Confissão Belga

Comentado

A Confissão Belga – Sua História

A Confissão Belga foi escrita numa época em que os

reformados dos Países Baixos sofriam grande repressão e

perseguição vindas da Espanha católica-romana, que

governava aquela região da Europa naqueles dias. Também

conhecida como Confessio Belgica ou Confissão da Valônia, a

Confissão Belga herdou seu nome porque foi escrita no sul

dos Países Baixos, atual Bélgica. Guido de Brès, pastor

reformado, também conhecido como Guy de Bray, que viveu

entre 1522 e 1567, foi quem a escreveu. Ele foi e auxiliado

por Adrien de Savaria, H. Modetus e G. Wingen. Sua

composição foi em parte inspirada pela Confissão das Igrejas

Reformadas Francesas escrita por João Calvino e outros. A

Confissão escrita por Brès se desvincula expressamente dos

anabatistas, com os quais os reformados muitas vezes eram

confundidos pelas autoridades romanistas. A Espanha

governada por Felipe II imprimiu tão grande perseguição

contra os protestantes, que excedeu em muito as perseguições

até então feitas pela Igreja Católica Romana. Talvez essa

perseguição tenha produzido mais mártires até mesmo do que

o império romano nos primeiros séculos da Igreja. Guido de

Brès estava entre eles, e selou o seu testemunho com o

próprio sangue, no ano de 1567, aos 45 anos. A perseguição

daqueles dias vinha tanto das autoridades civis quanto das

religiosas. Como uma forma de protesto contra a perseguição

e para demonstrar que os reformados não eram subversivos

nem ofereciam quaisquer ameaças à boa ordem do reino,

buscaram escrever uma exposição de suas doutrinas. Guido

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de Brès concluiu a Confissão em 1561. No ano seguinte a

mesma foi enviada ao rei Felipe II, junto com uma carta onde

os confessantes juravam fidelidade à Coroa em todas as

coisas, mas que estavam prontos para “oferecer suas costas

aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas para mordaças e

seus corpos inteiros para o fogo”, antes de negarem a verdade

expressa na Confissão. O objetivo imediato de amainar a fúria

dos perseguidores não foi alcançado. O próprio de Brès e

centenas de outros crentes foram cruelmente assassinados,

mas um dos mais valiosos documentos da Igreja Reformada

estava escrito. Brès escreveu a Confissão em francês em 1561,

ela foi traduzida para o holandês em 1562 e depois para o

alemão em 1566. Em 1618-1619 foi realizado pela Igreja

Reformada Holandesa, o Sínodo de Dort, em Dordrecht,

Holanda. Foram 154 reuniões, desde 13 de novembro de 1618

até 9 de maio de 1619. Essa assembleia analisou, aprovou e

reafirmou a Confissão escrita por Brès. Recebida

entusiasticamente pelas igrejas reformadas dos Países Baixos,

a Confissão foi adotada por sínodos reunidos em Antuérpia

em 1566, Wesel em 1568 e Emden em 1571 tido como o

Sínodo de Fundação da Igreja Reformada da Holanda. Foi

adotada em definitivo pelo Sínodo Nacional de Dort, em

1618. Tornou-se um dos três padrões doutrinários dessa

Igreja, ao lado do Catecismo de Heidelberg e dos Cânones de

Dort, que compõem “As Três Formas de Unidade”.

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O Único Deus

Artigo 1: Todos nós cremos com o coração, e

confessamos com a boca, que só existe um Deus, que é um

Ser espiritual e simples; Ele é eterno, incompreensível,

invisível, imutável, infinito, onipotente, perfeitamente sábio,

justo, bom, e a fonte transbordante de todo bem.

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Comentário: Os crentes, tanto do Antigo quanto do

Novo Testamento são monoteístas, isto é, creem que Deus é

um só. Confessamos com nossas palavras a fé que está em

nossos corações no Deus único e verdadeiro. A Igreja do

Antigo Testamento declarava essa fé dizendo: “Ouve, Israel, o

Senhor nosso Deus é o único Senhor” – Deuteronômio 6.4. Javé é o

único Senhor e Deus. Assim começa o “Shemá”, que em

Hebraico significa “Ouve!”. Essa era a grande confissão de fé

do povo de Israel. Deus declarou ser único: “Pois não há outro

Deus senão eu” – Isaías 45.21. No Novo Testamento o apóstolo

Paulo confirma o ensino – “Porque há um só Deus, e um só

Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” – 1ª Timóteo

2.5. Há um único Ser que é onipotente, onisciente,

onipresente, onissapiente, eterno, infinito, invisível, imutável.

