhecida pelos seus discípulos – “E Tomé respondeu, e disselhe: Senhor meu, e Deus meu!” – João 20.28. O crente crê,

confessa e confia em Jesus Cristo como seu Senhor, Salvador

e Deus, pois disso depende a nossa salvação – “Por isso vos disse

que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou,

morrereis em vossos pecados” – João 8.24. Se num certo sentido

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O Catecismo de Heidelberg

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Jesus é o nosso irmão Primogênito, por outro é o nosso

Senhor e Deus.

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Dia do Senhor 14

P. 35: O que você confessa quando diz que Cristo “foi

concebido por obra do Espírito Santo; e nasceu da virgem

Maria”?

R.: O eterno Filho de Deus, que é e permanece

verdadeiro e eterno Deus, tomou sobre si a verdadeira

natureza humana da carne e do sangue da virgem Maria, pela

operação do Espírito Santo.

Por isso, ele é também a verdadeira semente de Davi,

semelhante a seus irmãos em tudo, porém sem pecado.

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Comentário: Aquele que é eterno e habita a eternidade

entrou no tempo; o Criador vestiu-se de criatura; o Deus

infinito e ilimitado, limitou-se a um corpo humano. O todopoderoso assume a forma de fraqueza; o Santo é feito pecado

por nós; o rico e majestoso fez-se servo humilde e pobre.

Este é o grande, maravilhoso e incompreensível mistério da

encarnação, que propiciou a nossa redenção. Conquanto o

Senhor Jesus fez-se verdadeiro homem, nunca deixou de ser

Deus. Jesus Cristo não é metade homem e metade Deus, mas

tem duas naturezas distintas: em sua deidade é verdadeiro

Deus e em sua humanidade é verdadeiro homem. Antes da

encarnação o Verbo era Deus, depois da encarnação Ele

passou a ter duas naturezas: a divina e a humana. A profecia

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O Catecismo de Heidelberg

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dizia: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem

conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel…

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está

sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso,

Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” – Isaías

7.14 e 9.6. Uma virgem teria um filho que se chamaria

Emanuel [Deus conosco]; Deus Forte; Pai da Eternidade…

Isto é, esse “Homem” que nasceria seria também Deus. Ele

era em tudo como nós, exceto em relação com o pecado – “Por

isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser

misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar

os pecados do povo… Porque não temos um sumo sacerdote que não

possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em

tudo foi tentado, mas sem pecado” – Hebreus 2.17 e 4.15.

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P. 36: Que benefício você recebe por Cristo ter sido

concebido e nascido sem pecado?

R.: Ele é nosso Mediador, e com sua inocência e perfeita

santidade, cobre aos olhos de Deus, o meu pecado, no qual

fui concebido e nascido.

————————————————————————–

Comentário: Jamais alguém pôde acusar o Senhor Jesus

de pecado, nem mesmo numa ínfima particularidade. Ele

jamais errou, nunca cometeu qualquer injustiça, nem se achou

nele desobediência ou rebeldia. Jesus nunca precisou voltar

atrás e pedir perdão ou desculpas por algo que tivesse feito ou

falado que não fosse perfeitamente justo, bom, puro, honesto

e verdadeiro – “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo,

inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que

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O Catecismo de Heidelberg

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os céus” – Hebreus 7.26. Todos os cordeiros oferecidos no Antigo

Testamento que eram uma sombra de Jesus Cristo, deveriam

ser sem defeito, quanto mais o Cordeiro de Deus que é a

realidade daqueles tipos – “O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula,

um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras” –

Êxodo 12.5. Aquele que nasceu sem pecado, cobre com seu

manto de santidade, todos que nascem em pecado mas creem

e confiam nele.

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Dia do Senhor 15

P. 37: O que você confessa quando que ele “padeceu”?

R.: Durante todo o tempo em que viveu sobre a terra, e

especialmente no final, Cristo suportou, no corpo e na alma, a

ira de Deus contra o pecado de toda a raça humana.

Assim, por seu sofrimento, como o único sacrifício de

expiação, ele redimiu o nosso corpo e a nossa alma da

condenação eterna e conquistou para nós a graça de Deus, a

justiça e a vida eterna.

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Comentário: Ninguém sofreu tanto neste mundo

quanto o Senhor Jesus Cristo. Tudo começou quando Ele

abriu mão da glória celestial para vir habitar neste mundo

caído na pessoa de um pobre galileu, sob o governo de Roma;

um ato de renúncia e abdicação que por si só lhe trouxe

sofrimento e humilhação indizíveis. Depois devemos

considerar que Ele é total, absoluta e essencialmente santo,

sendo o pecado para Ele algo que ocasiona e infringe um

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O Catecismo de Heidelberg

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desconforto, uma angústia, uma dor, tão desesperadores, que

nós como homens caídos e pecadores que somos, não temos

condições de avaliar. O profeta anunciou: “Verdadeiramente ele

tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e

nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi

ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas

iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas

pisaduras fomos sarados” – Isaías 53.4-5. Ele foi ferido e moído

não apenas no último dia, mas durante toda a sua vida aqui na

terra. Contudo o ápice do sofrimento realmente foi na cruz,

pois ali Ele recebeu sobre si o impacto da ira eterna de Deus

contra os nossos pecados. Foi na cruz que Jesus experimentou

as angústias do inferno e foi terrivelmente massacrado pelo

peso do juízo de Deus sobre os pecados da humanidade.

Sofreu as agruras do inferno para que pudéssemos gozar da

paz com Deus sendo reconciliados com Ele.

————————————————————————–

P. 38: Por que ele “padeceu sob” o julgamento de

“Pôncio Pilatos”?

R.: Embora inocente, Cristo foi condenado por um juiz

terreno, e assim ele nos livrou do severo juízo de Deus que

haveria de cair sobre nós.

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Comentário: A frase “Sob Pôncio Pilatos” situa a morte

de Jesus na história secular, que é testemunha da estada do

Filho de Deus entre nós. Também o Senhor Jesus Cristo foi

considerado inocente por Pilatos, mas ainda assim ele o

entregou para ser crucificado. Então Jesus foi condenado a

morte pelo próprio tribunal que o considerou inocente. Por

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O Catecismo de Heidelberg

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duas vezes o Juiz disse: “Não acho nele crime algum” – João 18.38 e

19.4. Sua inocência foi testemunhada pelo próprio tribunal

que o condenou. O Senhor Jesus não morreu pelos seus

pecados mas pelos nossos.

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P. 39: Há algum sentido especial em Cristo ter sido

crucificado e não ter morrido de outro modo?

R.: Sim. Por causa disso, tenho a certeza de que ele

levou sobre si a maldição que estava sobre mim, pois quem

era crucificado era maldito de Deus.

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Comentário: A lei declarava malditos todos quantos

fossem pendurados num madeiro. Para que Jesus tomasse

sobre si mesmo a maldição da queda deveria ser posto num

madeiro. Assim Ele foi feito maldição por nossa causa. Ali na

cruz Ele reverteu a queda, removendo toda maldição que

estava no mundo. Um dia veremos isso claramente, porque

muito do que Jesus conquistou na cruz e em sua ressurreição

ainda não se manifestou plenamente. Sua morte, pregado num

madeiro também cumpriu antigas profecias e do próprio

Senhor Jesus – “Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores

me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés” – Salmo 22.16; … “e

olharão para mim, a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele,

como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por

ele, como se chora amargamente pelo primogênito” – Zacarias 12.10; “E

o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem e

crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará” – Mateus 20.19. De modo

que Ele não poderia ter sido morto de outra maneira, o que o

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O Catecismo de Heidelberg

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inimigo tentou mas sem sucesso [Atirá-lo ao precipício Lucas

4.29-30; Apedrejando-o João 8.59 e 10.31].

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Dia do Senhor 16

P. 40: Por que foi necessário que Cristo se humilhasse

até a morte?

R.: Por causa da justiça e da verdade de Deus, a

satisfação pelos nossos pecados não poderia ocorrer de outra

forma senão pela morte do Filho de Deus.

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Comentário: A santa e reta justiça de Deus exige que o

pecado seja expiado com a morte – “A alma que pecar, essa

morrerá…”, “Porque o salário do pecado é a morte” – Ezequiel 18.4, 20;

Romanos 6.23. Porque o homem desobedeceu a Deus deveria

morrer. Se não ele, alguém deveria sofrer tal penalidade em

seu lugar. Deus escolheu o Seu Cordeiro e O sacrificou no

lugar do homem pecador. Só por isso Deus pode perdoar os

pecados dos filhos da queda; Ele o faz àqueles que

humildemente se chegam a Ele reconhecendo sua culpa.

Esses recebem a justiça conquistada pela morte de Jesus

Cristo; assim não precisam mais morrer eternamente. Aqueles

que supõem que para Deus é muito fácil perdoar pecados

estão enganados, porque não há nada mais difícil para Ele

fazer do que isso. Se fosse fácil para Ele perdoar, não teria

visto seu Filho sendo esmagado e moído na cruz em nosso

lugar. Esse foi o preço para que pudesse perdoar aqueles que

vêm a Ele rogando seu perdão. Também para Jesus não foi

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O Catecismo de Heidelberg

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nada fácil. A conta não ficou mais suave para Ele do que seria

para nós. Não, Ele pagou total e exatamente o que

deveríamos pagar.

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P. 41: Por que ele foi “sepultado”?

R.: O seu sepultamento testifica que ele realmente

morreu.

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Comentário: Todos os atos da redenção foram

testemunhados por muitas pessoas. Nada aconteceu em algum

lugar escondido que não pudesse ser largamente comprovado.

O nascimento de Jesus, sua vida, seus milagres, sua morte, sua

ressurreição e ascensão, tudo foi visto, conferido e

comprovado por muitas testemunhas oculares, por crentes e

até por não crentes. E quando Jesus enviou os discípulos a

pregar, disse-lhes que começassem ali mesmo em Jerusalém,

no mesmo cenário em que tudo havia acontecido. Foi o que

fizeram. Começaram a pregar que Jesus Cristo havia

ressuscitado a partir de Jerusalém. Os inimigos não poderem

negar ou desmentir a mensagem dos discípulos é prova

contundente da veracidade dos fatos.

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P. 42: Se Cristo morreu por nós, por que nós ainda

temos que morrer?

R.: A nossa morte não é o pagamento pelos nossos

pecados, mas ela põe um fim aos nossos pecados e é a entrada

para a vida eterna.

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Comentário: Nossa morte é apenas física. Aprouve a

Deus realizar em nós a redenção em duas etapas: uma no

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O Catecismo de Heidelberg

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nosso espírito, que se dá quando cremos em Cristo e o

recebemos pela fé; outra se dará quando recebermos o nosso

corpo glorificado, no último dia ou dia do Juízo Final. O

crente aqui na terra é uma alma redimida que habita um corpo

caído. Um dia esse corpo morrerá e sua alma irá para o

Senhor, onde aguardará o novo corpo, no qual viverá

eternamente com o Senhor e todos os santos. Nossa alma já

está livre do pecado para sempre, mas nosso corpo ainda

sofre as consequências da queda. Um dia nosso corpo

envelhece, adoece e morre. Então nossa alma estará livre da

presença do pecado para sempre. Um dia os dois, alma e

corpo unir-se-ão novamente e para sempre. A realidade do

não crente é diferente. Ele é uma alma não redimida vivendo

num corpo caído. Até aqui a diferença entre o não crente e o

crente é só na área espiritual, por fora nada se vê. Mas quando

o não crente vai para a sepultura, começa a grande diferença.

Sua alma não redimida será amalgamada ao pecado para

sempre e irá para o inferno. Um dia ele também terá seu

corpo de volta, mas apenas para receber a condenação e a

punição eternas que será no lago de fogo.

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P. 43: Que outros benefícios recebemos do sacrifício e

morte de Cristo na cruz?

R.: Pela morte de Cristo, a nossa velha natureza é

crucificada, morta e sepultada com ele, para que os desejos

malignos da carne não reinem mais sobre nós, e possamos

nos oferecer a ele como sacrifício de gratidão.

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Comentário: A escritura afirma que fomos substituídos

e incluídos na morte de Cristo na cruz. Quando Ele morreu,

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O Catecismo de Heidelberg

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não apenas tomou o nosso lugar como substituto, senão que

também nos fez morrer juntamente com Ele. Por isso diz:

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para

que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao

pecado” – Romanos 6.6. Fomos unidos a Cristo de forma que

tudo o que aconteceu com Ele também se deu a nós que

cremos.

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P. 44: Por que razão se acrescenta: “desceu ao inferno”?

R.: A angústia, a dor, o terror e a agonia indizíveis que

Cristo suportou em todos os seus sofrimentos, especialmente

na cruz, dão-me a certeza e consolo de que, por maiores que

sejam as minhas tristezas e tentações, ele me livrou da

angústia e do tormento do inferno.

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Comentário: As agruras que o Senhor Jesus sofreu não

podemos mensurá-las, pois foram infinitamente mais do que

qualquer mortal poderia suportar. Ele disse aos discípulos: “A

minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo”

– Mateus 26.38. Os Salmos proféticos messiânicos se

cumpriram: “Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me

surpreenderam…”, “Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do

inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza” – Salmo 18.5;

116.3. O maior sofrimento do inferno é a total e completa

ausência da graça de Deus. O Senhor Jesus experimentou essa

realidade na cruz. Nunca precisaremos experimentar o que

isto significa. Neste mundo caído, por mais que alguém sofra,

ainda há a presença da graça comum de Deus que permeia

toda a criação. Mas no inferno não há qualquer medida de

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O Catecismo de Heidelberg

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graça ou de misericórdia, ali haverá tão somente juízo, ira e

punição. Contudo, os que nele confiam não precisam mais

temer o inferno; Ele já sofreu em nosso lugar e a Justiça

Eterna jamais punirá o mesmo pecado duas vezes.

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Dia do Senhor 17

P. 45: Como fomos favorecidos com a ressurreição de

Cristo?

R.: Primeiro, pela ressurreição, Cristo venceu a morte

para nos tornar participantes da justiça que ele conquistou

para nós pela sua morte.

Segundo, pelo seu poder, nós também somos

ressuscitados para uma nova vida.

Terceiro, a ressurreição de Cristo é, para nós, a garantia

da nossa ressurreição gloriosa.

————————————————————————–

Comentário: Tudo quanto os inimigos mais queriam era

poder provar que Jesus não havia ressuscitado, justamente

pela grande importância desse ato redentivo. Se pudessem

prová-lo, abortariam o cristianismo e o matariam antes de

nascer. Aquele que havia dito ressuscitaria depois de três dias

não ressuscitara; os inimigos teriam mostrado o túmulo selado

e inviolado – “E indo eles, seguraram o sepulcro com a guarda, selando

a pedra” – Mateus 27.66; ou pior, enquanto os discípulos

anunciavam Jesus ressurreto, os adversários teriam

apresentado o Seu corpo morto. Seria o fim. Mas a história

não é essa e os fatos que ela registrou são outros. O plano do

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O Catecismo de Heidelberg

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aborto foi abortado. Qualquer um poderia correr até a

sepultura onde Ele fora posto e verificar os fatos ocorridos. A

enorme pedra que fechava a saída estava do lado com o lacre

romano violado. E ninguém foi punido por esse crime, pois

quem rompeu o lacre romano foi um anjo – “E eis que houvera

um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu,

chegou, removendo a pedra da porta, e sentou-se sobre ela” – Mateus

28.2. A sepultura estava limpa, nela não havia nem cheiro de

morte. Jesus ressuscitou! Ele não veio aqui para perder, Ele

mesmo disse: Eu venci o mundo. Quem presenciou a

ressurreição foram soldados romanos, que foram subornados

para dar uma versão pífia e infame dos acontecimentos.

Deveriam dizer que os discípulos de Jesus vieram a noite

sorrateiramente, passaram por toda a guarda romana, sem

serem vistos, pois todos os soldados dormiram ao mesmo

tempo. Então quebraram o lacre romano e rolaram a enorme

pedra da boca do sepulcro, roubaram o corpo de Jesus e

desapareceram. Tudo isto sem que alguém ouvisse qualquer

barulho. Ninguém acreditou nessa versão. Todo o esforço que

os inimigos já fizeram para tentar desmentir a ressurreição de

Jesus só faz revelar a sua importância e a proclama ainda mais

alto. Pela sua ressurreição Jesus venceu a morte, assegurando

também a nossa vitória. Quem crê e recebe Jesus Cristo

ressurreto tem em si mesmo a vida ressurreta, jamais morrerá

eternamente, a sepultura não lhe significa mais nenhuma

ameaça. Jesus fez uma promessa maravilhosa a todos os

crentes – “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda

que esteja morto, viverá” – João 11.25. Todos os que creem em

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Cristo ressuscitam duas vezes: a primeira ressurreição é em

seu espírito, quando este é vivificado pelo Espírito Santo; a

segunda ressurreição será no último dia quando seu corpo

sairá do pó e será glorificado na semelhança do corpo de

Jesus Cristo – “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também

esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso

corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu

eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” – Filipenses 3.20-

21.

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Dia do Senhor 18

P. 46: O que você confessa quando diz que Cristo “subiu

ao céu”?

R.: Que Cristo, à vista dos seus discípulos, foi levado da

terra ao céu, e que lá permanece para o nosso benefício, até

que venha novamente para julgar os vivos e os mortos.

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Comentário: Jesus veio do céu como Deus e para lá

retornou como Homem-Deus. A encarnação mudou a

história do tempo e da eternidade. Céu e terra nunca mais

foram os mesmos depois da encarnação, morte, ressurreição e

ascensão de Cristo Jesus. Hoje um Homem está assentado no

trono juntamente com Deus e reina com Ele sobre todo a

Criação – “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu

trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” –

Apocalipse 3.21. A ascensão de Jesus Cristo foi vista por

centenas de testemunhas, para que ficasse bem documentado

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O Catecismo de Heidelberg

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e comprovado mais um ato da redenção – “E, quando dizia isto,

vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o

a seus olhos” – Atos 1.9. Assim como Ele foi, também voltará

para julgar o mundo no último dia – “Esse Jesus, que dentre vós foi

recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” –

Atos 1.11; “Mas Deus… tem determinado um dia em que com justiça

há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu

certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” – Atos 17.30-31.

————————————————————————–

P. 47: Quer dizer, então, Cristo, não está conosco até a

consumação dos séculos, conforme ele nos prometeu?

R.: Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus.

Segundo sua natureza humana, ele não está mais na terra, mas

segundo sua natureza divina, majestade, graça e Espírito,

jamais se ausentou de nós.

————————————————————————–

Comentário: Um dos atributos de Cristo, que é peculiar

a Deus é a onipresença. Ele pode estar em todos os lugares ao

mesmo tempo. Podemos dizer também que todos os lugares

estão em sua presença em tempo real, isso é onisciência. Ou

ainda que seu domínio se estende sobre todos os lugares da

Criação, isso é onipotência. Ainda quando Jesus estava em

aqui na terra Ele dizia também estar no céu – “Ora, ninguém

subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no

céu” – João 3.13. Isto é só era possível porque Ele sempre foi

Deus, e, portanto, onipresente, onisciente e onipotente. Assim

Ele sempre pôde estar tanto na terra quanto no céu.

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O Catecismo de Heidelberg

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P. 48: Mas se a natureza humana não estiver presente

onde quer que a natureza divina esteja, não estariam as duas

naturezas de Cristo separadas uma da outra?

R.: De maneira nenhuma, pois a sua divindade é

ilimitada e está presente em toda parte. Por isso, conclui-se

que, apesar de sua natureza divina ultrapassar a natureza

humana que ele assumiu, ela está dentro dessa natureza

humana e a ela permanece unida como pessoa.

————————————————————————–

Comentário: As duas naturezas de Jesus Cristo são

inseparáveis, mas Ele pode manifestar-se tanto de uma quanto

de outra forma. Não podemos compreender a maneira

sobrenatural de Jesus falar e agir. Na oração sacerdotal Ele

disse não estar aqui, enquanto aqui estava – “E eu já não estou

mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti … Estando

eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Mas agora vou para

ti, e digo isto no mundo…” – João 17.11-13.