Só Ele é perfeitíssimo, essencialmente justo e bom; Esse é

Javé [YHWH]. Ele é o Criador de tudo quanto existe nos céus

e na terra, das coisas visíveis e invisíveis. Onipotência,

onipresença, onisciência, entre outros, são atributos

incomunicáveis e o Criador não os compartilhou com

nenhuma criatura. Portanto não há ninguém no céu que possa

ouvir nossas orações, nem nos ver aqui na terra, nem nos

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proteger, nem nos guiar. Só o Pai, o Filho e o Espírito Santo –

o Trino Deus. Ele é um ser espiritual e ordenou que o

adorássemos dessa forma – “Deus é Espírito, e importa que os que

o adoram o adorem em espírito e em verdade” – João 4.24. Na

Antiga Aliança a adoração era mais exterior e física, já na

Nova Aliança é mais interior e em espírito. Na era cristã a

adoração não é mais através dos tipos e figuras, mas da

realidade em Cristo, pois Ele é o cumprimento de todas

aquelas coisas que eram sombras da realidade. Mas Deus é

mais: é eterno, sem começo e sem fim, atemporal – está fora

do tempo. É infinito, tanto em grandeza quanto em

existência; toda a criação é finita, mas o Criador é infinito. Ele

é incompreensível a nós, assim, tudo quanto quer que

entendamos sobre Si, precisa nos revelar. Ele é invisível e não

pode ser visto pelo homem, por isso pessoas que dizem terem

visto Deus estão equivocadas; hoje Deus não fala mais

audivelmente, mas através da sua Palavra escrita. Ele é

imutável, se o homem servi-lo ou não servi-lo nada acrescenta

a Deus e nem lhe diminui – Ele é completo, autossuficiente,

perfeito e invariável. Ele sustenta, mantém, controla, governa,

dirige toda criação e toda criatura, na terra e nos céus. Deus

age como, quando e onde quer. Ele abriu o Mar Vermelho,

parou o Rio Jordão, fez o Sol e a Lua pararem e a sombra

projetada no relógio [de sol] de Acaz, voltar atrás. Mas age

independente, ninguém diz o que Ele deve fazer. Ele é

onissapiente, isto é, tem a perfeita e total sabedoria, de modo

que é impossível Deus errar, equivocar-se ou cometer

injustiça. Tudo o que nos acontece é decretado e governado

pelo Senhor Deus. Se Ele não faz diferente do que supomos

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que deveria, é porque não deseja e porque assim é melhor. Ele

é justo, e a maior demonstração da sua justiça foi levar o

próprio Filho ao sacrifício em favor dos eleitos que não

podiam ser salvos de outra forma. A cruz deu prova da

elevada justiça de Deus, que só poderia ser satisfeita por Ele

próprio, e também do seu amor eterno. Ele é essencialmente

bom, uma fonte abundante de verdade e de todo bem. Esse

Ser maravilhoso é o único objeto da nossa adoração,

juntamente com o Filho e o Espírito Santo. Amém.

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Como Deus se faz conhecido a nós

Artigo 2: Nós O conhecemos por dois meios:

Primeiro, pela criação, preservação e governo do

universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico

dos livros, no qual todas as criaturas, grandes e pequenas, são

como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente

os “atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como a sua

divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Romanos 1:20.

Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens

e torná-los indesculpáveis.

Segundo, Ele se faz mais clara e plenamente conhecido

através da Sua Santa e Divina Palavra – tanto quanto para nós

é necessário nesta vida – para a Sua glória e nossa salvação.

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Comentário: Deus criou os céus e a terra e tudo o neles

se contêm para mostrar seu poder e sua glória e majestade.

Ele salva os eleitos para mostrar sua graça e misericórdia;

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condenará os ímpios e infiéis para mostrar sua reta justiça e

ira santa. Assim em todas as coisas Deus será glorificado. O

esplendor e a absoluta perfeição da criação deixam o homem

sem desculpa por não buscar o seu Criador. Ainda que não

haja na natureza palavras audíveis, há, contudo uma

proclamação e um anúncio – “Os céus declaram a glória de Deus e o

firmamento anuncia a obra das suas mãos… Não há linguagem nem

fala onde não se ouça a sua voz… e as suas palavras até ao fim do

mundo” – Salmo 19.1,3,4. Portanto os homens são inescusáveis

mesmo aqueles que nunca tenham ouvido uma pregação

audível – “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta,

porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a

criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se

entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que

eles fiquem inescusáveis” – Romanos 1.19-20. Mas, além disso, Deus

nos deu também a sua Palavra escrita, a Bíblia Sagrada. Neste

livro santo Ele se revela de maneira muito mais clara. O

escritor sagrado continua dizendo no salmo 19: “A lei do

Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá

sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o

coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos” –

versículos 7 e 8. Ele diz que a exposição da Palavra de Deus traz

luz ao nosso entendimento, dissipando as trevas do pecado.