————————————————————————–

P. 49: De que modo somos abençoados com a ascensão

de Cristo ao céu?

R.: Primeiro, ele é o nosso Advogado no céu diante do

Pai.

Segundo, temos a nossa carne no céu como a garantia

segura de que ele, o nosso Cabeça, também nos levará para si,

como membros seus.

Terceiro, ele nos enviou o seu Espírito como penhor,

pelo poder do qual buscamos as coisas do alto, onde Cristo

está assentado à direita de Deus, e não as que são da terra.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Temos um representante da família

humana assentado no trono de Deus (co)reinando com Ele.

Esse mesmo é o que esteve aqui na terra e deu a sua vida em

resgate pelos nossos pecados. Sua presença ali é lembrança

contínua de nossa redenção. É como se já estivéssemos lá, e é

o que o apóstolo afirma – “E nos ressuscitou juntamente com ele e

nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” – Efésios 2.6. A

garantia de que um dia estaremos todos com Ele na glória

eterna é que nos deu como penhor o seu próprio Espírito – “…

tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da

promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da

possessão adquirida, para louvor da sua glória” – Efésios 1.13-14.

“Temos pois confiança, em que somos filhos de Deus, tendo

este penhor, que o Filho natural de Deus assumiu corpo do

nosso corpo, carne da nossa carne, ossos dos nossos ossos,

para estar unido a nós; o que nos é próprio, Ele recebeu em

sua pessoa, a fim de que, o que Ele tem de propriamente

seu, nos pertença; assim Ele fosse em comunhão conosco,

Filho de Deus e Filho do Homem. Por essa razão,

esperamos que herança a celestial será nossa, visto que o

Filho de Deus, que tem todos os direitos sobre ela, adotounos como seus irmãos” – João Calvino.

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O Catecismo de Heidelberg

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Dia do Senhor 19

P. 50: Por que se acrescenta “está sentado à mão direita

de Deus”?

R.: Porque Cristo ascendeu ao céu para manifestar-se lá

como o Cabeça da sua igreja, e é por meio dele que o Pai

governa todas as coisas.

————————————————————————–

Comentário: É do seu trono celestial que Jesus Cristo

governa este mundo e todo o universo da sua criação. Ele

disse que o Pai lhe deu toda a autoridade – “É-me dado todo o

poder no céu e na terra” – Mateus 28.18. Deus o exaltou como o

único Cabeça da Igreja, a qual governa pela Sua Palavra e Seu

Espírito Santo – “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os

mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e

poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só

neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus

pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o

seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” – Efésios 1.20-

23.

————————————————————————–

P. 51: De que maneira a glória de Cristo, nosso Cabeça,

nos beneficia?

R.: Primeiro, pelo seu Espírito Santo, ele derrama sobre

nós, seus membros, os dons celestiais.

Segundo, pelo seu poder, ele nos defende e preserva de

todos os inimigos.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Todo dom, toda bênção, toda boa dádiva

estão em Cristo. Fora dele não há bênçãos, não há dons, não

há vida, por isso, Cristo é tudo o que precisamos, pois tudo

quanto precisamos está nele. Bem como nele está a nossa

segurança e proteção. Fora de Cristo tudo é trevas, tudo é

instável, escorregadio e movediço; longe dele não há

segurança e proteção, assim os únicos que estão seguros são

aqueles que estão em suas mãos – “E dou-lhes a vida eterna, e

nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu

Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las

da mão de meu Pai” – João 10.28-29.

————————————————————————–

P. 52: Que consolo lhe dá o fato de que Cristo “há de vir

para julgar os vivos e os mortos”?

R.: Que em todas as minhas aflições e nas perseguições,

eu, de cabeça erguida e cheio de ânimo, espero vir do céu,

como Juiz, aquele mesmo que antes se submeteu ao juízo de

Deus por minha causa, e removeu de sobre mim toda a

maldição.

Ele lançará todos os seus e meus inimigos na

condenação eterna, mas levará para si mesmo, para a alegria e

glória celestiais, a mim e a todos os seus escolhidos.

————————————————————————–

Comentário: Nosso consolo é que Aquele que se

assentará no Grande Trono Branco para julgar a humanidade

é o mesmo que esteve pendurado naquela cruz no Monte

Calvário. Quem nele crê é redimido e reconciliado com Deus.

Nossa segurança é que não nos condenará visto que Ele

mesmo já nos justificou. Um dia estaremos num lugar onde

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O Catecismo de Heidelberg

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não haverá mais pecado, nem dor, nem injustiças, mas só

alegria e paz para sempre. Para os ímpios, o Juízo Final será o

começo da desgraça total e morte eterna, mas para os salvos

será o começo de uma bem-aventurança eterna. Estar em

Cristo, servi-lo em obediência e amor – eis a verdadeira

sabedoria, eis o sentido da vida.

————————————————————————–

Deus Espírito Santo e nossa Santificação

Dia do Senhor 20

P. 53: O que você crê sobre o Espírito Santo?

R.: Primeiro, creio que ele é verdadeiro e eterno Deus,

juntamente com o Pai e o Filho.

Segundo, creio que ele foi dado também a mim para,

pela verdadeira fé, me tornar participante de Cristo e de todos

os seus benefícios, para me consolar, e para permanecer

comigo para sempre.

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Comentário: Deus Pai nos falou pelo seu Filho Jesus

Cristo, revelando-se em sua Pessoa – “Ninguém conhece o Pai,

senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” – Mateus

11.27. Quando Jesus foi para o céu, o Espírito Santo veio para

a terra a fim de revelar a Pessoa de Cristo – “… aprouve a Deus,

que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua

graça, revelar seu Filho em mim…” – Gálatas 1.15-16. Só pode

conhecer a Cristo aquele a quem o Espírito Santo O revelar, e

só conhece o Pai aquele a quem Cristo O revelar. Tudo

começa com o Espírito Santo. Quando ouvimos a Palavra de

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O Catecismo de Heidelberg

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Deus, o Espírito abre o nosso entendimento espiritual e

ilumina nossa mente. Primeiro entendemos a nossa

pecaminosidade, depravação, miséria espiritual. Descobrimos

que o pecado está em nós e precisamos de socorro imediato.

Este é um sinal de que o Espírito Santo está agindo no

coração do homem. Em seguida Ele revela a Cristo e a obra

da redenção, mostrando que há esperança, que há um

caminho de volta, que há um mediador estabelecido por

Deus. Quando vimos a Cristo chegamos ao Pai, porque

adoramos o Pai na face de Cristo – “Quem me vê a mim vê o Pai; e

como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e

que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de

mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Credeme que estou no Pai, e o Pai em mim” – João 14.9-11. O Espírito

Santo não se revela a Si mesmo, mas a Cristo. Ele não fala de

Si mesmo, mas fala de tudo quanto recebeu do Pai e de Cristo.

Ele não se manifesta para glorificar-se a Si mesmo, mas a

Cristo. Contudo Ele recebe adoração, honra e glória

juntamente com o Pai e o Filho, pois onde o Pai é adorado na

face de Cristo, a Trindade Santa é adorada e servida. Deus Pai

e Deus Filho habitam o crente na Pessoa do Espírito Santo –

“Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha

palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”

– João 14.23. Essa é a maior benção e privilégio que temos –

sermos moradia de Deus – “Porque vós sois o templo do Deus

vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei

o seu Deus e eles serão o meu povo” – 2ª Coríntios 6.16. É a presença

do Espírito Santo de Deus em nós que nos assegura a

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O Catecismo de Heidelberg

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salvação eterna. Ele é o penhor que temos da parte de Deus

de que a obra será completada – “Mas o que nos confirma convosco

em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, o qual também nos selou e deu o

penhor do Espírito em nossos corações” – 2ª Coríntios 1.21-22.

————————————————————————–

Dia do Senhor 21

P. 54: O que você crê sobre “a santa Igreja católica”?

R.: Creio que, desde o começo até o fim do mundo, o

Filho de Deus reúne para si mesmo, dentre todo o gênero

humano, uma igreja eleita para a vida eterna, a qual protege e

preserva na unidade da verdadeira fé, pelo seu Espírito e pela

sua Palavra.

E creio que eu sou e serei para sempre um membro vivo

dela.

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Comentário: Deus tem um povo na terra – sua Igreja.

Embora as igrejas sejam locais no que diz respeito ao seu

governo e administração, todavia todas as igrejas locais

seguem a mesma doutrina, formando a grande Igreja católica.

Onde quer que a Palavra de Deus seja pregada, o Espírito

Santo chama e congrega aqueles que quer para que formem

ali uma congregação. Deus mesmo irá prover o governo para

aquela igreja local que é através de um conselho formado por

anciãos [presbíteros e diáconos]. A nova igreja local deve estar

unida às demais igrejas locais para que a unidade e comunhão

sejam mantidas e fortalecidas. Enquanto o mundo existir o

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O Catecismo de Heidelberg

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Senhor continuará chamando seus eleitos. Aliás, essa é a

principal razão pela qual o mundo existe.

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P. 55. O que você crê sobre “a comunhão dos santos”?

R.: Primeiro, creio que todos os crentes, juntos e cada

um em particular, como membros, como membros de Cristo,

têm comunhão com ele e participam de todos os seus

tesouros e dons.

Segundo, creio cada um tem o dever de usar os seus

dons com disposição e alegria para o benefício e o bem-estar

dos outros membros.

————————————————————————–

Comentário: A comunhão mantém a unidade da Igreja.

Cada crente individualmente é membro do corpo de Cristo e

precisa interagir com os demais membros, dando e recebendo.

O Senhor nos abençoa tanto diretamente como indiretamente

através dos nossos irmãos. Cada membro tem uma função e

todas as funções são importantes para a boa saúde do corpo.

Todos temos dons que recebemos de Deus e devemos usá-los

para edificar os demais. É uma mutualidade, onde

abençoamos uns aos outros. No corpo de Cristo ninguém é

maior ou menor, somos todos iguais. Contudo, os mais velhos

devem ensinar os mais novos, os mais experientes aconselhar

os que estão chegando, e assim por diante. Todos ocupados

com a expansão do reino de Deus na terra.

————————————————————————–

P. 56: O que você crê sobre “a remissão dos pecados”?

R.: Creio que Deus, por causa da satisfação que Cristo

realizou, não se lembrará mais dos meus pecados nem da

minha natureza pecaminosa, contra a qual devo lutar durante

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O Catecismo de Heidelberg

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toda a minha vida, mas que concederá graciosamente a justiça

de Cristo, para que eu jamais entre em condenação.

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Comentário: Deus, em Cristo, nos reconciliou consigo

mesmo – “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,

não lhes imputando os seus pecados” – 2ª Coríntios 5.19. A

encarnação, o sofrimento, a morte e ressurreição do Senhor

tiveram como fim expiar os nossos pecados e nos reconciliar

com Deus. Assim, Deus nos abençoou com seu perdão,

livrando-nos da culpa do pecado, da sua escravidão e sedução,

só restando nos livrar da presença do pecado para sempre, o

que também já está assegurado, porque nos selou com o

Espírito Santo e no-lo deu como penhor. Enquanto estamos

neste mundo estamos sujeitos a pecar mas podemos recorrer

ao trono da graça que achamos misericórdia, porque a

promessa é que jamais seremos condenados – “Portanto, agora

nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” – Romanos

8.1. E nem seremos derrotados, antes “em todas estas coisas somos

mais do que vencedores, por aquele que nos amou” – Romanos 8.37.

————————————————————————–

Dia do Senhor 22

P. 57: Que consolo lhe traz “a ressurreição do corpo”?

R.: Que depois desta vida, não apenas a minha alma,

será levada imediatamente para Cristo, meu Cabeça, mas que

também esta minha carne, ressuscitada pelo poder de Cristo,

será reunida à minha alma e feita a semelhança do corpo

glorioso de Cristo.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Imediatamente após nossos pulmões

cessarem de respirar e o nosso coração parar, nossa alma

subirá para estar com o Senhor, onde aguardaremos a

ressurreição do último dia. Naquele grande dia nosso corpo

sairá do domínio da morte, o último inimigo será vencido e

cumprir-se-á a vitória – “Ora, o último inimigo que há de ser

aniquilado é a morte… E, quando isto que é corruptível se revestir da

incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então

cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”

– 1ª Coríntios 15.26, 54. No último dia da humanidade dar-se-á

a maximização ou plenificação da redenção. Veremos a

manifestação plena do novo céu e da nova terra e os crentes

glorificados. Será revelado tudo quanto Jesus conquistou em

Sua vinda aqui – “O qual convém que o céu contenha até aos tempos

da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus

santos profetas, desde o princípio…” ; “De tornar a congregar em Cristo

todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que

estão nos céus como as que estão na terra” – Atos 3.21; Efésios 1.10.

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P. 58: Que consolo lhe traz o artigo sobre a “vida

eterna”?

R.: Já agora sinto em meu coração o princípio da alegria

eterna, pois, depois desta vida, obterei a perfeita bemaventurança que nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido

ouviu, nem o coração humano pode conceber. Uma bemaventurança para se louvar a Deus eternamente.

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Comentário: Quando falamos de vida eterna nos

referimos a certo tipo de vida e não apenas a sua duração.

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O Catecismo de Heidelberg

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Quando recebemos a Cristo como nosso Senhor e Salvador,

Ele nos dá dessa vida eterna. Ele disse que vida eterna é

conhecê-lo e ao Pai – “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti

só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” – João

17.3. Quem crê em Cristo tem a vida eterna – “Aquele que crê no

Filho tem a vida eterna…” ; “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida

está em seu Filho” – João 3.36; 1ª João 5.11. Mas também vida

eterna, é claro, se refere a eternidade que passaremos com

Deus. Em sua intercessão por nós Jesus pediu ao Pai – “E não

rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra

hão de crer em mim…” ; “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu

estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória

que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo” – João

17.20, 24. Alguém que vive neste mundo caído, rodeado de

todas as injustiças, guerra, ódio, inveja, corrupção, perversões,

fraquezas, e os demais estragos causados pelo pecado,

simplesmente não é capaz de imaginar o que será o céu. Mas

lá é o nosso destino, assegurado por Cristo.

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A Justificação

Dia do Senhor 23

P. 59: Que proveito há para você que agora crê em tudo

isso?

R.: O proveito é que, em Cristo, sou justo diante de

Deus e herdeiro da vida eterna.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Tendo crido em Cristo, Deus nos

justificou, isto é, imputou-nos a justiça de Seu Filho, a única

justiça que O satisfaz. Uma vez recebido essa justiça tornamonos aptos para o céu. Nenhum homem jamais chegará ao céu

exibindo com justiça própria. A condição para lá entrarmos é

primeiro, termos sido convidados e segundo, trajarmos as

vestes nupciais do Rei – “E os servos, saindo pelos caminhos,

ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa

nupcial foi cheia de convidados. E o rei, entrando para ver os

convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de

núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste

nupcial? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de

pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e

ranger de dentes” – Mateus 22.10-13. Essas vestes nupciais são a

justiça do Senhor Jesus Cristo.

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P. 60: Como é que você é justo diante de Deus?

R.: Somente pela verdadeira fé em Jesus Cristo. Embora

a minha consciência me acuse de haver pecado gravemente

contra os mandamentos de Deus, sem nunca ter obedecido

nem sequer um deles e de ainda ser inclinado a todo mal,

Deus, no entanto, sem que houvesse em mim qualquer mérito

próprio, somente pela sua graça, imputa-me a perfeita

satisfação, justiça e santidade de Cristo.

Deus me concede isso como se eu nunca tivesse tido

cometido pecado algum, e como se eu mesmo tivesse

cumprido toda a obediência que Cristo cumpriu por mim, se

tão somente eu aceitar esse dom crendo fielmente com o

coração.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: A justiça de Deus manifestou-se em

Cristo; ela é traduzida por justiça de Cristo. Só Ele tem a

justiça aceita para a nossa salvação; de fato Ele é a nossa

justiça, a qual recebemos pela fé. A justificação é um dom, a

fé é outro; assim somos justificados graciosamente. De que

outra forma alguém poderia ser justificado? Somos todos

quais mendigos necessitados diante de Deus; só obtemos algo

dele se Ele nos der. Mas aqueles a quem o Senhor contempla

com Seu precioso dom, é declarado justo, como se jamais

houvesse pecado, antes houvesse cumprido e obedecido toda

a lei. Isto é a verdadeira felicidade – ser perdoado por Deus e

recebido em Sua Família Real.

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P. 61: Por que você diz que é justo somente pela fé?

R.: Eu digo isso não porque sou agradável a Deus graças

ao valor da minha fé, pois somente a satisfação, a justiça e a

santidade de Cristo é a minha justiça diante de Deus.

É somente pela fé posso receber e fazer dessa justiça a

minha própria justiça.

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Comentário: É pela fé que recebemos tudo quanto

Deus nos prometeu, contudo a fé é apenas o meio pelo qual

entramos na terra da promissão. Tudo quanto Cristo fez,

cumprindo a justiça de Deus e obedecendo perfeitamente sua

santa Lei, foi creditado em nossa conta; só por isso é que

fomos aceitos. Logo, o valor não está em nossa fé, e sim na

obra de Cristo. Como posso não descansar na suficiência do

sacrifício de Cristo, uma vez que a justiça de Deus foi

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O Catecismo de Heidelberg

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satisfeita por Ele? Por em dúvida tudo quanto Deus falou e

realizou em nosso favor, seria ofensivo e blasfemo.

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Dia do Senhor 24

P. 62: Mas por que as nossas boas obras não nos podem

ser a nossa justiça diante de Deus ou ao menos parte dessa

justiça?

R.: Porque a justiça que pode subsistir diante o juízo de

Deus deve ser absolutamente perfeita e totalmente de acordo

com a sua a lei; entretanto, até mesmo as nossas obras nesta

vida são todas imperfeitas e contaminadas com o pecado.

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Comentário: A única justiça que satisfaz o padrão de

Deus é a Sua própria. Nenhuma criatura tem justiça suficiente

e eficiente para subsistir perante o Seu trono. Sendo assim, as

nossas melhores obras são imperfeitas e contaminadas – “Mas

todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo

da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas

iniquidades como um vento nos arrebatam” – Isaías 64.6. Isso não

significa que Deus não se agrade de boas obras, ao contrário,

todos devemos praticá-las. Contudo, que ninguém tenha a

intenção de negociar com Deus a questão dos seus próprios

pecados. Desse assunto apenas o Senhor Jesus Cristo pode

tratar e Ele o fez quando morreu na cruz do Calvário em

nosso lugar.

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P. 63: Se as nossas boas obras não merecem nada, por

que Deus promete recompensá-las, nesta vida e na futura?

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O Catecismo de Heidelberg

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R.: Essa recompensa não é por mérito, mas é um dom

da graça.

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Comentário: Naturalmente, como já dissemos, a boas

obras agradam a Deus. Todos deveriam praticar apenas boas

obras e nunca más obras. Quem vive praticando o que é bom

é como um agricultor que sempre planta boas sementes –

deverá colher coisas boas. Quem semeia o mal colhe coisas

más. Contudo Deus já deu o veredito para aqueles que não

creem em Cristo: já estão condenados – “Quem crê nele não é

condenado; mas quem não crê já está condenado; porquanto não crê no

nome do Unigênito Filho de Deus – João 3.18.

Isto quer dizer que nenhuma justiça será aceita diante do Seu

tribunal a não ser a justiça de Cristo, e nenhuma boa obra será

considerada naquele dia a não ser a obra de Cristo. Mesmo os

galardões dos santos serão apenas dons graciosos de Deus.

Galardão é Deus coroando Suas próprias obras nas vidas dos

Seus filhos. Isto porque, quando fazemos coisas boas é

porque o Espírito Santo está agindo em nós, brecando-nos

em direção ao mal e nos motivando ao bem. Do contrário

jamais faríamos qualquer bem. E mesmo sendo regenerados

pelo Espírito Santo, ainda conseguimos contaminar as boas

obras que Ele opera em nós e por nosso meio.

————————————————————————–

P. 64: Esse ensinamento não torna as pessoas

descuidadas e ímpias?

R.: Não, pois é impossível que os que são enxertados em

Cristo pela verdadeira fé não produzam frutos de gratidão.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Os anistiados por Jesus Cristo têm o

coração cheio de gratidão e desejam servi-lo como resposta

ao Seu imenso amor. É impossível aqueles que foram amados

não amar Aquele que os amou sendo nós ainda pecadores –

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por

nós, sendo nós ainda pecadores” – Romanos 5.8. Não há como

mudar a natureza da árvore. Ela sempre dará fruto ou não de

acordo com sua natureza. Quem tem a nova vida de Cristo

implantada em si, produzirá os frutos espirituais oriundos

dessa vida. O ímpio o é por natureza, assim também o

piedoso. Cada qual comprova sua natureza pelos seus frutos.

————————————————————————–

A Palavra e os Sacramentos

Dia do Senhor 25

P. 65: Visto que somente a fé é o que nos torna

participantes de Cristo e de todos os seus benefícios, de onde

vem esta fé?

R.: Vem do Espírito Santo, que a opera em nosso

coração pela pregação do evangelho, e a fortalece pelo uso

dos sacramentos.

————————————————————————–

Comentário: A fé é um dom precioso de Deus que nos

dá acesso à graça onde temos a plena redenção: justificação,

regeneração, reconciliação, santificação, adoção e perseverança

até a morte. A fé é um sentido espiritual que abre a porta da

alma para compreendermos e recebermos os benefícios da

obra de Cristo. Para o homem natural o evangelho não passa

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O Catecismo de Heidelberg

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de uma linda história, mas para o homem de fé o mesmo

evangelho é o poder de Deus para sua salvação, porque ele vê

o que o homem natural não pode ver. Um homem natural lê a

Bíblia e não enxerga o plano da redenção. Para ele a Bíblia é

uma grande parábola; é como se fosse um enigma código de

barras ou num QRCode. Mas o homem espiritual possui a fé

que funciona como o leitor e decodificador; ele vê Cristo em

cada parte da Bíblia. Isto é o que o que o Espírito Santo faz

através da fé: abre uma janela interior no nosso coração e a

luz entra na nossa alma dissipando as trevas. Essa fé salvífica

é produzida em nós por obra do Espírito Santo quando

ouvimos o evangelho. Sempre que comemos e bebemos da

mesa do Senhor, na comunhão da igreja, nossa fé é

fortalecida. De um modo geral todas as bênçãos da graça

fortalecem nossa confiança e afirmam nossa segurança no

Senhor.

————————————————————————–

P. 66: O que são sacramentos?

R.: Os sacramentos são sinais e selos santos e visíveis.

Foram instituídos por Deus para que, pelo uso deles, ele

pudesse, o mais claramente possível, nos declarar e selar a

promessa do evangelho.

E esta é a promessa: que Deus nos concede

graciosamente perdão de pecados e vida eterna por causa do

único sacrifício de Cristo ofertado na cruz.

————————————————————————–

Comentário: Chamamos sacramentos, as ordenanças

que o Senhor instituiu e deixou para a Igreja cumprir

enquanto estiver na terra, até a Sua volta. Eles são os sinais

visíveis da redenção que Cristo nos propiciou, morrendo na

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O Catecismo de Heidelberg

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cruz. Esses sinais exteriores apontam para a realidade interior

que o Espírito Santo operou em nós. Não são os selos

externos que asseguram a salvação e sim a sua

correspondência interior, que é a obra do Espírito Santo. Mas,

como diz o Catecismo, os selos garantem que estamos na

esfera das promessas. Quem crer firmemente e receber o selo

exterior terá sua correspondência em si.

————————————————————————–

P. 67: Então, tanto a Palavra quanto os sacramentos têm

por objetivo direcionar a nossa fé para o sacrifício de Jesus

Cristo na cruz como a única base para a nossa salvação?

R.: Sim, pois o Espírito Santo nos ensina no evangelho e

nos garante pelos sacramentos que toda a nossa salvação

baseia-se no sacrifício único de Cristo por nós na cruz.

————————————————————————–

Comentário: Nosso recebimento dos sacramentos

fortalece nossa fé porque traz à nossa memória tudo quanto

Cristo realizou por nós. Cada vez que vemos um batizado ou

que participamos da mesa do Senhor, lembramos que somos

filhos da Aliança e que somos selados com o Espírito Santo

para a redenção eterna. A presença do Senhor está nos

sacramentos; não nos elementos físicos mas em Espírito

conosco.

————————————————————————–

P. 68: Quantos sacramentos Cristo instituiu na nova

aliança?

R.: Dois: o santo batismo e a santa ceia.

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Comentário: O batismo foi instituído em lugar da

antiga circuncisão e a Santa Ceia no lugar da antiga Páscoa.

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O Catecismo de Heidelberg

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Para o batismo usamos apenas a água. Para a Ceia usamos o

pão e o vinho. Nenhum outro elemento físico deve ser usado

para simbolizar alguma coisa espiritual, apenas esses três

elementos.

————————————————————————–

O Santo Batismo

Dia do Senhor 26

P. 69: De que modo o santo batismo lhe faz saber e lhe

assegura que o único sacrifício de Cristo na cruz lhe

beneficia?

R.: Do seguinte modo: Cristo instituiu esse lavar exterior

e, com ele, deu a promessa de que, tão certo como a água

remove a sujeira do corpo, assim também o seu sangue e

Espírito removem a impureza da minha alma, isto é, todos os

meus pecados.

————————————————————————–

Comentário: O batismo é o sinal exterior, no nosso

corpo, de uma realidade interior, no nosso espírito. O efeito

da água por fora aponta para a ação do Espírito Santo por

dentro – lavar, limpar, purificar – “E da parte de Jesus Cristo… que

nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados…” –

Apocalipse 1.5. Apenas o selo exterior não salva, mas ele

assegura que aquela pessoa está na esfera das promessas da

Aliança de Deus. O tal tem um privilégio que não é oferecido

a todos, mas aos que Deus escolhe.

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P. 70: Que significa ser lavado com o sangue e o Espírito

de Cristo?

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O Catecismo de Heidelberg

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R.: Ser lavado com o sangue de Cristo significa receber

de Deus o perdão de pecados, por meio da graça, por causa

do sangue de Cristo derramado por nós em seu sacrifício na

cruz.

Ser lavado com seu Espírito significa renovado pelo

Espírito Santo e santificado para sermos membros de Cristo,

para que morramos mais e mais para o pecado e vivamos uma

vida santa e irrepreensível.

————————————————————————–

Comentário: Há muitas maneiras de expressar a mesma

realidade, isto é, o fato de que em Cristo fomos perdoados,

justificados, santificados, aceitos, como está escrito: “… mas

haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido

justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” – 1ª

Coríntios 6.11. Através de seu sacrifício na cruz, Jesus Cristo

nos tornou propícios a Deus. A obra de Cristo na cruz foi

única, completa, perfeita e eterna; contudo em nós ela é

aplicada a cada dia pelo seu Espírito que em nós habita e nos

traz à memória os atos da redenção. Pelo fato de habitarmos

num corpo caído [ainda não redimido] que se adéqua muito

bem ao sistema deste mundo caído, precisamos do Espírito

Santo para mortificar todos os desejos, cobiças,

concupiscências, impulsos, inclinações e motivações carnais

que ainda tentam nos influenciar. O verdadeiro crente leva

muito a sério essa luta e o Senhor o faz mais que vencedor em

todas essas coisas.

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O Catecismo de Heidelberg

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P. 71: Onde Cristo prometeu que nos lavaria com o seu

sangue e Espírito tão certo como somos lavados com a água

do batismo?

R.: Na instituição do batismo, onde ele afirma: “Ide,

portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do

Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19).

“Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será

condenado” (Marcos 16:16).

Essa promessa se repete onde a Escritura chama o

batismo de lavar regenerador (Tito 3:5) e de purificação dos

pecados (Atos 22:16).

————————————————————————–

Comentário: Os sacramentos são instituições e

ordenanças do Senhor, portanto sua autoridade é implícita.

Na Antiga Aliança Ele havia instituído a circuncisão e a

páscoa, ambos com derramamento de sangue. Na Nova

Aliança Ele instituiu o batismo e a ceia, agora sem sangue

derramado, pois o Cordeiro de Deus havia chegado para se

oferecer a si mesmo num único e eterno sacrifício. Nosso

Senhor tanto ordenou que os discípulos fossem batizados

com água quanto prometeu que eles seriam batizados com o

Espírito Santo. O efeito purificador da água no corpo aponta

para a lavagem do Espírito Santo na alma. Por isso Ananias

disse a Paulo: “E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e

lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” – Atos 22.16.

Claro está que ele não estava atribuindo qualquer poder

inerente a água do batismo, mas estava associando esse selo

exterior com a sua correspondência interior. A água não

purifica o espírito, o batismo não regenera e nem mesmo

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O Catecismo de Heidelberg

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assegura por si só a salvação. Contudo, é o sinal que Deus

coloca sobre os filhos da Aliança. O fato de Deus enviar o

evangelho à uma casa já é uma grande bênção, pois ali os céus

se abriram e Deus está chamando à reconciliação. Quem

souber apreciar essa bênção e privilégio alcançará

misericórdia.

————————————————————————–

Dia do Senhor 27

P. 72: Então, esse lavar exterior com água por si mesmo

remove os pecados?

R.: Não, pois somente o sangue de Jesus Cristo e o

Espírito Santo nos purificam de todo pecado.

————————————————————————–

Comentário: Nunca elementos materiais tiveram

qualquer poder espiritual, mas apenas apontam para a obra do

Espírito Santo e a representam. Assim era com elementos

usados na Antiga Aliança [sangue, água, óleo, incenso, fogo]

assim é na Nova Aliança. Não há qualquer poder na água do

batismo, como não há nenhum poder no pão e no vinho da

eucaristia. A água nos remete à lavagem que o Espírito Santo

operou em nossas vidas, purificando as nossas almas de toda

contaminação do pecado. O crente autêntico teve sua alma

lavada, apenas seu corpo continua sob os efeitos da queda,

mas sua alma foi redimida, liberta – “Se, pois, o Filho vos libertar,

verdadeiramente sereis livres” – João 8.36. Então, não há elementos

físicos que sejam purificadores; a água que lava e regenera é o

Espírito Santo.

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O Catecismo de Heidelberg

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P. 73: Então, por que o Espírito Santo chama o batismo

de “lavar regenerador” e de “purificação dos pecados”?

R.: Deus fala assim por razões muito importantes. Ele

nos quer ensinar que o sangue e Espírito de Cristo removem

os nossos pecados, assim como a água remove a sujeira do

corpo. Porém, ainda mais importante, ele nos quer assegurar

por meio dessa garantia e sinal divinos que somos tão

verdadeira e espiritualmente purificados dos nossos pecados,

assim como somos fisicamente lavados com a água.

————————————————————————–

Comentário: O selo exterior está intimamente ligado

com a correspondência interior. Quem recebe o selo físico é

porque tem a promessa de Deus e Ele nunca falha. Se aquele

que foi selado confiar e confessar sua fé no Senhor, estará

salvo – “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel

é o que prometeu” – Hebreus 10.23. Todos quantos foram selados

exteriormente devem confiar inteiramente no Senhor Jesus

Cristo para sua salvação. Esses estão mais perto do que os que

nunca receberam o selo.

————————————————————————–

P. 74: As crianças pequenas também devem ser

batizadas?

R.: Sim. Assim como os adultos, as crianças pertencem à

aliança e à Igreja de Deus.

Através do sangue de Cristo, a redenção do pecado e o

Espírito Santo, que opera a fé, são prometidos a elas, da

mesma forma que aos adultos.

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O Catecismo de Heidelberg

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Portanto, por meio do batismo, como sinal da aliança,

elas devem ser enxertadas na Igreja de Cristo e distinguidas

dos filhos dos incrédulos.

Na antiga aliança, isso era feito pela circuncisão, que, na

nova aliança, foi substituída pela instituição do batismo.

————————————————————————–

Comentário: Se entendermos que a antiga circuncisão foi

substituída pelo batismo, como de fato foi, então

naturalmente que as crianças devem receber agora o batismo.

A circuncisão era realizada no oitavo dia de vida e indicava

que aquele indivíduo era um filho da Aliança e tinha sobre si

as promessas e as obrigações do Pacto. A marca divina

autentica e diferencia os filhos da Aliança dos demais, revela

seu status e mostra sua relação com o verdadeiro Deus. A

Igreja do Novo Testamento não é algo totalmente novo no

sentido que nada tem a ver com a antiga Igreja. Ao contrário,

o apóstolo diz que o tronco é o mesmo, e que nós fomos

enxertados onde eles estavam – “E se alguns dos ramos foram

quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito

participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os

ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a

raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse

enxertado… Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra

a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são

naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!” – Romanos 11.17-

19, 24. Deste modo há uma continuidade da comunidade de

Israel, que agora inclui também os gentios. Somos os filhos de

Jafé habitando nas tendas de Sem – “Portanto, lembrai-vos de que

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O Catecismo de Heidelberg

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vós noutro tempo éreis gentios na carne… Que naquele tempo estáveis

sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças

da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora

em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo

chegastes perto… Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros,

mas concidadãos dos santos, e da família de Deus” – Efésios 2.11-13,

19. Nós fomos chamados a participar de um povo que já

existia, portanto tinha suas leis e tradições. A circuncisão era

uma prática desde os primórdios daquele povo. Apenas o selo

foi mudado, agora ele não tem derramamento de sangue, mas

no mais tudo continua como no passado, tendo sido ainda

ampliada, agora também as mulheres recebem o selo, o que

não acontecia na Igreja antiga. O quinto mandamento é

direcionado primeiramente à todos os filhos; por isso diz:

“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na

terra que o SENHOR, teu Deus, te dá” – Êxodo 20.12. Deus se

dirige às crianças como membros da Aliança da mesma forma

que se dirige aos seus pais – “Vós, filhos, sede obedientes a vossos

pais no Senhor, porque isto é justo… E vós, pais, não provoqueis à ira a

vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” –

Efésios 6.1, 4. “Vós, filhos” e “Vós, pais” significa que todos

são membros da Igreja e todos estão na esfera das promessas

– “Porque a promessa vos diz respeito a vós, [e] a vossos filhos…” – Atos

2.39. Se as crianças não fossem consideradas membros da

Congregação não poderiam ser circuncidadas nem batizadas.

Por isso hoje usar a expressão “batismo infantil” tem o

mesmo sentido de um israelita no passado usar “circuncisão

infantil”. É quase redundante, porque a circuncisão só era

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O Catecismo de Heidelberg

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feita em adulto se fosse um prosélito e o batismo só deve ser

feito em adulto só se nunca pertenceu ao Israel de Deus.

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A Santa Ceia

Dia do Senhor 28

P. 75: De que modo a santa ceia lhe faz saber e lhe

assegura que você tem parte no único sacrifício de Cristo na

cruz e em todos os seus dons?

R.: Do seguinte modo: Cristo ordenou-me, e a todos os

crentes, comer do pão partido e beber do cálice, em sua

memória.

Juntamente com esse mandamento ele deu as seguintes

promessas:

Primeira, tão certo como vejo com os meus olhos o pão

do Senhor partido por mim e o seu cálice dado a mim, assim

também foi o seu corpo ofertado por mim e o seu sangue

derramado por mim na cruz.

Segunda, tão certamente quanto recebo das mãos do

ministro e provo com a minha boca o pão e o cálice do

Senhor como sinais seguros do corpo e do sangue de Cristo,

assim também ele mesmo, com o seu corpo crucificado e o

seu sangue derramado, alimenta e nutre a minha alma para a

vida eterna.

————————————————————————–

Comentário: Há uma força muito grande nas palavras do

Senhor Jesus: “Tomai, comei, isto é o meu corpo… E, tomando o cálice,

e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu

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O Catecismo de Heidelberg

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sangue” – Mateus 26.26-28. “Meu corpo”, “meu sangue”.

Todos sabemos que naquela hora o pão não foi transformado

na carne de Cristo e nem o vinho em seu sangue, senão isto

teria sido registrado pelos escritores sagrados. O pão

continuou sendo essencialmente pão e o mesmo se deu com o

vinho. A substância dos elementos não foi alterada. Contudo

cada participante experimentou uma íntima comunhão com o

corpo de Cristo e seu sangue. Não foi uma refeição comum, e

sim havia algo de espiritual presente ali, não nos elementos

físicos obviamente, mas no momento da comunhão. Assim

quando participamos da ceia do Senhor, tomamos o pão e o

cálice e, pela fé, com os olhos da alma, vemos o corpo e o

sangue de Cristo ali representados. O apóstolo adverte a

qualquer que se chega à mesa do Senhor, que o faça com fé,

com discernimento e temor; sem isso estará comendo e

bebendo para sua própria condenação – “Portanto, qualquer que

comer este pão, ou beber o cálice do SENHOR indignamente, será

culpado do corpo e do sangue do SENHOR. Examine-se pois o homem

a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que

come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação,

não discernindo o corpo do SENHOR. Por causa disto há entre vós

muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” – 1a

 Coríntios 11.27-30.

————————————————————————–

P. 76: O que significa comer o corpo crucificado de

Cristo e beber seu sangue derramado?

R.: Primeiro, aceitar de todo coração todo o sofrimento

e morte de Cristo, e assim receber o perdão dos pecados e a

vida eterna.

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O Catecismo de Heidelberg

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Segundo, ser unido cada vez mais ao santo corpo de

Cristo pelo Espírito Santo, que vive tanto nele quanto em nós.

Portanto, embora Cristo esteja no céu e nós estejamos na

terra, somos carne da sua carne e osso dos seus ossos, e

vivemos eternamente e somos governados por um único

Espírito, assim como os membros do nosso corpo o são por

uma única alma.

————————————————————————–

Comentário: Comemos do corpo e bebemos do sangue

de Cristo não apenas diante da mesa do Senhor, mas devemos

fazê-lo todos os dias, porque comer e beber é receber da seiva

da videira. Precisamos alimentar a nossa alma diariamente e

não apenas uma vez por semana ou mês. Contudo, participar

da mesa do Senhor com a irmandade é algo insubstituível. Ao

redor da mesa do Senhor expressamos nossa comunhão e

unidade indivisível para a glória de Deus. Cristo é o nosso

alimento contínuo.

————————————————————————–

P. 77: Onde foi que Cristo prometeu que ele quer

alimentar e refrigerar os crentes com seu corpo e seu sangue

tão certamente quanto eles comem do pão partido e bebem

do cálice?

R.: Na instituição da ceia do Senhor: “O Senhor Jesus, na

noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e

disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de

mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o

cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto,

todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as

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O Catecismo de Heidelberg

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vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do

Senhor, até que ele venha” (1ª Coríntios 11:23-26).

O apóstolo Paulo já havia se referido a essa promessa,

quando disse: “Porventura o cálice da bênção que abençoamos, não é

a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a

comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos

unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único

pão” (1ª Coríntios 10:16,17).

————————————————————————–

Comentário: O alimento que o corpo e o sangue de

Cristo significam para nós são muito mais reais e mais

importantes do que o pão material. Ele mesmo disse: “Este é o

pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o

pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para

sempre: e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do

mundo. Disputavam pois os judeus entre si, dizendo: Como nos pode

dar este a sua carne a comer? Jesus pois lhes disse: Na verdade, na

verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e

não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come

a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o

ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é

comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha

carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o

Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se

alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu: não

é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram: quem comer

este pão viverá para sempre” – João 6.50-58. O pão material só

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O Catecismo de Heidelberg

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serve para nos manter vivos neste mundo – “Os alimentos são

para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém,

aniquilará tanto um como os outros” – 1ª Coríntios 6.13. Mas Cristo

nos dá aos seus filhos o alimento espiritual para suas almas,

que os nutrirá para a eternidade – quem comer este pão viverá

para sempre.