Deus mesmo autentica o que os profetas e apóstolos

escreveram, dizendo ser ele o escritor: “Escrevi para eles as

grandezas da minha lei; mas isso é para eles como coisa estranha” –

Oséias 8.12. O apóstolo Paulo ensina que os salvos chegam ao

pleno conhecimento de Deus pela pregação da Palavra: “a

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palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que

somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a

sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde

está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século?

Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto

como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua

sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” –

1ª Coríntios 1.18-21. Deus decretou a salvação dos eleitos e

decretou também que eles seriam chamados e salvos ouvindo

a sua Palavra, pela pregação. É assim que a Igreja deve chamar

os eleitos de Deus – pregando a sua Palavra. Apesar da queda

da humanidade e dos nossos muitos pecados, todavia Deus

não abandonou a humanidade, mas oferece muitas

oportunidades para que o homem o busque e volte-se para

Ele. Todas as ovelhas do Senhor ouvirão a sua voz e o

atenderão.

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A Palavra de Deus

Artigo 3: Confessamos que a Palavra de Deus não foi

enviada nem produzida pela “vontade humana; entretanto, homens

santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como

afirma o apóstolo Pedro em 2ª Pedro 1:21. Após isso, Deus,

em seu especial cuidado por nós e nossa salvação, ordenou

que os profetas e os apóstolos, Seus servos, registrassem por

escrito a Sua Palavra revelada, tendo Ele mesmo escrito com

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os próprios dedos as duas tábuas da lei. É por isso que

chamamos esses escritos de Sagradas e Divinas Escrituras.

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Comentário: Nenhuma profecia bíblica veio do próprio

homem que falou, mas os profetas foram apenas mensageiros

e portadores da Palavra de Deus. Um dia o próprio Deus veio

à terra e falou com seu povo – Moisés foi o mediador.

Naquela ocasião, Deus não apenas falou, mas também Ele

mesmo escreveu suas Palavras em tábuas de pedra – “E o Senhor

me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; e nelas

estava escrito conforme a todas aquelas palavras que o Senhor tinha

falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia” –

Deuteronômio 9.10. Depois disso Ele escolheu, inspirou e usou

homens como os profetas e apóstolos para escreverem e

registrarem sua Palavra – “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o

derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro… Escreve as coisas que tens

visto” – Apocalipse 1.11,19. Por isso cremos na inspiração plenária

das Escrituras – “Toda a Escritura é divinamente inspirada” – 2ª

Timóteo 3.16. Assim os homens que Deus chamou para essa

tarefa escreveram tudo. Não há mais nada a ser acrescentado

ao que está escrito. O romanismo ensina que o seu Papa pode

falar inspirado ainda hoje; que quando ele faz uma declaração

oficial da sua cadeira (ex cathedra) isso equivale aos escritos

bíblicos, igualmente infalível. Isso é muito conveniente para

eles, mas é totalmente falso. O apóstolo Pedro disse que os

homens de Deus “falaram” – no passado – portanto ninguém

mais fala dessa forma hoje. Tudo quanto Deus queria falar

para revelar-se a si mesmo e sua salvação, já falou. Hoje a

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Igreja deve apenas pregar e pregar apenas o que está escrito.

A revelação já está completa. O escritor sagrado da carta aos

Hebreus também diz que Deus “falou”, passado. Isto tanto

pelos profetas quanto pelo Seu Filho, que é a suma da

profecia, e depois dele não há mais profeta. Os profetas são

comparados as estrelas, brilharam a seu tempo, mas no fim

veio o Sol da justiça e confirmou tudo quanto os profetas

falaram, e nele encerrou o ministério profético – “Havendo Deus

antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos

profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” – Hebreus 1.1. A

Bíblia é o livro da Aliança, do povo do Pacto. Ela não foi

escrita para o mundo, mas para o povo de Deus – “Disse mais o

Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas

palavras tenho feito aliança contigo e com Israel” – Êxodo 34.27. Nela

Deus diz o que a Igreja deve pregar ao mundo. Todos quantos

respondem o chamado do evangelho e vêm à Cristo têm o

privilégio de usufruir de todas as bênçãos da Aliança,

juntamente, é claro, com suas obrigações. Mas Deus não

revela os mistérios do reino aos de fora, senão somente

apenas aos filhos da Aliança – “Ele, respondendo, disse-lhes: Porque

a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes

é dado” – Mateus 13.11.