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Dia do Senhor 29

P. 78: Então, o pão e o vinho são transformados no

corpo e sangue de Cristo?

R.: Não.

Do mesmo modo que a água do batismo não se

transforma no sangue de Cristo, nem é a própria purificação

dos pecados, mas é simplesmente um sinal e uma garantia

disso da parte de Deus, assim também o pão na ceia do

Senhor não se transforma no próprio corpo de Cristo,

embora seja chamado de corpo de Cristo, conforme a

natureza e o uso dos sacramentos.

————————————————————————–

Comentário: O Senhor Jesus deu aos seus discípulos o

pão e o cálice e disse: “Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando

o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é

o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por

muitos, para remissão dos pecados” – Mateus 26.26-28, mas em

seguida afirmou: “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto

da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu

Pai” – v. 29. Ele havia acabado de dizer do vinho: “isto é o

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meu sangue”, para logo em seguida dizer: “este fruto da

vide”. Por que? Obviamente porque o vinho nunca sofreu

qualquer mudança em sua essência, continuava sendo o fruto

da videira, e assim também o pão. Assim a transubstanciação

é uma fraude e falso ensino.

————————————————————————–

P. 79: Por que, então, Cristo chama o pão “seu corpo” e

o cálice de “seu sangue” ou de “a nova aliança no seu

sangue”, e por que Paulo fala da “comunhão do corpo e do

sangue de Cristo”?

R.: Cristo fala dessa maneira por um motivo importante:

Ele quer nos ensinar pela sua ceia que, do mesmo modo

como o pão e o vinho nos sustentam a vida temporal, assim

também o seu corpo crucificado e o seu sangue derramado

são o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida de nossa alma

para a vida eterna.

E, ainda mais, por esse sinal e garantia visíveis ele nos

quer assegurar: primeiro, que pela operação do Espírito Santo

nós participamos do seu verdadeiro corpo e sangue, tão certo

como recebemos com a nossa boca esses santos sinais em

memória dele; segundo, que todo o seu sofrimento e

obediência são nossos, tão certo como se nós mesmos

tivéssemos sofrido e pago por nossos pecados.

————————————————————————–

Comentário: O pão é um alimento material e alimenta

nossos corpos, bem como o vinho. Eles representam o corpo

e o sangue de Cristo, os quais alimentam nossas almas.

“Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do

sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do

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O Catecismo de Heidelberg

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corpo de Cristo?” – 1ª Coríntios 10.16. O Senhor Jesus não poderia

dar a todos os crentes de todos os tempos Sua própria carne a

comer. Já no Antigo Testamento proveu um tipo: os

sacrifícios dos cordeiros; no Novo Testamento, após Ele

mesmo haver sido sacrificado, deu-nos o pão e vinho como

símbolos. Mas tanto os crentes da Antiga Aliança

comungavam, quanto os da Nova aliança comungam

verdadeiramente com o corpo e o sangue do Cordeiro de

Deus.

————————————————————————–

Dia do Senhor 30

P. 80: Qual a diferença entre a ceia do Senhor e a missa

do papa?

R.: A ceia do Senhor nos testifica, primeiramente, que

temos o perdão completo de todos os nossos pecados pelo

único sacrifício de Jesus Cristo, que ele mesmo, uma vez por

todas, realizou na cruz; em segundo lugar, que pelo Espírito

Santo somos enxertados em Cristo, o qual está agora em seu

corpo verdadeiro, à mão direita do Pai, e é onde ele quer ser

adorado.

No entanto, a missa ensina, primeiro, que nem os vivos

nem os mortos têm o perdão de pecados por meio do

sofrimento de Cristo, se ele não ainda sacrificado diariamente

em favor deles pelos sacerdotes; e, segundo, que Cristo está

presente corporalmente na forma do pão e do vinho, e neles

deve ser adorado.

82

O Catecismo de Heidelberg

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A missa, portanto, não é outra coisa senão a negação do

único sacrifício e sofrimento de Jesus Cristo, e é uma idolatria

maldita.

————————————————————————–

Comentário: A missa é uma invenção humana,

absolutamente inútil, perniciosa, que não tem qualquer

respaldo na Palavra de Deus, nem na tradição apostólica. Em

lugar algum das Escrituras encontramos que a eucaristia seja

uma repetição nem uma continuidade do sacrifício de Cristo,

nem que haja uma incorporação de Cristo nos elementos

consagrados. Os sacrifícios repetidos eram feitos na era das

figuras [Antigo Testamento], que passou. E mesmo aqueles

sacrifícios eram apenas tipos do verdadeiro. Hoje, na era

cristã, rememoramos o verdadeiro sacrifício feito por Cristo

uma única vez. Seu sacrifício foi único, eficaz, suficiente,

poderoso, de valor eterno. Jamais será repetido. Se pão e

vinho, usados na eucaristia, fossem transformados em sua

substância, haveria no mínimo, um ensino apostólico sobre

isso. Não existe esse ensino, porque isso é completo absurdo.

Nem mesmo quando o Senhor instituiu a Ceia isso aconteceu,

senão tal sinal teria sido descrito pelos escritores sagrados e

inspirados. Transubstanciação, consubstanciação são

pensamentos humanos. Não é tão difícil entender que quando

o Senhor Jesus disse que nos daria sua carne e seu sangue, não

estava dizendo que cada discípulo seu deveria literalmente

comer sua carne e beber o seu sangue. É muito óbvio que o

Senhor estava falando de uma maneira figurada e espiritual.

Isso posto, agora, não podemos fazer como alguns que se

ancoram em outro extremo, dizendo que na Ceia do Senhor

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O Catecismo de Heidelberg

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não há nada além de pão e vinho. Também não é assim. Há

muito mais que isso. Conquanto não haja qualquer virtude

inerente aos elementos em si, no momento da ceia o Senhor

mesmo está conosco e nos abençoa com as bênçãos da sua

graça. Naquela hora o Espírito Santo reaviva em nossa

memória todos os privilégios que desfrutamos como filhos da

Aliança: perdão, reconciliação, justificação, santificação,

adoção e glorificação. E nós adoramos, não os elementos da

ceia, claro, mas o glorioso Rei que está no céu e em cuja

presença estamos.

————————————————————————–

P. 81: Quem deve vir à mesa do Senhor?

R.: Aqueles que, verdadeiramente, estão descontentes

consigo mesmos por causa dos seus pecados e que, mesmo

assim, confiam que eles lhes foram perdoados, e que o mal

que ainda resta neles está coberto pelo sofrimento e morte de

Cristo, e que também desejam, cada vez mais, fortalecer a sua

fé e corrigir a sua vida.

Mas os hipócritas e os que não se arrependem comem e

bebem juízo para si mesmos. se aborrecem de si mesmos por

causa dos seus pecados, mas confiam que estes lhes foram

perdoados por amor de Cristo e que, também, as demais

fraquezas são cobertas por seu sofrimento e sua morte; e que

desejam, cada vez mais, fortalecer a fé e corrigir-se na vida.

Mas os hipócritas e os que não se arrependem, comem e

bebem juízo para si mesmos.

————————————————————————–

Comentário: Naturalmente que a Ceia do Senhor é para

os arrependidos, humilhados e quebrantados de coração. Só

aqueles que reconheceram sua total depravação, sua

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O Catecismo de Heidelberg

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pecaminosidade e indignidade é que entenderam o sentido da

comunhão. Mas eles não param aí, antes confiam plenamente

no sacrifício de Cristo para purificá-los e têm profundo desejo

de ser cada vez mais santos. Aqueles que têm outras

motivações ou outros pensamentos ao se aproximar da mesa

do Senhor, são severamente advertidos pelo apóstolo: fazemno para sua própria condenação – “Porque o que come e bebe

indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não

discernindo o corpo do SENHOR” – 1ª Coríntios 11.29.

————————————————————————–

P. 82: Aqueles que por sua confissão e vida demonstram

que são incrédulos e ímpios devem se admitidos à ceia do

Senhor?

R.: Não, porque a aliança de Deus seria profanada e a

sua ira se acenderia contra toda a congregação.

Por isso, de acordo com o mandamento de Cristo e de

seus apóstolos, a Igreja cristã tem o dever de excluir tais

pessoas pelas chaves do reino dos céus, até que corrijam a sua

vida.

————————————————————————–

Comentário: Aqueles que, ao se aproximarem da mesa

da comunhão, fazem-no sem ter consciência do que estão

fazendo ou agem hipocritamente com desdém, muito melhor

fariam se não participassem. Ninguém desdenha das coisas

santas e fica impune. É digno de morte aquele que profana a

Aliança conscientemente. Por isso a Ceia do Senhor precisa

ser supervisionada pelo conselho da igreja. E que todos sejam

instruídos da importância de participar da mesa do Senhor,

tanto das implicações do não participar e quanto do participar

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O Catecismo de Heidelberg

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irreverentemente. Judas participou da mesa com Jesus e os

apóstolos, mas enquanto os demais foram abençoados Judas

foi amaldiçoado. Os piedosos receberam bênçãos, o ímpio

recebeu terrível maldição. Ninguém é digno de se chegar à

mesa do Senhor, por isso quem o fizer que faça-o com temor

e reverência.

————————————————————————–

Dia do Senhor 31

P. 83: O que são as chaves do reino dos céus?

R.: A pregação do santo evangelho e a disciplina

eclesiástica.

É por esses dois meios que o reino dos céus se abre para

os que creem e se fecha para os incrédulos.

————————————————————————–

Comentário: Quando a igreja prega o evangelho de

Jesus Cristo e chama os pecadores ao arrependimento está

lhes assegurando que podem entrar no reino de Deus. E

todos quantos creem em Cristo têm a promessa de serem

recebidos em seu reino. A estes as portas se abrem. Mas a

mesma chave que abre para uns também fecha para outros.

Pois muitos há que mesmo ouvindo as boas novas de

salvação, não fazem caso. São os que estão perdidos e não

sabem, estão naufragando e não têm consciência disso, por

isso não acham que precisam de um salvador. A estes as

portas se fecham. O mesmo acontece com relação a disciplina

bíblica, ela é outro meio de se fechar as portas do reino

àqueles que se rebelam contra o Rei, desobedecendo sua

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O Catecismo de Heidelberg

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Palavra e as autoridades delegadas por Ele colocadas no

governo da igreja.

————————————————————————–

P. 84: Como se abre e se fecha o reino dos céus pela

pregação do evangelho?

R.: De acordo com o mandamento de Cristo, o reino

dos céus se abre quando se proclama e se testifica

publicamente a todo crente – individual ou coletivamente –

que Deus de fato perdoou todos os seus pecados por causa

dos méritos de Cristo, sempre que aceitam a promessa do

evangelho com fé verdadeira.

O reino dos céus se fecha quando se proclama e se

testifica a todos os incrédulos e hipócritas que, enquanto não

se arrependerem, a ira de Deus e a condenação eterna

permanecem sobre eles.

Segundo esse testemunho do evangelho, Deus os julgará

tanto nesta vida quanto na vida porvir.

————————————————————————–

Comentário: Para que o pecador se alegre com as boas

novas da salvação, primeiro ele precisa saber que está perdido

e condenado. Para isto o pecador precisa ouvir a lei de Deus e

a maldição que ela lança sobre o homem que não a cumprir. A

verdadeira pregação não exclui a lei, sua justiça, seu juízo,

antes adverte o pecador sobre a condenação do pecado, que

será punido eternamente no inferno. Em seguida aponta o

caminho da salvação graciosa que está em Cristo Jesus e

revela o dom precioso que Deus dá ao pecador arrependido e

compungido. Mas aquele que rejeitar ou não conhecer esse

dom deverá arcar com todas as consequências de seus

pecados, o que é suficiente para puni-lo no inferno

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O Catecismo de Heidelberg

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eternamente. Assim a pregação tem o poder tanto de abrir

quanto de fechar as portas do reino. Por exemplo, o apóstolo

Paulo pregou em Atenas: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos

da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar,

que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com

justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso

deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” – Atos 17.30-31.

O resultado foi: “E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos,

uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.

E assim Paulo saiu do meio deles. Todavia, chegando alguns varões a

ele, creram: entre os quais foi Dionísio, areopagita, e uma mulher por

nome Dâmaris, e com eles outros” – Vers. 32-34. A pregação abriu o

reino para alguns [eles creram] e fechou para outros

[escarneceram].

————————————————————————–

P. 85: Como se fecha e se abre o reino dos céus pela

disciplina eclesiástica?

R.: De acordo com o mandamento de Cristo, aqueles

que se chamam de cristãos, mas que se mostram não-cristãos

na doutrina ou na vida, devem ser, em primeiro lugar e de

modo fraternal, admoestados mais de uma vez.

Se não abandonarem seus erros nem sua impiedade,

devem ser denunciados à igreja, isto é aos presbíteros.

Se também não derem ouvidos às admoestações deles,

serão proibidos de participar dos sacramentos e excluídos da

congregação cristã, pelos presbíteros, e do reino de Cristo,

pelo próprio Deus.

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O Catecismo de Heidelberg

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Serão novamente recebidos como membros de Cristo e

da igreja, quando prometerem e demonstrarem verdadeiro

arrependimento.

————————————————————————–

Comentário: Excluir um membro da congregação por

rebeldia, heresia, apostasia, ou outro pecado qualquer, não é

falta de amor, ao contrário, a pessoa está recebendo uma

chance para se arrepender e retomar o caminho. É um

mandamento de Deus e o Senhor faz isso porque ama os seus

filhos. A disciplina sempre visa restaurar o culpado e livrá-lo

do laço do inimigo das nossas almas, e preservar a santidade

da congregação do Senhor. Contudo se ele endurecer-se no

pecado é afastado da comunhão da irmandade

definitivamente. O processo da exclusão é estabelecido pelo

próprio Senhor: O ofensor deve ser primeiramente

admoestado, exortado, depois seu pecado deve ser exposto

diante do presbitério da igreja, em seguida exposto diante da

congregação, e finalmente o ofensor deve ser excluído da

comunhão. Poderá, ainda ouvir as pregações, mas fica

excluído da comunhão para que se envergonhe e se

arrependa. A irmandade não deve tratar o excomungado

como inimigo, mas não deve premiá-lo com sua comunhão

como se nada tivesse acontecido. Havendo sincero e

comprovado arrependimento, isto é com frutos, sempre

haverá chance de ser incluído novamente à comunhão dos

santos.

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89

O Catecismo de Heidelberg

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Parte 3 – Nossa Gratidão

Dia do Senhor 32

P. 86: Se fomos libertos da nossa miséria somente pela

graça através de Cristo, sem nenhum mérito nosso, por que

então devemos praticar boas obras?

R.: Porque Cristo, tendo nos remido pelo seu sangue,

também nos renova por seu Espírito Santo à sua imagem para

que, com toda a nossa vida, mostremo-nos gratos a Deus por

seus benefícios, e para que, pelo novo viver piedoso,

possamos ganhar nosso próximo para Cristo.

————————————————————————–

Comentário: A imagem de Deus que foi danificada pelo

pecado é restaurada na vida do regenerado e a cada dia vai

sendo aprimorada na medida em que ele cresce no Senhor –

“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a

glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma

imagem, como pelo Espírito do Senhor” – 2ª Coríntios 3.18. Esta é a

primeira razão porque o crente cresce e frutifica. Todos

quantos foram resgatados do reino das trevas e da

condenação, são gratos a Deus e produzem frutos de gratidão.

Através da nossa vida atraímos os incrédulos, por isso

também nos empenhamos mais e mais no exercício da

caridade cristã para sermos boas testemunhas de Cristo neste

mundo. Tudo quanto fazemos por Cristo e para Ele é porque

fomos salvos e estamos abençoados, nunca o contrário. Ele

nos comprou e dele somos – “Porque fostes comprados por bom

preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais

pertencem a Deus” – 1ª Coríntios 6.20. Nada temos que não

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O Catecismo de Heidelberg

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tenhamos recebido – “E que tens tu que não tenhas recebido?” – 1ª

Coríntios 4.7. E mais, toda boa árvore, necessariamente produz

bons frutos: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a

árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus

frutos; nem a árvore má dar frutos bons” – Mateus 7.17-18. Os bons

frutos acompanham, necessariamente a regeneração. Crente

que vive no pecado e más obras, é uma negação do evangelho

e da fé cristã. De um príncipe se espera nobreza, de um

cristão se espera algo melhor do que o que se vê nos homens

comuns.

————————————————————————–

P. 87: Podem ser salvo aqueles que não abandonam o

modo de viver ingrato e impenitente e não se convertem a

Deus?

R.: Não. De modo nenhum.

A Escritura diz que nenhum impuro, idólatra, adúltero,

ladrão, avarento, bêbado, maldizente, assaltante ou semelhante

herdará o reino dos céus.

————————————————————————–

Comentário: Pelos frutos se identifica a árvore. Aqueles

ramos cuja seiva de Cristo traz vida produzem os frutos

referentes a essa vida. Mas os ramos que continuam

produzindo os frutos azedos, amargos, tóxicos da antiga

árvore é porque não estão recebendo o fluxo da nova vida.

Esses ramos serão destinados ao fogo – “Eu sou a videira

verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá

fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais

fruto… Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse

dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não

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O Catecismo de Heidelberg

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estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e

lançam no fogo, e ardem” – João 15.1-6. O cristão autêntico não

vive mais para o pecado e sim para Deus, porque o Senhor

não apenas perdoou seus pecados, mas também dá-lhe poder

para não mais viver neles. Nosso Pai amoroso não entrega

seus filhos ao pecado. A santificação do cristão não é um

estágio fixo, mas é um processo contínuo, a cada dia ele cresce

e é aperfeiçoado, conformado à imagem de Jesus Cristo. De

maneira semelhante, o ímpio também não está numa

plataforma fixa, mas ele decai a cada dia sendo conformado

ao diabo, ficando mais endurecido, mais rebelde, mais

orgulhoso, mais autossuficiente.

————————————————————————–

Dia do Senhor 33

P. 88: O que é o verdadeiro arrependimento ou

conversão do homem?

R.: É a morte da velha natureza e a ressurreição da nova

natureza.

————————————————————————–

Comentário: Conversão não é o mesmo que educação

religiosa, conhecimento das doutrinas cristãs, não é adotar a

filosofia e os princípios bíblicos, ter uma boa conduta moral,

nem é estar convencido da verdade do evangelho. Engloba

tudo isso, mas vai muito além. A verdadeira conversão implica

uma morte e uma ressurreição, uma mudança radical. Muitos

dos que congregam com o povo do Pacto podem ter muitas

experiências, conhecimento doutrinário, convicção da verdade

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O Catecismo de Heidelberg

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e ainda assim estarem longe da verdadeira conversão. Isto

porque a conversão é uma mudança de coração e de natureza.

É uma experiência de morte e ressurreição, isto é o homem

velho morre e nasce outro novo, que é uma nova criação de

Deus. Com o velho homem morrem todos os antigos hábitos

e antigos valores que são substituídos por um

comportamento totalmente novo, uma nova visão da vida, um

novo propósito e estilo de vida. O novo homem é uma nova

criação de Deus. Ele nasce na família de Deus, desenvolve

uma relação filial com Deus como seu Pai e com os demais

santos como seus irmãos na fé.

————————————————————————–

P. 89: O que é a morte da velha natureza?

R.: É a profunda e sincera tristeza por termos ofendido

a Deus com os nossos pecados, e cada vez mais abominá-los

e fugir deles.

————————————————————————–

Comentário: Somente o nascido de Deus tem desejo de

se ver livre do pecado, porque o velho homem deleita-se nele

e nele está confortável. Quando o Espírito Santo vem a nós,

Ele revela a glória de Deus e a nossa natureza depravada e

perversa. Então percebemos quão grandemente temos

ofendido a Deus e quão merecedores do inferno somos.