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Os livros canônicos

Artigo 4: Cremos que as Sagradas Escrituras

constituem-se de duas partes: O Antigo e o Novo

Testamentos, que são canônicos, e contra os quais nada se

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pode pretextar. Esta é a relação dos livros reconhecidos pela

Igreja de Deus:

Os livros do Antigo Testamento são:

. Cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico,

Números e Deuteronômio;

. Doze livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1º e 2º

Samuel, 1º e 2º Reis, 1º e 2º Crônicas, Esdras, Neemias, Ester;

. Cinco livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios,

Eclesiastes e Cânticos de Salomão;

. Quatro profetas maiores: Isaías, Jeremias (e

Lamentações), Ezequiel e Daniel;

. Doze profetas menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias,

Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias

e Malaquias.

Os livros do Novo Testamento são:

. Quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João;

. Os Atos dos Apóstolos;

. Treze cartas do apóstolo Paulo: Romanos, 1ª e 2ª

Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1ª e 2ª

Tessalonicenses, 1ª e 2ª Timóteo, Tito, Filemon;

. A carta aos Hebreus;

. As outras sete cartas: Tiago, 1ª e 2ª Pedro, 1ª, 2ª e 3ª

João e Judas;

. A revelação do apóstolo João: Apocalipse.

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Comentário: ‘Livros canônicos’ significa os livros que

compõem o Cânone Sagrado, únicos considerados e aceitos

pela Igreja como inspirados pelo Espírito Santo. Eles são 66

livros ao todo, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo.

Esses livros foram escritos durante um período de

aproximadamente 1600 anos. Ao todo foram entre 36 e 39

diferentes autores, como legisladores, juízes, reis, agricultores,

pescadores, médico, funcionário do governo, teólogo,

apóstolos, profetas, mestres, sábios, doutos e indoutos,

escreveram em vários gêneros literários, nos mais diferentes

lugares, sob as mais diferentes circunstâncias. Um pastor de

ovelhas fugitivo no deserto, um grande rei sentado em seu

trono, um profeta no cativeiro, outro perseguido, um apóstolo

na prisão outro exilado numa ilha, e assim por diante, todos

sob a inspiração do Espírito Santo, escreveram os 66 livros

que compõem a Bíblia Sagrada. Sem qualquer contradição ou

informação desencontrada, a Bíblia contém uma sequência

lógica e cronológica, e os fatos nela narrados podem ser

comprovados por outros autores e escritos seculares, e

também pela verdadeira ciência, em especial a arqueologia.

Por ser um livro verdadeiro e divino ela não esconde as falhas

pessoais de seus personagens, nem de seus autores, mas expõe

o pecador exatamente como ele é, sendo esta outra grande

evidência que esse é o livro de Deus. A única pessoa que

atravessou pelas páginas sagradas sem deixar qualquer sombra

de erro foi o Senhor Jesus. Ela contém todo o Conselho de

Deus para nós. Deus se revela nessas palavras inspiradas.

Cremos na absoluta suficiência da Bíblia, isto é, não

precisamos de nenhum outro livro, de nenhuma outra fonte

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ou base para a nossa fé e doutrina. Cremos na sua inspiração

plenária, isto é, toda a Bíblia é inspirada de uma a outra capa.

Cremos na sua inspiração é verbal, isto é toda a Bíblia é

inspirada palavra por palavra, e não apenas os pensamentos

principais. Assim, a Bíblia é um livro único e ímpar; é a

verdadeira Palavra de Deus, por isso, “Seca-se a erva, e cai a flor,

porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente” – Isaías 40.8.

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A autoridade da Sagrada Escritura

Artigo 5: Recebemos todos estes livros – e só eles –

como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e

confirmar nossa fé. Cremos, sem dúvida nenhuma, em todas

as coisas contidas neles, não tanto porque a Igreja assim os

recebe e aprova, mas principalmente porque o Espírito Santo

testifica em nosso coração que eles vêm de Deus, como eles

mesmos provam; pois até os cegos podem perceber que as

coisas preditas neles estão a se cumprir.