Desde então passamos a odiar o pecado e a fazer tudo para

evitá-lo. O santo está empenhado numa luta contínua contra a

sua natureza terrena e anseia por se ver livre da presença do

pecado, o que se dará quando ele deixar este mundo para estar

com Cristo.

————————————————————————–

P. 90: O que é a ressurreição da nova natureza?

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O Catecismo de Heidelberg

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R.: É a alegria sincera em Deus por Cristo, e o amor e o

deleite de viver segundo a vontade de Deus em todas as boas

obras.

————————————————————————–

Comentário: O regenerado descobre o verdadeiro

sentido da vida que é desfrutar a Deus e glorificá-lo, e isso

enche seu coração da verdadeira paz e alegria. Ele não é alegre

porque resolveu todos os seus problemas deste mundo, mas

porque encontrou o Salvador da sua alma. Muitas vezes seus

problemas presentes aumentaram, mas a paz e a alegria que

invadiram sua alma, a comunhão com Cristo, a certeza da vida

eterna, sobrepujam em muito o desconforto que os

problemas deste mundo lhe causam. Ele descobriu que Cristo

é a Fonte de todo bem e toda provisão. De fato Cristo é tudo

que o crente necessita. Não há nada fora de Cristo que possa

trazer verdadeira alegria, consolo, paz e encorajamento. Fora

de Cristo tudo é trevas, instabilidade, movediço, desesperador;

em Cristo há luz, estabilidade, segurança, certeza de um

futuro vitorioso.

————————————————————————–

P. 91: Mas o que são as boas obras?

R.: Somente aquelas que são feitas pela verdadeira fé, em

conformidade com a lei de Deus e para a sua glória, e não

aquelas que se baseiam na nossa própria opinião ou em

preceitos de homens.

————————————————————————–

Comentário: Boas obras, segundo a Bíblia ensina, têm

origem, significado e resultado diferentes das boas ações que

são praticadas pelos homens naturais. Os homens naturais e

mesmo ímpios até praticam boas ações, ajudam seus

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O Catecismo de Heidelberg

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semelhantes, fazem benfeitorias para os necessitados.

Contudo tais obras têm motivações erradas, não glorificam a

Deus e trazem juízo sobre o praticante. Muitas vezes, eles

desejam alcançar o favor de Deus dessa forma, desprezando e

insultando assim o Salvador. Pois quem pratica boas obras

para negociar a sua salvação com Deus está desprezando o

Filho de Deus e a expiação que Ele realizou por nós; quem

agir assim será condenado por isso. Diferentemente, as obras

dos crentes têm origem em sua nova natureza, revelam um

coração regenerado, trazem glória para Deus e acumulam

galardão para os que as praticam. Por isso a Bíblia diz que

“somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais

Deus preparou para que andássemos nelas” – Efésios 2.10. Assim uma

boa obra envolve fé em Cristo, que só o salvo tem, uma

motivação correta, que não tem nenhum interesse oculto

envolvido, e um objetivo correto, que é glorificar a Deus.

————————————————————————–

Os Dez Mandamentos

Dia do Senhor 34

P. 92: O que diz a lei de Deus?

R.: “Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo”:

Prólogo: “Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do

Egito, da casa da servidão”.

Primeiro Mandamento: “Não terás outros deuses diante de

mim”.

Segundo Mandamento: “Não farás para ti imagem de

escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem

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O Catecismo de Heidelberg

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em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás

a elas, nem as servirás; porque eu o SENHOR teu Deus, sou Deus

zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta

geração daqueles que me odeiam, e faço misericórdia a milhares

daqueles que me amam, e aos que guardam os meus mandamentos”.

Terceiro Mandamento: “Não tomarás o nome do SENHOR

teu Deus em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que

tomar seu nome em vão”.

Quarto mandamento: “Lembra-te do dia do sábado, para o

santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo

dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem

tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem

o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas;

porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o

que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o

SENHOR o dia do sábado, e o santificou”.

Quinto Mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que

se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá”.

Sexto Mandamento: “Não matarás”.

Sétimo Mandamento: “Não adulterarás”.

Oitavo Mandamento: “Não furtarás”.

Nono Mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu

próximo”.

Décimo Mandamento: “Não cobiçarás a casa do teu próximo.

Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua

serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu

próximo”.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Deus começa dizendo: “Eu Sou Javé teu

Deus” e em seguida diz como deseja que seu povo viva para

Ele. A Bíblia é o livro de Deus e não um livro científico. Ela

não se propõe a explicar Deus ou sua criação, nem há nela

respostas para todas as perguntas que fizermos. Mas ela tem a

resposta para nossa necessidade espiritual. Ela responde a

pergunta que nem sempre sabemos fazer, e propõe a solução

para um problema que nem sempre temos ciência dele. O

homem natural está cego espiritualmente e não sabe quais são

seus reais problemas e suas reais necessidades. A lei de Deus

levanta a questão problemática do homem caído: ele é um

infrator que está debaixo do juízo e da condenação de Deus.

Mais dia, menos dia, ele será chamado a juízo e prestação de

contas. Se não tiver consigo Aquele que foi estabelecido

“Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” – 1ª Timóteo

2.5, receberá pelos seus pecados a eterna punição e maldição.

————————————————————————–

P. 93: Como estão divididos esses mandamentos?

R.: Em duas partes:

A primeira nos ensina como viver em relação a Deus;

A segunda, que deveres temos para com o nosso

próximo.

————————————————————————–

Comentário: Os quatro primeiros mandamentos

referem-se a nossa relação com Deus. Eles versam

basicamente sobre nosso culto a Deus, o que envolve toda a

nossa vida e nosso ser. Deus requer totalidade, pureza,

exclusividade, continuidade.

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O Catecismo de Heidelberg

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Totalidade: Como seus filhos devemos nos render a Ele

com todo o nosso ser [alma e corpo]; devemos entender que

tudo é dele – nosso tempo, família, posses, nossa vida, saúde,

toda nossa vida.

Pureza: Ele requer que sejamos puros em nossos corpos,

mentes, pensamentos, motivações, desejos e expressões; que

sejamos santos como o Senhor é santo.

Exclusividade: Deus nos quer só para si e não aceita que

nos misturemos com outros deuses ou ídolos deste mundo.

Devemos nos satisfazer totalmente em seu amor e

providência para conosco.

Continuidade: Ele nos dá esta vida para que vivamos

para o seu inteiro louvor e a vida eterna para que o sirvamos

eternamente.

A quebra desses mandamentos afeta diretamente nosso

relacionamento com o Senhor. Do quinto ao décimo

mandamento está em foco a nossa relação com o nosso

próximo. Deus exige que amemos e respeitemos o nosso

próximo como a nós mesmos. Façamos por ele tudo quanto

gostaríamos que se fizesse a nós próprios. Assim também a

infração desses mandamentos afeta nosso relacionamento

com nosso próximo.

O Senhor Jesus resumiu o Decálogo em dois grandes

mandamentos: Amar a Deus e amar ao próximo – “Amarás,

pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e

de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro

mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo

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como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” –

Marcos 12.30-31.

————————————————————————–

P. 94: O que o Senhor exige no Primeiro Mandamento?

R.: Que, por amor à minha salvação, devo evitar e fugir

de toda idolatria, feitiçaria, superstição e invocação a santos

ou a outras criaturas.

Devo corretamente conhecer o único e verdadeiro Deus,

confiar somente nele, submeter-me a ele em toda a humildade

e paciência, e esperar todo o bem somente dele. Também

devo amar, temer e honrar a Deus de todo o meu coração.

Em resumo, é preferível repudiar todas criaturas a fazer

qualquer coisa, por menor que seja, contra a sua vontade.

————————————————————————–

Comentário: Quem quer que seja salvo precisa

conhecer o verdadeiro Deus. Jesus Cristo orou assim: “E a vida

eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a

Jesus Cristo, a quem enviaste” – João 17.3. A vida eterna consiste

em conhecer a Deus na face de Cristo – “E sabemos que já o

Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que

é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus

Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” – 1ª João 5.20. O

primeiro mandamento nos ensina reconhecer que há um

único Deus verdadeiro. Portanto devemos honrá-lo, temê-lo,

adorá-lo, tendo-o na mais alta consideração e reverência. A

Ele devemos obedecer e amar com todo nosso coração, sendo

humildes diante dele, esperando e confiando em suas

promessas, agradecendo-lhe pelo seu cuidado e louvando-o

pelos seus atributos. Além do mais, nenhuma criatura tem os

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O Catecismo de Heidelberg

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atributos incomunicáveis de Deus. Nenhuma criatura é

onipotente, onisciente nem onipresente. Logo devemos dirigir

nossas preces somente a Deus através do Seu Filho, nosso

Mediador, o Senhor Jesus Cristo.

————————————————————————–

P. 95: O que é idolatria?

R.: Idolatria é ter ou inventar algo em que colocar a

nossa confiança em lugar, ou ao lado, do único e verdadeiro

Deus que se revelou em sua Palavra.

————————————————————————–

Comentário: Qualquer coisa, objeto, pessoa, práticas

religiosas que nos desviem do verdadeiro Deus é uma

idolatria; qualquer coisa, fora Deus, a que nos apeguemos

com devoção é uma idolatria; toda superstição, misticismo,

sincretismo religioso, crendice é uma forma de idolatria; o

mesmo se pode dizer da autoconfiança, ou da fé na própria

fé. Mas o mais sutil e enganoso tipo de idolatria é o deus

imaginário. Esse é o maior perigo entre os filhos da Aliança:

cultuar um deus criado pelas suas mentes. Os judeus caíram

nesse pecado muitas vezes. Ezequiel os repreendeu por isso –

“Qualquer homem da casa de Israel, que levantar os seus ídolos no seu

coração…” – Ezequiel 14.4. Ídolos no coração são deuses

imaginários, ou um falso conhecimento sobre quem Deus é.

O Senhor Jesus disse aos judeus dos seus dias que eles

supunham cultuar o verdadeiro Deus mas, de fato, não O

conheciam – “… mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós

não conheceis… não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me

conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai…” – João 7.28;

8.19. O mesmo ocorre hoje, muitos não conhecem o

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O Catecismo de Heidelberg

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verdadeiro Deus revelado nas Escrituras, com todos os seus

atributos, sua Aliança incluindo as bênçãos e as maldições,

mas pensam que Deus seja de acordo com suas suposições.

Por exemplo, é muito comum as pessoas aceitarem que Deus

demonstre amor, paciência, longanimidade e que não leve tão

a sério a questão do pecado, mas que seja complacente com

ele, fazendo vistas grossas; que seja um Deus disposto a levar

todos os homens para o céu independente do que eles façam

e de como vivam; um Deus que não condene ninguém ao

inferno; um Deus que está esperando o homem agir para

então Ele ver o que fará; um Deus que decide tudo de última

hora; ou seja, um Deus conforme a imagem do homem. Isso

é idolatria.

————————————————————————–

Dia do Senhor 35

P. 96: O que Deus exige no Segundo Mandamento?

R.: Que não façamos imagem de Deus em hipótese

alguma, nem o adoremos de modo diferente daquele que ele

nos ordenou em sua Palavra.

————————————————————————–

Comentário: É simplesmente impossível representar

Deus e sua glória por quaisquer meios humanos, sejam quais

forem. Toda tentativa nesse sentido acabaria sempre numa

grande ofensa, insulto e desprezo ao grande Criador. Então

Ele proibiu terminantemente, toda, absolutamente toda

tentativa de nossa parte em representá-lo, seja por figura,

imagem, escultura. Por isso Ele nos advertiu por Moisés:

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O Catecismo de Heidelberg

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“Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura

vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou convosco do meio do

fogo; Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem

esculpida na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou

mulher; Figura de algum animal que haja na terra; figura de alguma

ave alada que voa pelos céus; Figura de algum animal que se arrasta

sobre a terra; figura de algum peixe que esteja nas águas debaixo da

terra” – Deuteronômio 4.15-18. Através do profeta Isaías: “A quem,

pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis? O artífice

funde a imagem, e o ourives a cobre de ouro, e forja para ela cadeias de

prata… A quem, pois, me fareis semelhante, para que eu lhe seja igual?

Diz o Santo” – Isaías 40.18-19, 25. E através do apóstolo Paulo:

“Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a

divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por

artifício e imaginação dos homens” – Atos 17.29. Criar uma imagem

de Deus é roubar-lhe a glória e isso é terrível pecado.

————————————————————————–

P. 97: Então, não podemos fazer nenhum tipo de

imagem?

R.: Deus não pode e nem deve ser visivelmente

representado de nenhuma maneira. As criaturas podem ser

representadas, mas Deus nos proíbe fazer ou ter imagens

delas para adorá-las, ou para servi-lo por meio delas.

————————————————————————–

Comentário: A proibição não diz respeito a fazermos

uma representação de um animal ou mesmo o busto humano.

O que Deus proíbe é a tentativa de representá-lo através de

imagens, figuras, desenhos, esculturas, fundições e usá-los

como objetos de culto. Os romanistas, para justificar seus

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ídolos, usam dizer que Deus ordenou a confecção dos

querubins da arca ou a serpente de bronze no deserto. Porém,

os querubins foram colocados sobre a arca não para serem

adorados, menos ainda para servirem de mediadores, pois

nem mesmo nome tinham; já a serpente de bronze não era

para ser adorada e nem representava Deus. E em ambos os

casos os objetos foram fabricados sob ordens específicas de

Deus, o que muda tudo. Ainda assim, no caso da serpente

levantada por Moisés no deserto, a encontramos oitocentos

anos mais tarde, sendo venerada pelos judeus e por isso o rei

Ezequias a destruiu. Os romanistas fazem suas estátuas e as

põem no templo e lhes atribuem nomes e lhes fazem súplicas

como se as mesmas pudessem fazer qualquer mediação entre

eles e Deus. Ou então olham para suas imagens e pedem

àqueles que elas representam. Resumindo, tudo isso quebra o

segundo mandamento – “E derrubareis os seus altares, e quebrareis

as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as

imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele

lugar. Assim não fareis ao Senhor vosso Deus” – Deuteronômio 12.3-

4.

————————————————————————–

P. 98: Que dizer que não se pode tolerar as imagens nas

igrejas como “livro para os leigos”?

R.: Não, pois não devemos querer ser mais sábios do

que o próprio Deus. Ele não quer que o seu povo seja

ensinado por meio de ídolos mudos, mas pela pregação viva

da sua Palavra.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Seja por descuido, por ignorância ou por

desobediência, muitas vezes os homens ultrapassam os limites

estabelecidos por Deus em sua Palavra. Muitos parecem

querer ser mais sábios que o próprio Deus. Se Deus quis

revelar-se a nós pela sua criação e sua Palavra, não temos o

direito de acrescentar outros meios, mas sim crer que seus

meios são suficientes e poderosos para fazer cumprir seus

propósitos. A Bíblia é suficiente e não precisamos de outro

veículo – “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para

ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que

o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a

boa obra” – 2ª Timóteo 3.16-17. As imagens atrapalham em vez de

ajudar – “Que aproveita a imagem de escultura, depois que a esculpiu o

seu artífice? Ela é imagem de fundição ensina mentira… Ai daquele

que diz ao pau: Acorda! e à pedra muda: Desperta! Pode isso

ensinar?…” – Habacuque 2.18-19. Portanto devemos confiar que a

pregação e o ensino da Palavra são absolutamente suficientes

para ensinar ao cristão o caminho da vida.

————————————————————————–

Dia do Senhor 36

P. 99: O que se exige no Terceiro Mandamento?

R.: Que não blasfememos nem façamos mau uso do

Nome de Deus por maldição, perjúrio ou votos

desnecessários, e que não participemos, por omissão

silenciosa, desses terríveis pecados. Em vez disso, devemos

usar o santo Nome de Deus somente com temor e reverência,

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para que possamos confessá-lo corretamente, invocá-lo e

glorificá-lo com todas as nossas palavras e obras.

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Comentário: O nome sempre revela algo da pessoa, de

sua origem, seu caráter, sua história, sua vida. Assim também

o nome de Deus revela muito do que e de quem Ele é. E o

nome de Deus é tão santo quanto Ele próprio. Portanto seu

nome só pode ser dito solenemente, com toda reverência,

temor e cuidado. Ele se revelou a Moisés como Yahweh

[JAVÉ] e disse significar “Eu Sou o que Sou” – “E disse Deus a

Moisés: Eu Sou o Que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de

Israel: Eu Sou me enviou a vós… E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a

Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o SENHOR

[JAVÉ], não lhes fui perfeitamente conhecido” – Êxodo 3.14; 6.3. Seu

nome é para ser invocado, adorado, louvado, proclamado,

tomado em juramento, tudo isso solene e reverentemente. Os

judeus, por medo de tomar esse nome em vão, não o

pronunciavam. Em lugar de usar o nome de Deus substituíam

o tetragrama por Adonai que significa Senhor. Por isso nossas

bíblias trazem no lugar do tetragrama a palavra SENHOR.

Juntamente com o nome de Deus estão seus atributos,

seu governo, suas obras, que manifestam seu maravilhoso ser.

Por isso também jamais devemos brincar com essas coisas,

pois envolvem sua glória. Como crentes que somos, levamos

o nome e o testemunho de Deus, portanto devemos manter

um comportamento santo, reverente, solene, para que o nome

do Senhor não seja blasfemado pelos infiéis – “Porque, como está

escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” –

Romanos 2.24; “Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a

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seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a

doutrina não sejam blasfemados” – 1ª Timóteo 6.1. Aquele que

carrega sobre si o nome do Senhor deve apartar-se do pecado

para que não haja qualquer associação do santo nome com o

pecaminoso – “O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que

profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” – 2ª Timóteo 2.19.

————————————————————————–

P. 100: Será que blasfemar o nome de Deus por

juramentos e maldições é um pecado tão grande, que Deus se

ira também contra aqueles que não impedem nem proíbem

isso, o tanto quanto podem?

R.: Certamente que sim, porque nenhum pecado é maior

nem provoca mais a ira de Deus do que blasfemar o seu

Nome.

É por isso que ele ordenou que esse pecado fosse

punido com a morte.

————————————————————————–

Comentário: Não apenas devemos não dar motivo para

os infiéis zombarem do nosso Deus, mas também protestar

quando ouvirmos alguma coisa blasfema ou palavra

zombeteira com respeito ao Senhor, aos seus atributos e suas

obras. Quanto a isto o salmista nos ensina: “Bem-aventurado o

homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no

caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” –

Salmo 1.1; e o apóstolo adverte: “E não comuniqueis com as obras

infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as” – Efésios 5.11.

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Dia do Senhor 37

P. 101: Mas será que podemos, de modo piedoso, fazer

juramentos e votos em Nome de Deus?

R.: Sim, quando o governo o exige de seus súditos, ou

quando a necessidade o exige para que se guarde e se

promova a fidelidade e a verdade, para a glória de Deus e o

bem do nosso próximo.

Esse tipo de juramento tem por base a Palavra de Deus e

foi assim utilizado da maneira correta pelos santos do Velho e

do Novo Testamentos.

————————————————————————–

Comentário: A Bíblia nos ensina que nossa palavra deve

ser uma só. Nosso sim deve sim, e nosso não deve ser não –

“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto

é de procedência maligna” – Mateus 5.37. Se, contudo, uma

situação exigir de nós mais do que nossas palavras, podemos

chamar o testemunho de Deus. Isto, porém, só deve ser feito

em casos muito especiais e solenes, como, por exemplo,

quando as autoridades o exigirem de nós, ou em algum caso

muito grave para mantermos a verdade e a paz – “Porque os

homens certamente juram por alguém superior a eles, e o juramento

para confirmação é, para eles, o fim de toda a contenda” – Hebreus

6.16. Fora disso, jamais devemos pronunciar juramentos

levianos e corriqueiros.

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P. 102: Podemos também jurar pelos santos ou por

outras criaturas?

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R.: Não. Um juramento legítimo é uma invocação a

Deus para que ele, o único que conhece o coração, sirva como

testemunha da verdade e que me castigue se eu jurar

falsamente. Nenhuma criatura é digna de tal honra.

————————————————————————–

Comentário: Se jurarmos, devemos fazê-lo apenas pelo

nome do Senhor. Primeiro porque só se jura por alguém que é

maior que nós, logo jurar pelos homens ou outras criaturas

seria um pecado muito grande e insulto a Deus. Segundo,

quando tomamos Deus como testemunha, estamos apelando

para o Único que é onisciente e sabe todas as coisas. Isto o

honra e distingue acima de todas as criaturas, porque estamos

reconhecendo que somente Ele pode, não apenas

testemunhar, como também, trazer à luz todas as coisas – “E

ele [Samuel] lhes disse: O Senhor seja testemunha contra vós, e o seu

ungido seja hoje testemunha, que nada tendes achado na minha mão.

E disse o povo: Ele é testemunha” – 1º Samuel 12.5. Como crentes

em Cristo, devemos honrar nossa palavra, sermos fiéis nos

nossos contratos e compromissos, como se cada um deles

envolvesse um juramento. Agindo assim honramos o santo

nome do Senhor que está sobre nós – “E olhei, e eis que estava o

Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil,

que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai” – Apocalipse

14.1.

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Dia do Senhor 38

P. 103: O que Deus exige no Quarto Mandamento?

R.: Primeiro, que o ministério do evangelho e as escolas

cristãs sejam mantidos, e que eu, especialmente no Dia de

Descanso, seja diligente em ir à igreja de Deus para ouvir a

Palavra de Deus, participar dos sacramentos, invocar

publicamente ao Senhor e praticar a caridade cristã para com

os necessitados.

Segundo, que em todos os dias da minha vida eu cesse as

minhas más obras, deixe o Senhor operar em mim por seu

Espírito Santo e, assim começar nesta vida o descanso eterno.

————————————————————————–

Comentário: Além do culto público e ensino da Palavra

de Deus, que é a sua principal função, a Igreja deve promover

atividades que tenham como objetivo trazer justiça, fazer o

bem, ensinar os verdadeiros valores. E fazer isso, sem querer

auferir benefícios políticos ou outros, mas visar unicamente a

glória de Deus. A observância do dia do Senhor, que para nós

é o Domingo, deve ser algo natural e espontâneo. Deus nos

dá seis dias para fazer todo o trabalho para o nosso sustento e

um dia Ele requer para si. 1. É um dia de agradecer: Nesse dia

especial devemos parar todas as demais atividades e ficar em

sua comunhão agradecendo por toda sua bênção e provisão.

Devemos lembrar que Cristo é o nosso descanso. 2. É um dia

de assembleia solene: Nesse dia, historicamente, a Igreja de

Cristo se reúne para o culto público e nenhum crente está

dispensado. Enquanto os gentios que não conhecem a Deus

têm seu prazer nas festas carnais, os santos deleitam-se na

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O Catecismo de Heidelberg

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congregação e no culto ao Senhor – “Alegrei-me quando me

disseram: Vamos à casa do Senhor” – Salmo 122.1. 3. É um dia de

fazer caridade: Parte do dia do descanso pode ser dedicado à

visitação de enfermos e a levar ajuda aos necessitados. 4. É

um dia de parar todas as atividades relacionadas ao trabalho

rotineiro, e mesmo aos esportes e lazer. Não se deve roubar o

dia do Senhor com viagens desnecessárias, lazer,

entretenimentos, futilidades, nem mesmo dormindo o dia

todo. 5. O dia do Senhor é como primícias que devolvemos

para Deus. Especialmente no novo testamento quando

começamos a semana com esse dia. O primeiro dia da semana

deve ser dedicado ao Senhor como as primícias do tempo que

Ele nos dá. Quando começamos a semana observando o dia

do descanso Ele abençoa o restante da semana e prospera a

obra de nossas mãos. O significado espiritual do descanso é

que devemos deixar Deus trabalhar em nós, entendendo que é

a única maneira de sermos salvos. Deus nos ensina a desistir

das obras para a salvação e nos render a Ele, confiando na

obra de Cristo por nós e na obra do Espírito Santo em nós.

Por isso se diz que Cristo é o nosso descanso espiritual, o

nosso verdadeiro Sábado.

————————————————————————–

Apêndice do Dia do Senhor 38

Comentário: O quarto mandamento do Decálogo não

foi abolido com a vinda de Cristo. O que o Senhor Jesus fez

foi: 1. Cumprir os aspectos cerimoniais que acompanhavam o

sábado judaico, cerimoniais que eram sombras e tipos de

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O Catecismo de Heidelberg

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Cristo. 2. Transferir o dia do descanso do sétimo para o

primeiro quando ressuscitou dos mortos. Ele mesmo disse ser

o Senhor do sábado, portanto poderia fazê-lo, e efetivamente

o fez. O quarto mandamento não poderia ser abolido porque

faz parte das dos dez mandamentos morais, portanto, eternos,

que Deus deu a Moisés. Um dia Deus veio a terra,

pessoalmente desceu sobre o monte Sinai, escreveu, Ele

mesmo, dez mandamentos em tábuas de pedra e ordenou que

Moisés os pusesse numa arca construída para esse fim. Mais

tarde também lhe deu os mandamentos cerimoniais e

judiciais, esses foram escritos por Moisés e nenhum deles foi

posto dentro da arca, pois eram temporários, especialmente

os cerimoniais que eram figuras e tipos de Cristo. Mais

importante do que o dia em si mesmo é o ‘princípio do

sábado’ (descanso). Por isso o fato da mudança do sétimo

para o primeiro não altera o princípio moral do dia do

Senhor. Agora Jesus Cristo é o nosso sábado (descanso) –

“Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso” – Hebreus 4.3.

Estamos em Cristo, portanto no descanso sabático. Aquele

que está em Cristo descansou das suas obras, ou seja,

entendeu que sua salvação depende, não de si mesmo, mas da

obra de Cristo na cruz e do Espírito Santo aplicando seus

benefícios em nós. O sábado cristão (dia do Senhor) é um

tipo do descanso eterno que gozaremos para sempre na Sua

presença. Com a ressurreição de Cristo dentre os mortos veio

à luz uma nova criação. O Senhor Jesus passou o seu último

sábado na terra dentro do túmulo. Por um lado estava

descansando de seus sofrimentos físicos, mas por outro,

como que trabalhava pela nossa redenção. Terminando aquele

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sábado, uma nova criação veio à existência: um novo homem,

um novo mundo, nova terra e novos céus, nova criatura, um

novo caminho, um novo testamento, um novo Israel, uma

nova era, um novo sábado. Tudo isso foi concebido na cruz

até a aurora da ressurreição e ainda será maximizado e

manifestado plenamente na segunda vinda. Então estaremos

no descanso eterno – “Portanto, resta ainda um repouso para o povo

de Deus” – Hebreus 4.9. Na criação (no início) o primeiro dia

após o término foi consagrado e santificado como dia de

descanso, assim também na redenção (segunda criação) o

primeiro dia depois de consumada foi dedicado a um santo

dia – o novo sábado. Os apóstolos, inspirados e guiados pelo

Espírito Santo, começaram a congregar no novo sábado,

agora no primeiro dia da semana, o dia do Senhor – “E no

primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão,

Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles” – Atos

20.7; “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o

que puder ajuntar… para que não se façam as coletas quando eu

chegar” – 1ª Coríntios 16.2; “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do

Senhor” – Apocalipse 1.10. Assim vemos que o sábado não é

apenas uma lei cerimonial ab-rogada, mas uma lei moral, parte

integrante do decálogo que Deus escreveu e entregou a

Moisés quando desceu sobre o Sinai.

————————————————————————–

Texto de Lewis Bayly sobre o Dia do Senhor:

1. Nesse dia devemos nos abster de todo tipo de

trabalho rotineiro e comum. Não apenas nós, mas todos

quantos estão sob nossa tutela, nossos filhos, nossos servos,

nossos animais. Todos devem parar nesse dia.

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2. Também não é dia de dispendermos tempo na

cozinha. Então devemos comer comida simples. Os judeus

nem mesmo acendiam fogo no dia do Senhor.

3. É um dia de celebração, mas espiritual. Portanto não

se deve gastar esse tempo, que é tão precioso, para cuidar do

nosso corpo, preocupando-nos com as vestes e enfeites

exteriores.

4. Se não nos é lícito trabalhar no comércio, também

evitar fazer os outros trabalharem, indo aos mercados,

shopping centers, feiras. Não é dia de fazer provisão para o

corpo, mas alimentar a alma.

5. Devemos aplicar tempo desse dia em leitura, mas não

qualquer leitura. Nada de livros de ciências, entretenimentos,

curiosidades, mas sim meditar na Palavra de Deus.

6. As práticas de esportes e recreações em geral, que são

lícitas noutros dias, no dia do Senhor devem ser evitadas, pois

se nos abstemos dos trabalhos lícitos, quantos mais devemos

fazê-lo com as recreações.

7. Nesse santo dia também devemos comer e beber

moderadamente, pois se a gula, comilança e bebedeira já são

condenadas nos dias normais, quanto mais nesse dia tão

solene.

8. Até nossas conversas devemos controlar, evitando as

prosas fúteis, tolas, vazias, inúteis. Assuntos que não trazem

benefícios espirituais irão roubar nosso tempo de

contemplação nesse dia e poluir nossa mente e pensamentos.

9. Qualquer atividade que não esteja relacionada com

Deus e seu reino, que não seja uma beneficência ou obra de

misericórdia e caridade, deve ser totalmente evitada nesse dia

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que não é nosso, mas do Senhor. Dar apenas metade do dia

do Senhor a Ele, é lhe roubar a outra metade. Quem se

atreveria a fazer isso?

10. Contudo, o crente não deve passar o dia do Senhor

dormindo e descansando fisicamente apenas. Quem observa

o dia do Senhor assim, observa-o como qualquer animal. Para

o crente, todavia, este é um dia de atividade espiritual –

(Extraído e adaptado de – Lewis Bayly – The Practice of

Piety).

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Comentário: O dia do Senhor, o sábado cristão, é dia de

pública assembleia solene, para darmos graças a Deus pelas

bênçãos recebidas das suas mãos. É dia de louvar a Deus pela

tanto pela sua criação quanto pela sua redenção – “Digno és,

Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as

coisas, e por tua vontade são e foram criadas” – Apocalipse 4.11; “E

cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de

abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste

para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o

nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra” –

Apocalipse 5.9-10. É o dia de descansarmos das tarefas triviais,

tanto quanto possível, para nos lembrar que estando em

Cristo, já entramos no descanso espiritual, mas que ainda

devemos renunciar a nossa vontade e abandonar nossos

pecados e rogar que o Espírito Santo trabalhe em nós dia a

dia até que cheguemos ao descanso (sábado) eterno. Amém.

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O Catecismo de Heidelberg

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Dia do Senhor 39

P. 104: O que Deus exige no Quinto Mandamento?

R.: Que eu demonstre toda honra, amor e fidelidade ao

meu pai e à minha mãe, e a todos os meus superiores; que eu

me submeta devidamente à sua boa instrução e disciplina, e

que também seja paciente com as suas fraquezas e defeitos,

pois é a vontade de Deus nos governar pelas mãos deles.

————————————————————————–

Comentário: Deus nos governa através das suas

autoridades delegadas, as quais Ele próprio estabeleceu,

primeiro na família, depois na igreja e também no governo

civil. Feliz aquele que desde cedo aprendeu a reconhecer a

cadeia de autoridade estabelecida por Deus em cada lugar

onde está. Na família devemos honrar pai e mãe, na igreja os

oficiais, na escola os professores e funcionários, no trabalho

aos superiores; como cidadãos devemos honrar todos quantos

desenvolvem alguma função de autoridade. Além disso

devemos honrar e respeitar os mais idosos, pois isso é

humildade. Quem aprendeu o respeito às autoridades, honra a

ordenação de Deus porque assim está escrito: “Toda a alma

esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que

não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”

– Romanos 13.1. Somos ensinados também a orar por aqueles

que estão em posição de autoridade – “Admoesto-te, pois, antes de

tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças,

por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência” –

1ª Timóteo 2.1-2. A Palavra de Deus diz ainda que devemos

honrar os anciãos, especialmente os da família da fé – “Diante

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O Catecismo de Heidelberg

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das cãs te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus.

Eu sou o SENHOR” – Levítico 19.32. Ouvir os conselhos dos pais,

aprendendo com sua experiência, é dever de todo filho sábio –

“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de

tua mãe… Ouvi, filhos, a instrução do pai, e estai atentos para

conhecerdes a prudência” – Provérbios 1.8; 4.1. Mesmo que a

autoridade sobre nós seja dura conosco ou então tenha

muitos defeitos difíceis de tolerar, precisamos exercer

paciência porque Deus está nos conformando a Jesus Cristo.

Afinal se todos fizessem as coisas exatamente como gostamos

como seríamos tratados? Precisamos ser contrariados,

confrontados, constrangidos pelas circunstâncias, tudo para

que Cristo seja formado em nós. Quanto mais rápido nos

submetemos ao governo da Providência mais rápido também

saímos da zona de atrito e turbulência – “Vós, servos, sujeitai-vos

com todo o temor aos Senhores, não somente aos bons e humanos, mas

também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da

consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente” – 1ª

Pedro 2.18-19. Por outro lado maldizer as autoridades

delegadas é grande pecado, porque não estamos falando da

pessoa e sim nos rebelando contra a cadeia de autoridade de

Deus – “E quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente será

morto” – Êxodo 21.17; “… por que, pois, não tivestes temor de falar

contra o meu servo, contra Moisés? Assim a ira do Senhor contra eles

se acendeu; e retirou-se… e eis que Miriã ficou leprosa como a neve” –

Números 12.8-10. Finalmente somos ensinados a nos submeter

uns aos outros porque o crente deve ter um espírito submisso,

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O Catecismo de Heidelberg

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isto afastará a rebeldia do seu coração – “Sujeitando-vos uns aos

outros no temor de Deus” – Efésios 5.21.

————————————————————————–

Dia do Senhor 40

P. 105: O que Deus exige no Sexto Mandamento?

R.: Que eu não devo, por mim mesmo ou através de

outros, desonrar, odiar, injuriar ou matar o meu próximo por

pensamentos, palavras, ou gestos, e muito menos por ações;

antes, devo fazer morrer todo desejo de vingança. Além disso,

não devo me fazer mal nem me expor levianamente ao perigo.

Por isso, também, o governo empunha a espada para impedir

homicídios.

————————————————————————–

Comentário: O sexto mandamento exige que honremos

o nosso próximo porque ele, tanto quanto nós, foi criado à

imagem e semelhança de Deus. Por isso o homicídio se

constitui num crime inafiançável diante de Deus – “Quem

derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será

derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem” –

Gênesis 9.6. Ninguém tem o direito de questionar as leis de

Deus nem de avaliar se elas deveriam ser aplicadas ainda hoje.

Quem assim pensa cogita ser mais sábio que Deus. Não há lei

mais justa do que a lei da restituição: indenizar e compensar

aquele que foi ofendido. Quando estiver em caso a morte de

alguém, o culpado deve pagar com a própria vida, porque é

algo que não pode ser restituído. Porém apenas as autoridades

legais têm esse poder, isto é, aplicar a pena capital. Enquanto

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O Catecismo de Heidelberg

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as autoridades competentes aplicam as leis e usam suas armas

para conter e punir o mal, individualmente devemos cultivar

um espírito manso e perdoador, jamais nos vingando a nós

mesmos e nem mesmo desejando o mal ao nosso próximo,

antes, amando até os nossos inimigos.

————————————————————————–

P. 106: Mas esse mandamento fala somente de matar?

R.: Ao proibir o homicídio, Deus nos ensina que

também detesta a raiz desse pecado, a saber, a inveja, o ódio, a

ira e o desejo de vingança, e que ele considera tudo isso como

homicídio.

————————————————————————–

Comentário: O assassinato tanto quanto outros

pecados, começa no coração. Por isso mesmo o Senhor Jesus

disse “que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão,

será réu de juízo” – Mateus 5.22, já é culpado desse pecado.

Porque na verdade Deus vê o coração e o diagnóstico que

Jesus Cristo fez do coração do homem não poderia ser pior –

“Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos,

os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as

maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a

loucura” – Marcos 7.21-22. Isto quer dizer que mesmo que não

houvesse tanta criminalidade e violência levadas a efeito, ainda

assim, aos olhos de Deus, o pecado estaria patente. Mesmo

antes de Caim assassinar seu irmão Abel, quando ele fazia sua

oferta ao altar, seu pecado já estava descoberto aos olhos de

Deus – “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?” – Gênesis 4.7.

Sua oferta não foi aceita porque Caim era do maligno – “Caim,

que era do maligno, e matou a seu irmão” – 1ª João 3.12. Deus o

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O Catecismo de Heidelberg

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rejeitou antes mesmo de haver consumado seu pecado. Isso

significa que podemos ser culpados de muitos pecados

mesmo não os tendo levado a efeito. Muitas vezes não

levamos a cabo um homicídio, um adultério, um furto, por

medo das consequências, tanto espirituais quanto físicas, mas

o pecado está no coração em forma de desejo da vingança, de

adultério, de cobiça do que é alheio.

————————————————————————–

P. 107: Então, basta que não matemos o nosso próximo

dessa maneira?

R.: Não. Quando Deus condena a inveja, o ódio, a ira e

o desejo de vingança, ele nos ordena amar nosso próximo

como a nós mesmos, demonstrar paciência, paz, mansidão,

misericórdia e amizade para com ele, protegê-lo do mal o

tanto que pudermos e fazer o bem até mesmo aos nossos

inimigos.

————————————————————————–

Comentário: Uma lei não anula outra. O “não matarás”

não anula o “quem derramar o sangue do homem, pelo

homem o seu sangue será derramado”, e vice versa. O que

cabe às autoridades Deus cobrará delas se não o fizerem; o

que cabe a nós, Deus cobrará de nós. E o que Deus quer de

nós? Que amemos nosso próximo, ainda que ele nos odeie e

deseje o nosso mal; que perdoemos o nosso próximo ainda

que ele nos tenha feito algum mal; não apenas que

perdoemos, mas que o façamos de todo o coração e até

oremos, abençoemos e façamos o bem a eles – “Se vires o

jumento, daquele que te odeia, caído debaixo da sua carga, deixarás

pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás a levantá-lo” – Êxodo 23.5;

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O Catecismo de Heidelberg

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“Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos

que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para

que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” – Mateus 5.44. A lei

sempre tem um aspecto negativo e um lado positivo, isto é ela

proíbe uma coisa e ordena outra. Neste caso ela nos proíbe

matar e ordena a amar.

————————————————————————–

Dia do Senhor 41

P. 108: O que nos ensina o Sétimo Mandamento?

R.: Que toda a impureza sexual é amaldiçoada por Deus.

Por isso, devemos abominá-la de todo coração e viver de

maneira pura e disciplinada, tanto dentro quanto fora do

santo matrimônio.

————————————————————————–

Comentário: O sexo como todas as coisas que Deus

criou é lícito e saudável, quando está dentro dos limites e das

restrições que Ele também estabeleceu. Assim como há leis

que normatizam o trabalhar, o comer, o beber, o dormir, que

sendo ignoradas trarão consequências desconfortáveis para a

nossa vida, outro tanto com relação ao sexo. Ninguém que

ignore e ultrapasse os limites estabelecidos por Deus para a

sua vida sexual deixará de colher os dissabores desse erro.

Deus nos conhece melhor que nós mesmos e sabe o que é

melhor para nossa vida. Sábio aquele que ouve o que diz a

Palavra de Deus sobre esse assunto e segue sua orientação.

Em qualquer área da nossa vida, um desequilíbrio pode trazer

sérias complicações, mas especialmente na área sexual. Um

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O Catecismo de Heidelberg

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erro aqui pode acarretar consequências irreversíveis e

duradouras, que talvez nos acompanhem pelo resto da vida.

Todo cuidado aqui é pouco. Devemos detestar toda impureza

sexual, fugir dos apelos que o mundo faz para nos atrair ao

seu lodaçal, e primar por um comportamento disciplinado,

vigiando e guardando nossos olhos, ouvidos, pensamentos e

emoções.