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Comentário: O apóstolo Paulo escreveu inspirado pelo

Espírito Santo de Deus e ele próprio testificou que escreveu o

que recebeu de Deus – “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho

que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o

recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus

Cristo” – Gálatas 1.11-12. E o apóstolo Pedro, que também

escreveu sob inspiração divina, confirmou os escritos de

Paulo como ‘Escrituras’ – “Falando (Paulo) disto, como em todas as

suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os

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indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para

sua própria perdição” – 2ª Pedro 3.16. Escrevendo outra epístola,

Paulo disse que a palavra não era sua mas de Deus que o

inspirava – “Por isso … damos … graças a Deus, pois, havendo recebido

de nós a palavra … a recebestes, não como palavra de homens, mas

(segundo é, na verdade), como palavra de Deus” – 1ª Tessalonicenses

2.13). Recebemos tudo da Bíblia como Palavra de Deus. Ela

contém todo o Conselho de Deus para a nossa salvação e

nossa vida neste mundo. É o livro da lei, dos princípios, dos

conselhos, das profecias, das promessas; ela cobre a história

do tempo, que é uma ponte entre as duas eternidades –

criação, queda, redenção. Tudo quanto os profetas de Deus

anunciaram desde o princípio cumpriu-se, essa é a marca

divina nas profecias bíblicas – “E, se disseres no teu coração: Como

conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar

em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim;

esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele

profeta; não tenhas temor dele” – Deuteronômio 18.21-22. Os falsos

profetas do paganismo fizeram prognósticos e previsões, mas

os profetas de Deus declararam o futuro – “Lembrai-vos das

coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro

Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o

princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam;

que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” –

Isaías 46.9-10. Todas as profecias passadas se cumpriram,

portanto podemos esperar confiantemente que tudo quanto

ainda está para se cumprir, certamente se cumprirá. Um dia

haverá novos céus e nova terra, onde habita a justiça. Um

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lugar sem pecado e sem a opção de pecar, para sempre –

“Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais

lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão; Mas nós,

segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que

habita a justiça” – Isaías 65.17; 2ª Pedro 3.13. A Bíblia é o livro da

Aliança. Ela foi entregue a Igreja que deve proclamá-la a

tempo e fora de tempo, chamando os homens ao

arrependimento e sujeição ao Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis

e Senhor dos senhores.

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A diferença entre os livros canônicos e os apócrifos

Artigo 6: Distinguimos esses livros sagrados dos

apócrifos que são os seguintes: III e IV Esdras, Tobias, Judite,

Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os acréscimos ao livro de Ester

e Daniel (o Cântico de Azarias na fornalha, o Cântico dos três

jovens na fornalha, a Estória de Suzana, Bel e o Dragão), a

Oração de Manassés, e I e II Macabeus.

A Igreja pode ler e tirar deles instrução até onde

concordem com os livros canônicos. Mas não têm nenhum

poder nem autoridade que possam confirmar pelo seu

testemunho qualquer artigo da fé ou da religião cristã; muito

menos podem diminuir a autoridade dos livros sagrados.

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Comentário: Como os Cânones foram formados?

Primeiro o próprio Deus escreveu as tábuas da lei e veio

trazê-las pessoalmente ao seu povo no Sinai. Depois Moisés

escreveu os cinco livros que compõem o Pentateuco e

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expandem os Dez Mandamentos. Mais tarde escreveram

Samuel, Davi, Salomão, os profetas reconhecidos pelo povo

de Deus. Conforme os livros foram sendo escritos, ao longo

dos séculos, o povo de Deus os foi agrupando. Todos os

escritos de Moisés, os Salmos, e os Profetas foram sendo

copiados e duplicados por escribas fiéis. Assim se foi

formando o Cânone Sagrado do Antigo Testamento, cuja

autoridade foi testificada várias vezes pelo próprio Senhor

Jesus, numa delas disse: “São estas as palavras que vos disse estando

ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim

estava escrito na lei de Moisés, e nos Profetas e nos Salmos” – Lucas

24.44. Por isso os livros supracitados pela Confissão Belga

em seu artigo 6 são considerados apócrifos, não inspirados e

não fazem parte do Cânone do Antigo Testamento, porque

não foram reconhecidos pelo povo de Deus. A composição

do Cânone do Novo Testamento foi igual ao do Antigo. Ele

foi sendo composto ao longo dos primeiros séculos do

cristianismo, sendo todos os livros de autoria apostólica e

homens que conheceram e conviveram com o Senhor Jesus,

com exceção de Paulo e Lucas. O apóstolo Pedro disse:

“Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus

Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos

vimos a sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e

glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este

é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido. E ouvimos esta

voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo” – 2ª Pedro

1.16-18; o apóstolo João afirmou: “O Que era desde o princípio, o

que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos

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contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida ( Porque a

vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos

anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi

manifestada ); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que

também tenhais comunhão conosco” – 1ª João 1.1-3. O apóstolo

Paulo deu muitas provas de que viu a Cristo ressuscitado que

lhe conferiu pessoalmente a missão apostólica – “Mas faço-vos

saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é

segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem

algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” – Gálatas 1.11-12. O

evangelho que Paulo ensinava não diferia em nada do

ensinado pelos outros apóstolos que conviveram com Jesus;

“esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram” –

Gálatas 2.6. A partir do segundo século já circulavam os livros

que hoje temos no Novo Testamento, com exceção talvez de

alguns, como Hebreus, Tiago, 2ª Pedro, 2ª e 3ª João e

Apocalipse, que demoraram um pouco mais de tempo para

receber a aprovação geral da Igreja. Mas em 367dC, Atanásio

escreveu a primeira lista com todos os 27 livros que

completaram o Cânone Sagrado do Novo Testamento, que foi

aprovado pelo Sínodo de Hipona em 393dC. Qualquer outro

livro que não pertença a esta lista dos 66 deve ser considerado

apócrifo, sem qualquer autoridade espiritual.

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A Confissão Belga

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A Suficiência das Sagradas Escrituras

Artigo 7: Cremos que as Sagradas Escrituras contêm

perfeitamente a vontade de Deus e que ensina

suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para

ser salvo. Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de

adoração que Deus exige de nós. Por isso, não é lícito aos

homens, mesmo se fossem apóstolos, nada ensinar que seja

diferente daquilo que nos ensinam as Sagradas Escrituras, sim,

nem que seja “um anjo vindo do céu”, como afirma o apóstolo

Paulo (Gálatas 1.8). A proibição de acrescentar ou retirar

qualquer coisa da Palavra de Deus (Deuteronômio 12.32;

Apocalipse 22:18,19) é evidência que a doutrina nela contida é

perfeitíssima e completíssima em todos os sentidos.

Não nos é permitido considerar quaisquer escritos de

homens, por mais santos que estes tenham sido, como de

igual valor ao das Escrituras Divinas; nem devemos

considerar que costumes, maiorias, antiguidade, sucessão de

tempos de pessoas, concílios, decretos ou estatutos tenham o

mesmo valor da verdade de Deus, porque a verdade está

acima de tudo. Pois todos os homens são, em si mesmos,

mentirosos e “mais leves que a vaidade” (Salmo 62.9).

Por isso, rejeitamos de todo o coração tudo aquilo que

discorde desta regra infalível, conforme nos ensinou o

apóstolo: “provai os espíritos se procedem de Deus” (1a

 João 4,21), e

também: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o

recebais em casa, nem lhe deis as boas vindas” (2a

 João 1.10).

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A Confissão Belga

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Comentário: Esta insistência da Confissão em defesa

das Escrituras revela a preocupação dos reformadores em

apresentar a Bíblia como a única regra de fé e prática da Igreja

de Cristo, e também desmente a acusação de muitos contra os

reformados, de fazerem uso de outros escritos além da Bíblia.

A própria Confissão declara que nada deve ser colocado junto

às Escrituras em pé de igualdade. O fato de estudarmos as

Confissões e recitarmos os Credos, de modo algum, significa

que consideramos esses documentos iguais à Santa Palavra de

Deus. Qualquer acréscimo feito ao que já está escrito no

Cânone Sagrado deve ser considerado maldito – “Mas, ainda

que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além

do que já vos tenho anunciado, seja anátema” – Gálatas 1.8. A Bíblia

é “divinamente inspirada”, e portanto, perfeita e suficientemente

“proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em

justiça”, assim o homem não necessita buscar em outra fonte

recursos para que “seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a

boa obra” – 2ª Timóteo 3.16-17. A Bíblia é absoluta, portanto a

Igreja e seus ministros devem ater-se apenas ao que está neste

Livro Sagrado, pois qualquer desvio aqui é fatal – “A lei e ao

testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há

luz neles” – Isaías 8.20. Qualquer coisa fora do que foi escrito

pelos autores sagrados é trevas. Portanto ninguém vá “além do

que está escrito” – 1ª Coríntios 4.6. O apóstolo Paulo disse também

que tudo quanto falou recebeu por revelação e confirmou

tudo quanto já estava escrito anteriormente – “Mas, alcançando

socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho

tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que

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A Confissão Belga

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os profetas e Moisés disseram que devia acontecer” – Atos 26.22. A

orientação apostólica com relação aos falsos mensageiros é:

“Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais

em casa, nem tampouco o saudeis” – 2ª João 10. Os crentes maduros

devem julgar tudo quanto ouvem, veem ou leem, devem

avaliar e considerar se provêm de Deus – “Amados, não creiais a

todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos

falsos profetas se têm levantado no mundo” – 1ª João 4.1. Provar,

julgar, não é proibido e nem mesmo uma sugestão, mas é

mandamento apostólico – “Examinai tudo” – 1ª Tessalonicenses

5.21. E nosso padrão seguro são as Escrituras Sagradas que a

Igreja apostólica mantém desde o princípio.

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A Santíssima Trindade: Deus é um em essência,

contudo distinto em Três Pessoas

Artigo 8: De acordo com essa verdade e a Palavra de

Deus, cremos em um só Deus, uno na essência, em quem há

três Pessoas distintas – de modo real, verdadeiro e eterno –

conforme os seus atributos incomunicáveis: o Pai, o Filho, e o

Espírito Santo. O Pai é a causa, a origem e o princípio de

todas as coisas, visíveis e invisíveis. O Filho é a Palavra, a

sabedoria e a imagem do Pai. O Espírito Santo é a força e o

poder eternos que procede do Pai e do Filho. Deus, contudo,

não está dividido em três, pois as Sagradas Escrituras nos

ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cada um, tem

sua existência pessoal distinta por seus atributos, mas de tal

modo que as três Pessoas são apenas um único Deus.

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A Confissão Belga

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É evidente, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho

não é o Pai; e também que o Espírito Santo não é o Pai nem o

Filho. Todavia, essas Pessoas distintas não estão divididas nem

misturadas entre si; pois o Pai não assumiu a nossa carne e

sangue, nem também o Espírito Santo, mas somente o Filho.

O Pai jamais existiu sem seu Filho ou sem seu Espírito Santo,

pois os três, em uma única e mesma essência, são iguais em

eternidade. Não há primeiro nem último, pois todos os três

são um em verdade, poder, bondade e misericórdia.

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Comentário: Nem mesmo os anjos eleitos, que são

criaturas celestiais e estão na presença do majestoso Deus,

podem entender tudo do Criador, porque nenhuma criatura o

pode. E se tais anjos não o podem muito menos nós que

somos criaturas terrenas e ainda caídas. O fato é que Deus é

muito, muito grande, infinito, eterno, perfeitíssimo, assim

jamais uma mente finita, terrena, corrompida e danificada

pelo pecado poderá compreender seus mistérios. A Trindade

em Unidade é um dos grandes mistérios de Deus, é um

maravilhoso mistério. O próprio Senhor Jesus Cristo disse que

Ele e o Pai são um só; um mas não a mesma Pessoa – “Eu e o

Pai somos um” – João 10.30. Disse ser a expressão do Pai – “Quem

me vê a mim vê o Pai” – João 14.9. O Senhor Jesus afirmou ser

onipotente quando disse que tinha todo o poder no céu e na

terra – “Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na

terra” – Mateus 28.18; revelou-se onipresente quando prometeu

estar com todos e com cada um de seus discípulos até o fim

dos tempos – “eis que eu estou convosco todos os dias, até a

consumação dos séculos” – Mateus 28.20; e ainda mais, que mesmo

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A Confissão Belga

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estando aqui na terra, também estava no céu – “Ora, ninguém

subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no

céu” – João 3.13. Ele disse ainda ser onisciente quando ensinou

os discípulos a orarem a Ele – “E tudo quanto pedirdes em meu

nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes

alguma coisa em meu nome, eu o farei” – João 14.13-14. Apenas um

ser onisciente pode ouvir e receber orações. Conclusão: o

único Ser que tem esses três atributos é Deus, então Jesus

disse ser Deus. No entanto, mesmo Jesus sendo Deus e seu

Pai sendo Deus, e também o Espírito Santo sendo Deus, são

um só, o mesmo e o único Deus. Muitos supõem que Jesus é

um bom mestre, ou um grande homem, ou um grande

profeta. Mas se fosse apenas isso não poderia reivindicar ser

Deus, pois seria uma reivindicação falsa. E afirmar que um

homem é bom quando esse mesmo homem reivindicou ser

Deus é falta de compreensão. Qualquer mero homem, por

grande que seja, reivindicar ser Deus não é um homem bom,

e está fora de si. O Senhor Jesus que disse ser Deus, porque

de fato era, e é, e será Deus para sempre. A terceira Pessoa

que compõe a Trindade, o Espírito Santo, nos é apresentado

como Criador: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre

a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”

– Gênesis 1.2, como uma Pessoa: “Quem guiou o Espírito do Senhor,

ou como seu conselheiro o ensinou?” – Isaías 40.13; “contristaram o seu

Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou

contra eles” – Isaías 63.10, e como Deus: “…para que mentisses ao

Espírito Santo… não mentiste aos homens, mas a Deus” – Atos 5.3-4.