————————————————————————–

P. 109: Nesse mandamento, Deus proíbe somente o

adultério e pecados vergonhosos semelhantes?

R.: Não. Desde que somos, corpo e alma, templos do

Espírito Santo, é a vontade de Deus que nos conservemos

puros e santos. Por isso, ele proíbe todas as ações impuras,

gesticulações, palavras, pensamentos, desejos, e tudo aquilo

que possa nos induzir à impureza.

————————————————————————–

Comentário: Deus sabe o que vai em nosso íntimo. Ele

se importa com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas

motivações, nossos desejos, assim por diante. Isso porque nós

somos o templo do Espírito Santo que habita em nós. Temos

que cuidar tanto das coisas que entram em nós pelos olhos e

ouvidos, quanto das coisas que armazenamos dentro de nós,

bem como das coisas que saem dos nossos lábios. Numa

palavra: tudo em nós deve ser puro. O ideal cristão é receber,

armazenar e transmitir apenas coisas boas, que glorificam a

Deus e fazem bem ao nosso próximo. Deus nos fez seres

pensantes e inteligentes, além disso o Espírito Santo nos dá

equilíbrio e bom senso, justamente para sabermos como nos

comportar adequadamente neste mundo, sendo bons

representantes do reino de Deus. Um crente deve ser

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O Catecismo de Heidelberg

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disciplinado, buscando a moderação, o recato, a decência, o

pudor, a reverência. Nossa alegria, prazer, satisfação têm fonte

diferente do ímpio; nossa fonte é o Espírito Santo e não na

carne – “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça,

e paz, e alegria no Espírito Santo” – Romanos 14.17, portanto é uma

alegria com temor – “Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com

tremor” – Salmos 2.11.

————————————————————————–

Dia do Senhor 42

P. 110: O que Deus proíbe no Oitavo Mandamento?

R.: Deus não apenas proíbe o roubo e o furto que as

autoridades punem, mas também os esquemas e ciladas

malignos como falsos pesos e falsas medidas, negócio

enganoso, dinheiro falsificado e usura; não devemos defraudar

o nosso próximo de maneira nenhuma, nem pela força nem

pela aparência de direito. Além disso, Deus proíbe toda a

avareza e todos o abuso e desperdício de suas dádivas.

————————————————————————–

Comentário: As proibições deste mandamento são

muito abrangentes: o roubo, o furto, a receptação de coisas

roubadas, o tráfico ou contrabando, o sequestro, transações

fraudulentas, pesos e medidas ou ainda produtos adulterados,

extorsão, suborno, usura, infidelidade nos contratos,

processos mal-intencionados, todo tipo de enriquecimento

ilícito, a sonegação fiscal e outros tantos. Todo meio ilegal,

imoral, enganoso, antiético de lucrar é também anticristão

porque quebra o oitavo mandamento. Mas não é só isso,

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O Catecismo de Heidelberg

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estamos proibidos também de roubar o tempo dos outros,

seja o tempo de Deus ou do nosso próximo. Muitos crentes

roubam o tempo de Deus, gastando o tempo da oração e

leitura da Palavra, com lazer e entretenimentos. Há pais que

roubam o tempo dos seus filhos, maridos que roubam o

tempo das esposas e vice versa; empregados roubam tempo

da empresa em que trabalham, não trabalhando todo o tempo

pelo qual são pagos; muitos crentes roubam o dia do Senhor,

trocando-o por passeios, viagens, práticas esportivas. Aplicar

mal o tempo, o dinheiro, a saúde é esbanjar algo que não nos

pertence, pois somos apenas mordomos de Deus, isto

também é infringir este mandamento. A maldição da Palavra

sobre os ladrões não poderia ser pior: “… nem os ladrões, nem os

avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores

herdarão o reino de Deus” – 1ª Coríntios 6.9. Serão banidos do reino

de Deus e excluídos do céu.

————————————————————————–

P. 111: O que Deus exige de você nesse mandamento?

R.: Que eu devo promover o bem do meu próximo

sempre que for possível; que eu o trate do mesmo modo que

desejaria ser tratado pelos outros, e que trabalhe fielmente

para ter condições de ajudar os necessitados.

Devo promover tanto quanto possível, o bem do meu

próximo e tratá-lo como quero que outros me tratem. Além

disto, devo fazer fielmente meu trabalho para que possa

ajudar ao necessitado.

————————————————————————–

Comentário: Nosso Mestre nos ensina que “Mais bemaventurada coisa é dar do que receber” – Atos 20.35. Esse é o

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O Catecismo de Heidelberg

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espírito de Cristo: dar, nunca tomar. Tirar do outro o que lhe

pertence é o espírito do mundo anticristão. Então, devemos

ser bons mordomos daquilo que Deus coloca em nossas

mãos, aplicando bem nosso tempo, nosso dinheiro, nossa

saúde. Sempre pensando em honrar a Deus e abençoar ao

nosso próximo. É assim que seremos recompensados na

eternidade – “E o seu Senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel,

entra no gozo do teu Senhor” – Mateus 25.21.

————————————————————————–

Dia do Senhor 43

P. 112: O que se exige no Nono Mandamento?

R.: Que eu não devo levantar falso testemunho contra

alguém nem distorcer as palavras de ninguém, não fazer

fofoca nem difamar, não condenar nem me juntar com

alguém para condenar a outrem precipitadamente e sem o ter

ouvido.

Antes, devo repudiar toda mentira e engano, obras

próprias do diabo, para não trazer sobre mim a pesada ira de

Deus.

No tribunal ou em qualquer outro lugar, eu devo amar a

verdade, dizê-la e confessá-la com honestidade, e fazer tudo o

que puder para defender e promover a honra e a reputação do

meu próximo.

————————————————————————–

Comentário: O nono mandamento exige que andemos

na luz e essa talvez seja a nossa maior dificuldade. A Bíblia diz

que o homem natural ama as trevas, isto é, sua inclinação é,

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O Catecismo de Heidelberg

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não apenas fazer as coisas erradas, mas ainda encobri-las.

Mentir é próprio do homem caído; é um hábito que ele tem

que mesmo quando a verdade for mais fácil, ainda assim se

inclina a mentir. Mentir não é apenas dizer uma inverdade,

mas distorcer os fatos, aumentar ou diminuir

tendenciosamente os detalhes, caluniar, espalhar boatos, tudo

isso é vício das trevas e está proibido pelo nono mandamento.

Como crentes em Cristo, devemos amar a verdade e defendêla, viver e morrer por ela. Contudo, poucos são os que de fato

desejam a verdade, até mesmo no contexto da igreja. Uma

grande maioria hoje opta apenas pelo pragmático, isto é, algo

que resolva seus problemas e que os façam se sentir bem. E o

que a verdade não faz é fazer o pecador sentir-se confortável

em seu pecado. A verdade é a luz que expõe as deformidades

morais do pecador. Há muitas igrejas que de tão

descaracterizadas estão mais para seitas evangélicas que vivem

mentindo, e isso em nome de Deus. Marcam dia e hora para

reuniões onde haverá cura, libertação e bênçãos de

prosperidade. Como ninguém pode saber o que Deus fará e

nem quando, então quem faz uma agenda assim está

enganando o povo, está mentindo usando o nome de Deus,

pois criam uma falsa expectativa nas pessoas que ali estão.

Omitir a verdade também é quebrar esse mandamento, uma

vez que ele exige de nós total compromisso com a verdade.

Contudo aqui há uma ressalva. Não devemos omitir a verdade

quando for a hora de dizê-la, porque há hora de falar e hora

de calar-se, e o calar-se na hora certa também é uma maneira

de defender a verdade – “Há tempo de… estar calado, e tempo de

falar” – Eclesiastes 3.1-7. Muitos ministros há que deveriam dizer

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O Catecismo de Heidelberg

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toda a verdade contida nas Escrituras, mas, por conta própria,

escondem grande parte dela e apenas pregam o que lhes

convêm, para não ficarem em situação desconfortável. Tanto

os que mentem quanto os que omitem, quanto os que

distorcem, inventam ou usam qualquer outro subterfúgio para

auferir benefícios pessoais, pecam contra o nono

mandamento e incluem-se entre os malditos que têm por pai a

Satanás – “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de

vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na

verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala

do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” – João 8.44.

Estão condenados a ficar fora do reino de Deus e da sua

cidade – “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos

abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos

idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com

fogo e enxofre; o que é a segunda morte…”; “Ficarão de fora os cães e os

feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e

qualquer que ama e comete a mentira” – Apocalipse 21.8; 22.15.

————————————————————————–

Dia do Senhor 44

P. 113: O que exige de nós Décimo Mandamento?

R.: Que nem o mais leve pensamento ou desejo

contrário à quaisquer mandamentos de Deus jamais deveria

surgir em nosso coração. Antes, de todo coração, devemos

sempre odiar todo pecado e nos deleitar em toda justiça.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: O décimo mandamento fala daquele

aspecto do pecado em seu estado de concepção, quando

apenas Deus o pode ver, porque ainda não veio à luz. Nesse

estágio o pecado é tão abominável a Deus quanto quando

externado. Deus viu o pecado de Caim quando ninguém havia

visto. Caim podia cultuar a Deus e ainda odiar e invejar seu

irmão. Ele ofereceu seu culto a Deus e saindo de diante do

altar, armou uma cilada e assassinou seu único irmão. A

cobiça, a concupiscência, a inveja, o ódio, o orgulho, a

avareza, entre outros podem ser vistos por Deus antes mesmo

de serem detectados por qualquer pessoa. Por isso Jesus disse

que “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu

coração cometeu adultério com ela” – Mateus 5.28. Mas também esse

mandamento exige de nós um contentamento com a nossa

condição perante a Providência de Deus. O ensino apostólico

é que vivamos satisfeitos tendo o que comer e com que nos

cobrir – “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos

com isso contentes” – 1ª Timóteo 6.8. Devemos ser gratos a Deus

pelo que temos recebido, e jamais murmurar contra a Sua

Providência e nem invejar o que os outros têm. Devemos

agradecer pelo que temos e nunca reclamar pelo que não

temos.

————————————————————————–

P. 114: Mas os que se converteram a Deus são capazes

de guardar esses mandamentos perfeitamente?

R.: Não. Nesta vida, até mesmo os mais santos têm

apenas um leve começo desa obediência. Mesmo assim, com

sincero fervor e propósito, eles começam a viver não apenas

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O Catecismo de Heidelberg

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segundo alguns mandamentos de Deus, mas conforme todos

eles.

————————————————————————–

Comentário: Ninguém, nem mesmo os mais santos

podem guardar perfeitamente a lei de Deus, porque ela exige

perfeição. O padrão de Deus não é que o homem seja bom,

que tenha boas intenções, que seja sincero, mas que ele seja

perfeito. Contudo, mesmo sendo impossível ao homem

alcançar esse nível, isso, de forma nenhuma, nos isenta da

obediência a lei. Por isso precisamos desesperadamente do

Mediador. Sem Ele estaríamos perdidos para sempre.

Ninguém está livre para pecar porque está debaixo da graça

de Deus. O cristão eventualmente peca mas o pecado não é

mais seu estilo de vida. Então, embora saibamos que não

atingiremos a perfeição nesta vida, esse deve ser o nosso alvo.

————————————————————————–

P. 115: Se nesta vida ninguém consegue obedecer

perfeitamente os Dez Mandamentos, por que Deus manda

que sejam pregados com tanto rigor?

R.: Primeiro, para que ao longo da nossa vida possamos

cada vez mais estar conscientes da nossa natureza

pecaminosa, e assim buscarmos com mais fervor o perdão

dos pecados e a justiça de Cristo.

Segundo, par que, ao orarmos a Deus pela graça do

Espírito Santo, jamais deixemos de batalhar para sermos cada

vez mais renovados à imagem de Deus, até que após esta vida

alcancemos o alvo da perfeição.

————————————————————————–

Comentário: O fato de o homem não conseguir guardar

a lei de Deus perfeitamente, de forma nenhuma o livra da sua

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O Catecismo de Heidelberg

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maldição. Somente estando em Cristo, nossa Cidade Refúgio,

estaremos seguros e protegidos. Mas a cada dia precisamos

ouvir a lei de Deus para que nunca nos esqueçamos do que

fomos resgatados, e também para que nos conheçamos quão

corrompidos fomos pelo pecado e quanto dependemos de

Deus para perseverar até o fim da nossa carreira aqui na terra

e chegarmos a eternidade. O não crente ouve a lei de Deus e

pode correr para Cristo; o crente ouve a lei de Deus e apegase com mais força ao Salvador.

————————————————————————–

A Oração

Dia do Senhor 45

P. 116: Por que a oração é necessária aos cristãos?

R.: Porque a oração é a parte mais importante da

gratidão que Deus exige de nós. Além disso, Deus só

concederá a sua graça e o Espírito Santo àqueles que,

constante e sinceramente, lhe pedem esses dons e o

agradecem por eles.

————————————————————————–

Comentário: A essência do culto a Deus é: Leitura da

Bíblia (seguida de exposição ou ensino); Oração (que é a

nossa resposta a Deus); Os Sacramentos (administração e

recepção do Santo Batismo e Santa Ceia); Comunhão

(Comunicação fraternal com os demais irmãos); Cânticos de

salmos de louvor a Deus. É o que podemos ver nas páginas

do Novo Testamento. Entre esses atos do culto, a oração é a

principal parte da nossa resposta a Deus. Na verdade a oração

é a atividade mais importante da vida do crente. Cada cristão é

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O Catecismo de Heidelberg

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um sacerdote e a principal função de um sacerdote é a oração

– “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e

sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus

por Jesus Cristo” – 1ª Pedro 2.5. Nossa oração contínua revela um

senso de dependência que agrada ao nosso Pai, e expressa

nosso reconhecimento de quem Ele é. Todo pai tem alegria e

prazer em suprir as necessidades de seus filhos que dependem

dele; muito mais o Pai celestial tem esse prazer em que seus

filhos se aproximem dele continuamente para receber da Sua

provisão – “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos

filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe

pedirem?” – Mateus 7.11. Isso o honra e glorifica.

————————————————————————–

P. 117: O que é preciso para que a nossa oração agrade a

Deus e seja ouvida por ele?

R.: Primeiro, devemos invocar de coração, apenas o

único e verdadeiro Deus, que se revelou em sua Palavra, e

rogar por tudo aquilo que ele nos ordenou orar.

Segundo, devemos ter plena consciência da nossa

necessidade e miséria, para que possamos nos humilhar diante

de Deus.

Terceiro, devemos descansar no fundamento inabalável,

do qual não somos merecedores, de que Deus com certeza

ouvirá às nossas orações por causa de Cristo, nosso Senhor,

conforme ele nos prometeu em sua Palavra.

————————————————————————–

Comentário: Nossa oração deve ser dirigida única e

exclusivamente a Deus, pois é o único que pode nos ver, ouvir

e atender. O único que é onisciente, onipresente e onipotente

130

O Catecismo de Heidelberg

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é Deus, o Criador. Esses atributos são incomunicáveis e Ele

não os repartiu com nenhuma criatura, seja homem ou anjo.

Portanto Deus – Pai, Filho e Espírito Santo, é o único que

pode ouvir cada oração que se faz em qualquer parte da terra,

ainda que todos os crentes orem ao mesmo tempo. A oração

é uma maneira de mostrar a nossa dependência, também

nossa miséria espiritual e é o nosso reconhecimento de quem

o Senhor é. Essa humildade sob a mão de Deus, vindo a Ele

pelo Mediador é o que torna a oração aceitável e é a garantia

de sermos ouvidos. Embora tenha deixado por último, a

primeira coisa que devemos ter em mente antes de pronunciar

qualquer palavra nos dirigindo a Deus, é que somente somos

aceitos perante Sua Majestade, por causa do Mediador que Ele

mesmo estabeleceu – Jesus Cristo, nosso Senhor. Mas que

ninguém suponha que basta pronunciar o nome de Jesus

como uma senha, porque não funciona desta maneira. Antes

de ouvir o nome de Jesus ser pronunciado pelos nossos

lábios, Deus já terá nos identificado pelo selo do Espírito

Santo. Dizendo de outra forma, há uma senha que é

imperceptível aos sentidos humanos, mas Deus a vê em

nossas frontes quando nos aproximamos dele – “Não danifiqueis

a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos assinalado nas

suas testas os servos do nosso Deus…”; “E verão o seu rosto, e nas suas

testas estará o seu nome” – Apocalipse 7.3; 22.4. Deus está sempre

pronto a nos ouvir e socorrer por causa do Senhor Jesus. O

que conta de fato é o Mediador que temos.

————————————————————————–

P. 118: O que foi que Deus ordenou que lhe pedíssemos?

131

O Catecismo de Heidelberg

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R.: Tudo aquilo que necessitamos para o nosso corpo e

alma, conforme a oração que o próprio Cristo, nosso Senhor,

nos ensinou.

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Comentário: Antes de pedir qualquer coisa a Deus é

preciso lembrar que não temos nenhum direito e nem

merecemos qualquer coisa. Nosso mérito é negativo. Portanto

é lícito pedir a Deus a provisão necessária para o dia a dia,

mas jamais riquezas, não prosperidade financeira, mas apenas

sustento – “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos

com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em

laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os

homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de

toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se

traspassaram a si mesmos com muitas dores” – 1ª Timóteo 6.8-10. Os

ricos facilmente são atraídos para o altar de Mamon,

abandonando a Jesus Cristo e a simplicidade que Ele nos

ensina.

————————————————————————–

P. 119: Qual é a oração do Senhor?

R.: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;

o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas,

assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos conduzas a

tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a

glória para sempre. Amém” (Mateus 6:9-13; Lucas 11:2-4).

————————————————————————–

Comentário: Temos nesta oração modelo, sete petições.

Três referentes a Deus e quatro referentes a nós. As que se

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O Catecismo de Heidelberg

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referem a Deus e ao seu reino: 1. Santificado seja o teu nome;

2. Venha o teu reino; 3. Seja feita a tua vontade, assim na terra

como no céu. E em seguida as que se referem a nós: 1. O pão

nosso de cada dia dá-nos hoje; 2. Perdoa-nos as nossas

dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; 3.

Não nos conduzas a tentação; 4. Livra-nos do mal. Ela

termina com a doxologia: Teu é o reino, e o poder, e a glória

para sempre. Amém.

————————————————————————–

Dia do Senhor 46

P. 120: Por que Cristo nos ordenou nos dirigir a Deus

como o “Pai nosso”?

R.: Para despertar em nós, logo no início da nossa

oração, aquela reverência filial e confiante em Deus, que deve

ser básica à nossa oração; Deus, por meio de Cristo, tornou-se

o nosso Pai, e, se os nossos pais não nos negam as coisas

terrenas, muito menos ele nos negará aquilo que lhe pedimos

pela fé.

————————————————————————–

Comentário: Deus quer relacionar-se conosco como

um pai se relaciona com o filho amado de suas entranhas. A

grande pena é que o pecado faz separação entre nós e o nosso

Deus – “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso

Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos

ouça” – Isaías 59.2. Deus criou o homem para estar com Ele.

Esse desejo de Deus é muito claro nas Escrituras. No Éden

visitava Adão todos os dias para ter comunhão com ele, e o

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O Catecismo de Heidelberg

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plano era habitarem juntos, pois o homem não foi criado para

viver longe de Deus, e sim em Sua íntima comunhão. Unir

céus e terra, o que um dia Ele fará, é o plano original do

nosso amado Pai. Muitas vezes vemos Deus revelando essa

Sua vontade de estar no meio de seu povo – “E porei o meu

tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós não se enfadará” –

Levítico 26.11; “E o meu tabernáculo estará com eles, e eu serei o seu

Deus e eles serão o meu povo” – Ezequiel 32.27. Após o Juízo Final a

terra será purificada e todo mal será eliminado. Os ímpios,

bem como todo o pecado, toda maldição, e também Satanás

com seus demônios, todos serão removidos da terra a qual

ficará totalmente purificada. Então os céus serão unidos à

terra, porque o pecado e todo o mal que atualmente os

separam serão removidos; então eclodirá a nova criação de

Deus – “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá

mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão” – Isaías

65.17; “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e

nova terra, em que habita a justiça” – 2ª Pedro 3.13; “E ouvi uma

grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os

homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus

estará com eles, e será o seu Deus” – Apocalipse 21.3.

————————————————————————–

P. 121: Por que se acrescentou: “que estás nos céus”?

R.: Porque essas palavras nos ensinam a não pensar na

majestade de Deus de modo terreno, e a esperar do seu poder

infinito tudo aquilo que necessitamos para o nosso corpo e

alma.

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134

O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Conquanto o Espírito de Deus habite em

nossos corações, nosso corpo seja um templo de Deus, e deva

haver uma santidade e reverência em nosso interior, todavia

não devemos orar a Deus como se Ele estivesse dentro de nós

em Sua majestade, porque Deus está no céu. “Não te precipites

com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra

alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a

terra; assim sejam poucas as tuas palavras” – Eclesiastes 5.2. É para o

alto que devemos dirigir nossas orações mediadas por Jesus

Cristo, nosso Salvador. Cada crente tem uma comunicação

livre com Deus por meio do Senhor Jesus, podendo orar a

qualquer hora e em qualquer lugar, mas sempre dirigindo-se a

Deus no céu. Jesus quando orava levantava seus olhos aos

céus – “E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te

dou, por me haveres ouvido…”; “Jesus falou assim e, levantando seus

olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora” – João 11.41 e 17.1.

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Dia do Senhor 47

P. 122: Qual e a Primeira Petição?

R.: “Santificado seja o teu nome”.

Isto é, que nos concedas, antes de tudo, que possamos te

conhecer da maneira correta, e que te santifiquemos,

glorifiquemos e louvemos em todas as tuas obras, nas quais

brilham o teu poder infinito, sabedoria, bondade, justiça,

misericórdia e verdade.

Também que nos concedas que dirijamos toda a nossa

vida, pensamentos, palavras e ações, de tal maneira que o teu

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O Catecismo de Heidelberg

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Nome não seja blasfemado por nossa causa, mas que seja

sempre honrado e glorificado.

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Comentário: Devemos orar a Deus com o desejo de

que a grandiosidade, a importância de seu nome seja

conhecida neste mundo; orar com um anelo de que o nome

do nosso Deus seja reverenciado, temido e considerado santo

entre os homens. Mesmo porque o que se vê, infelizmente, é

o mundo desprezando, brincando, fazendo piadas, zombando

assim do nome precioso do nosso Bondoso Deus. E há aqui

uma agravante: muitas vezes é por culpa dos próprios crentes

que têm em baixa conta o nome do Senhor. E não pode haver

coisa mais triste do que essa – que um cristão viva um estilo

de vida, ou tenha um comportamento destoante da fé que

professa. Foi isso que aconteceu com o povo de Israel – “E,

chegando aos gentios para onde foram, profanaram o meu santo nome,

porquanto se dizia deles: Estes são o povo do SENHOR, e saíram da

sua terra. Mas eu os poupei por amor do meu santo nome, que a casa

de Israel profanou entre os gentios para onde foi. Dize portanto à casa

de Israel: Assim diz o Senhor DEUS: Não é por respeito a vós que eu

faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes

entre as nações para onde fostes. E eu santificarei o meu grande nome,

que foi profanado entre os gentios, o qual profanastes no meio deles; e os

gentios saberão que eu sou o SENHOR, diz o Senhor DEUS, quando

eu for santificado aos seus olhos” – Ezequiel 36.20-23. No nome de

Deus está envolvido seu caráter, a revelação da sua pessoa e

sua obra. Portanto honrar o nome de Deus é honrar o

próprio Deus. Como cristãos que somos nós levamos o nome

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O Catecismo de Heidelberg

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e o testemunho de Deus por onde andarmos, onde

estivermos, em tudo o que fizermos. Portanto temos a

responsabilidade de representar bem esse nome. Mas o que o

Senhor Jesus ensina nesta oração é muito mais que isso. Ele

quer que isso seja um ardente desejo da nossa alma, durante

toda a nossa vida, que o nome do nosso Senhor, nosso Amo,

seja santificado, temido, honrado, respeitado, desejado na

terra. Quanto mais conhecemos a Deus tanto mais o

honraremos e santificaremos o seu nome em nossas vidas.

Por isso roguemos que o Espírito Santo nos dê crescimento

no conhecimento de Deus e nos ajude a viver de maneira

irrepreensível para o nome do Senhor seja glorificado – “E farei

conhecido o meu santo nome no meio do meu povo Israel, e nunca mais

deixarei profanar o meu santo nome; e os gentios saberão que eu sou o

SENHOR, o Santo em Israel” – Ezequiel 39.7.

————————————————————————–

Dia do Senhor 48

P. 123: Qual é a Segunda Petição?

R.: “Venha o teu reino”.

Isto é:

Que nos governes pela tua Palavra e Espírito, de tal

modo que cada vez mais nos submetamos a ti.

Que protejas e faças crescer a tua Igreja.

Que destruas as obras do diabo, todo poder que se

levante contra ti, e toda conspiração contra a tua Palavra.

Que faças todas essas coisas até que venha a plenitude

do teu reino, em que serás tudo em todos.

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O Catecismo de Heidelberg

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Comentário: Jesus ensinou muitas coisas sobre o reino

de Deus. Dos seus ensinamentos entendemos que o reino de

Deus já chegou. Quando Jesus veio, Ele o trouxe, pois é o Rei

desse reino. Mas quando nos ensinou a orar “Venha o teu

Reino”, também quis dizer que o Reino continua vindo. Cada

pessoa que se rende ao governo do Senhor e se submete ao

Rei Jesus, aumenta os domínios desse reino. Então seu reino

continua vindo e se expandindo neste mundo. Mas também

sabemos que o seu reino terá sua plena manifestação quando

Jesus vier segunda vez. Então haverá uma maximização do

reino de Deus, e ele cobrirá a terra como as águas cobrem o

mar. O Senhor Jesus ensinou ainda que tanto entramos no

reino de Deus como o reino de Deus entra em nós. Isto é,

tanto estamos nos domínios de Deus quanto seu domínio está

dentro dos nossos corações. Como cristãos sabemos que o

problema do homem e da sociedade é o pecado, e nada

resolverá esse problema a não ser que o reino de Deus venha

aos seus corações, levando-os a submissão a Cristo. Não há

nada que possa ajudar a nossa sociedade e este estado de

coisas presente. Todas as tentativas para mudar o homem e

seu habitat falharam. Da religião à filosofia, da cultura às

descobertas científicas, do desenvolvimento industrial à alta

tecnologia, dos esportes aos entretenimentos, tudo isso tenta

melhorar a sua qualidade de vida, mas o homem continua

infeliz, insatisfeito, vazio, e também maldoso, invejoso,

vingativo, violento, mau. Uma mudança real só ocorrerá

quando o reino de Deus chegar a ele, entrar em seu coração e

transportá-lo para os domínios do governo de Deus. O único

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O Catecismo de Heidelberg

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poder que destrói as obras do diabo é o reino de Deus – “Para

isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” – 1ª

João 3.8. Por isso a petição “Venha o teu reino” é tão

importante, e devemos orá-la com ardente desejo que mais e

mais homens e mulheres, jovens e crianças, sejam

conquistados pelo Rei Jesus, sejam reconciliados com Ele e

entrem no reino de Deus agora e aguardem sua plena e

gloriosa manifestação no dia final.

————————————————————————–

Dia do Senhor 49

P. 124: Qual é a Terceira Petição?

R.: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”.

Isto é:

Que concedas a nós e a todos os homens que

renunciemos à nossa própria vontade e, sem murmuração,

obedeçamos à tua vontade, a única que é boa.

Também que concedas que todos cumpram os deveres

de seu ofício e vocação, tão voluntária e fielmente, como os

anjos no céu.

————————————————————————–

Comentário: Desejar que a vontade de Deus seja

plenamente realizada na terra deve ser o maior desejo dos

santos da terra, porque no céu isso é uma realidade eterna. Os

santos anjos estão sempre prontos e desejosos de ouvir as

ordens de Deus para imediatamente voar a cumpri-las. É um

desejo maior do que o desejo que temos pela comida, de fato

um desejo que os consome. Foi isso que o Senhor Jesus disse

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O Catecismo de Heidelberg

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aos discípulos e eles não entenderam: Uma comida tenho para

comer, que vós não conheceis, mas Jesus lhes explicou: “A

minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a

sua obra” – João 4.32, 34. Deus criou os anjos e os homens e

lhes pôs no coração uma satisfação em amá-lo, obedecê-lo e

servi-lo. O pecado enganou e cegou o homem para esse fato,

mas os regenerados podem sentir novamente esse prazer, essa

alegria no servir e obedecer a Deus. Quem tem novo coração

sente satisfação em submeter-se as autoridades, ainda que

essas sejam injustas e infiéis. Mas infinitamente mais, têm-na

em relação a submissão a vontade de Deus que é boníssimo.

Os crentes amam servir uns aos outros e amam muito mais

ainda servir ao Pai celestial, que reconhece nosso serviço e

nos recompensa fazendo-nos sentir plenamente confortados e

realizados. Há, todavia, uma luta contra a nossa própria carne

que muitas vezes nos desvia da vontade expressa do Pai. Mas

é aí que clamamos a Deus que nos capacite com Seu Espírito

Santo nessa luta e não cedamos terreno para o inimigo das

nossas almas. Por isso mesmo, orar pedindo e desejando que a

vontade do nosso amado Deus seja cumprida na terra é

motivo de grande alegria para nós, porque sabemos que um

dia, céus e terra conhecerão uma única vontade – a do nosso

Amo. Devemos, portanto, orar para que cada dia mais,

sejamos submissos a vontade de Deus em nossas próprias

vidas, renunciemos a nós mesmos e vivamos para aquele que

por nós morreu e ressuscitou. E então pregarmos o

evangelho chamando os pecadores ao arrependimento e a

obediência de Cristo, porque a salvação se resume nisso: o

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O Catecismo de Heidelberg

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homem trocar sua vontade pela vontade de Deus. “Bendizei ao

SENHOR, todos os seus anjos, vós que excedeis em força, que guardais

os seus mandamentos, obedecendo à voz da sua palavra. Bendizei ao

SENHOR, todos os seus exércitos, vós ministros seus, que executais o seu

beneplácito” – Salmo 103.20-21. No céu a vontade de Deus é

única. Enquanto não chega o dia do juízo eterno, tanto os

anjos caídos quantos os homens rebeldes podem seguir sua

vontade caída. Depois do juízo, porém, todos os rebeldes

estarão presos no grande abismo e no restante da criação só

se conhecerá a vontade de Deus, sem concorrência. Enquanto

isso a Igreja ora: “Seja feita a tua vontade, assim na terra, como no

céu” – Lucas 11.2.

————————————————————————–

Dia do Senhor 50

P. 125: Qual é a Quarta Petição?

R.: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.

Isto é:

Que supras todas as nossas necessidades físicas, para que

reconheçamos que tu és a única fonte de todo o bem, e que,

sem a tua bênção, nem o nosso cuidado, nem o nosso labor,

nem mesmo os teus dons podem nos fazer bem algum.

————————————————————————–

Comentário: Aqui começam as petições para nós

próprios. Depois dos interesses do Reino de Deus, que

devemos buscar em primeiro lugar, aí podemos fazer nossos

pedidos. Contudo, Jesus ensinou o que devemos pedir. A

primeira coisa a ser pedida é a provisão diária para nós e

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O Catecismo de Heidelberg

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nossa família. É claro que Deus conhece essa nossa

necessidade. Mas Ele quer que dependamos dele para tudo e

reconheçamos que tudo vem dele. Na verdade, quanto mais

levamos a Ele nossas necessidades e o fazemos participar das

circunstâncias que envolvem nossas vidas, tanto mais

mostramos nossa dependência dele, e isso muito o agrada.

Quando não oramos e não participamos a Deus nossas

necessidades, estamos excluindo-o das nossas vidas e

declarando nossa independência dele. E isto é a pior coisa que

nos poderia acontecer. A independência de Deus significa

morte eterna. Devemos lembrar aqui que a promessa de Deus

é a provisão aos seus filhos. Ele não prometeu grandes

riquezas, fortunas, grandes possessões aos seus filhos, mas

apenas o sustento. Isso Ele não deixará faltar. Os filhos de

Deus deveriam viver uma vida simples e em completa

dependência de Deus, como as aves do céu. Jesus disse que

elas não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros, isto

é um modelo de dependência de Deus – “Por isso vos digo: Não

andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou

pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de

vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que

o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam,

nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes

vós muito mais valor do que elas?” – Mateus 6.25-26. Que o Senhor

nos ensine a não confiar em nada além dele. Nem em

riquezas, nem na nossa sabedoria ou nossa experiência, nem

no nosso emprego, na aposentadoria, em nossas economias,

mas apenas no Senhor. Que a cada dia roguemos o nosso pão

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O Catecismo de Heidelberg

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cotidiano e ao final do dia o agradeçamos Àquele de quem

nos vem toda boa dádiva e todo o dom perfeito – “Toda a boa

dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em

quem não há mudança nem sombra de variação – Tiago 1.17.

————————————————————————–

Dia do Senhor 51

P. 126: Qual é a Quinta Petição?

R.: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós

temos perdoado aos nossos devedores”.

Isto é:

Que, por causa do sangue de Cristo, não imputes a nós,

pecadores miseráveis, nenhuma das nossas transgressões, nem

o mal que ainda persiste em nós; e que também encontremos

em nós essa evidência da tua graça: que estamos plenamente

determinados, de todo o coração, a perdoar nosso próximo.

————————————————————————–

Comentário: Naturalmente que aqui não está posta uma

condição para sermos perdoados, porque só Pode perdoar de

fato quem já foi perdoado por Deus, pois quem não recebeu

o perdão de Deus não sabe sequer o que significa perdoar.

Além do que, se Deus esperasse o pecador perdoar seus

ofensores para lhe dar o Seu perdão salvador, isto

caracterizaria uma salvação por obras. Ninguém pode dar

nada se primeiro não receber de Deus. Contudo, é um fato

que as duas coisas caminham juntas: recebemos o perdão e

perdoamos. Se não sabemos perdoar é porque não fomos

perdoados ou não entendemos o perdão de Deus. Jesus

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O Catecismo de Heidelberg

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contou uma parábola onde um rei perdoou seu servo, mas

este não soube perdoar seu conservo e foi punido

severamente. Mesmo depois de haver sido perdoado ele

recusou-se a perdoar seu próximo – Por isso o reino dos céus pode

comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; E,

começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil

talentos; E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele,

e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para

que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo, prostrando-se, o

reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te

pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão,

soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou

um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão

dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu

companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso

para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrálo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o

que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor

tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença,

disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me

suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu

companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o

seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que

devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não

perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas – Mateus 18.23-35.

Como cristãos que somos devemos ter consciência da imensa

dívida que Jesus nos perdoou, a qual se nos fosse cobrada,

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O Catecismo de Heidelberg

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nos faria permanecer no inferno eternamente sem poder

jamais saldá-la. Assim sendo, devemos perdoar sempre a

todos os que nos ofenderem, de todo o coração, pois esta é

uma evidência de que também fomos perdoados por Deus.

————————————————————————–

Dia do Senhor 52

P. 127: Qual é a Sexta Petição?

R.: “E não nos conduzas a tentação, mas livra-nos do

mal”.

Isto é:

Somos tão fracos em nós mesmos, que não podemos

permanecer firmes por um momento sequer. Além disso, os

nossos inimigos declarados – o diabo, o mundo e a nossa

própria carne – não cessam de nos atacar.

Queiras, portanto, sustentar-nos de fortalecer-nos pelo

poder do teu Espírito Santo, para que não sejamos derrotados

nessa batalha espiritual, mas que sempre resistamos

firmemente a nossos inimigos, até que finalmente alcancemos

a vitória completa.

————————————————————————–

Comentário: Que não sejamos conduzidos à

circunstâncias favoráveis ao inimigo das nossas almas e

estejamos assim expostos aos seus ardis e maquinações.

Sabemos que Deus jamais nos tenta mas pode permitir que

sejamos tentados por Satanás como Pedro o foi – “Disse também

o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar

como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu,

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O Catecismo de Heidelberg

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quando te converteres, confirma teus irmãos” – Lucas 22.31-32. E

sabemos que Deus usa todas as coisas para nos fazer crescer

espiritualmente, inclusive as tentações. Rogar para que o

Senhor não nos exponha às tentações é uma humilde súplica

para que não nos deixe expostos às tentações do inimigo mais

que podemos suportar e não venhamos a cair, traídos pela

nossa própria carne que também se alia aos demais inimigos

contra nós. Então rogamos que o Pai nos fortaleça pelo seu

Espírito Santo nos fazendo sensíveis e dando-nos

discernimento espiritual para detectarmos as sutis armadilhas

do inimigo e assim não caiamos nelas. E Deus que conhece a

nossa estrutura e sabe que somos frágeis e vulneráveis, nos

ouve e nos poupa conforme sua santa vontade e os

propósitos que têm para nós.

————————————————————————–

P. 128: Como é que você conclui a sua oração?

R.: “Pois teu é o reino, o poder e a glória, para sempre”.

Isto é:

Tudo isso te pedimos porque, como nosso Rei, tendo

poder sobre todas as coisas, tanto queres quanto podes nos

dar tudo o que é bom; e porque não nós, mas o teu santo

Nome é digno de receber toda a glória para sempre.

————————————————————————–

Comentário: Essa doxologia no final da oração, é a

declaração final que o Reino pertence ao Senhor, o

reconhecimento de que Ele reina soberano, como Rei dos reis

e Senhor dos senhores, e a confissão de que nos submetemos

ao seu domínio para obedecer à sua vontade para sempre. É o

reconhecimento de que Ele fará sempre a sua vontade e levará

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O Catecismo de Heidelberg

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a cabo tudo quanto tem determinado e decretado sem

nenhum impedimento.

————————————————————————–

P. 129: O que significa a palavra “Amém”?

R.: “Amém” significa: é verdadeiro e certo. Pois é mais

certo e verdadeiro que Deus ouviu a minha oração do que o

sentimento que tenho em meu coração de desejar isso dele.

————————————————————————–

Comentário: Amém é um dos nomes do Senhor Jesus –

“E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a

testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” –

Apocalipse 3.14, e significa que Ele é fiel e verdadeiro. Ele leva

muito a sério quando falamos com Ele e jamais nos deixa de

atender, embora sempre faça a sua vontade para a nossa

segurança. É bom rogar sempre que sua suprema vontade seja

realizada, porque isso é o melhor para nós, porque a vontade

dele para nós é perfeita, boa e agradável.

Aqui termina o Catecismo de Heidelberg, com a

explicação sobre o Amém da oração do Senhor. E podemos

dizer também um Amém, rogando que Aquele que é que Fiel

e Verdadeiro sustente e mantenha Sua Igreja unida em torno

dessa verdade e da fidelidade a Ele. Amém.

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Pr. Nelson Nincao

Londrina – Abril – 2023 

Junte-se a Nós

Endereço:

Rua Sena Martins, 400 – Higienópolis – Londrina – (Próximo ao Zerão)

Cultos:

Domingos as 9:30 e as 18:00 horas.

Reunião de Oração:

Quartas-feiras as 19:00 horas.

O que esperar

Central para o nosso culto de adoração são a pregação da Bíblia Sagrada, canto congregacional e oração. A intenção é louvar a Deus; Ele é o foco do serviço.

Quando você se junta a nós para o culto, os recepcionistas estão localizados na entrada do auditório e poderão ajudá-lo a se sentar e responder a quaisquer perguntas que você possa ter.

Contate-nos

Email:

reformadalondrina@gmail.com

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