Somos monoteístas, porém trinitarianos, cremos que Deus é

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A Confissão Belga

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um, porém três Pessoas distintas. Não precisamos e nem

queremos entender o Deus Trino, apenas o adoramos.

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O Testemunho da Escritura sobre a Trindade

Artigo 9: Tudo isso sabemos tanto pelo testemunho das

Sagradas Escrituras quanto pelas obras de cada uma das três

Pessoas, e, especialmente, por aquelas obras que percebemos

em nós mesmos. Os testemunhos da Escritura que nos

ensinam a crer na Trindade Santa estão registrados em muitos

lugares no Antigo Testamento. Não é necessário citá-los

todos; basta selecionar criteriosamente alguns deles.

No livro de Gênesis 1.26-27, Deus diz: “Façamos o homem

à nossa imagem e semelhança… Criou Deus, pois, o homem à sua

imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou”. Assim

também em Gênesis 3.22: “Eis que o homem se tornou à nossa

imagem como um de nós”. Quando Deus diz: “Façamos o homem à

nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, evidencia-se que

existe mais do que uma Pessoa Divina; e, ao dizer: “Criou Deus”,

demonstra-se que só existe um único Deus. É verdade que

não se diz quantas pessoas são, mas aquilo que no Antigo

Testamento parece um tanto obscuro, no Novo Testamento

fica totalmente claro. Pois quando o nosso Senhor foi

batizado no Rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai que disse: “Este é

o meu Filho amado” – Mateus 3.17, enquanto o Filho foi visto na

água e o Espírito Santo desceu sobre ele na forma corpórea

de uma pomba. Além disso, Cristo prescreveu a seguinte

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fórmula para o batismo de todos os crentes: “batizando-os em

nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” – Mateus 28.19. no

evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel assim diz a Maria,

má do nosso Senhor: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do

Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo

que há de nascer será chamado Filho de Deus” – Lucas 1.35. E, de

modo semelhante: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de

Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” – 2a

Coríntios 13.14. Em todas essas referências, somos amplamente

ensinados que existem três Pessoas em uma única essência.

Embora tal doutrina ultrapasse o entendimento humano,

na vida presente cremos nela alicerçados na Palavra de Deus,

e esperamos usufruir de seu pleno conhecimento e fruto no

céu porvir.

Temos, acima de tudo, que observar os ofícios e as obras

distintos dessas três Pessoas para conosco. O Pai é chamado

nosso Criador, por seu poder; o Filho, nosso Salvador e

Redentor, por seu sangue; o Espírito Santo, nosso

Santificador, porque habita em nosso coração. A doutrina da

Santa Trindade tem sempre sido mantida na verdadeira Igreja,

dos dias apostólicos até o presente, contra os judeus, os

muçulmanos, e contra os falsos cristãos e os hereges como

Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário, e

outros que foram condenados pelos pais ortodoxos. Quanto a

essa doutrina, portanto, aceitamos de boa vontade os três

credos: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; bem como o

que os pais antigos estabeleceram em concordância com esses

credos.

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Comentário: Ainda que a Bíblia não use os termos

trindade, triunidade, trino ou triúno, contudo nos dá provas

suficientes e contundentes dessa realidade. São muitas

passagens, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que

testificam o fato do Deus verdadeiro ser um só e, no entanto

três Pessoas. Jesus disse ser o Deus Filho – “Àquele a quem o

Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse:

Sou Filho de Deus?” – João 10.36, e disse também que quando

subisse ao céu, retornando ao Pai, enviaria outro Consolador

que ficaria em seu lugar aqui na terra para sempre, esse

Consolador é a terceira Pessoa da Trindade Divina – “E eu

rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco

para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber,

porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita

convosco, e estará em vós” – João 14.16-17. O apóstolo Paulo fala

sobre o Deus Pai, e o seu Filho e o Espírito Santo – “Mas

quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para

com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas

segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e

da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou

sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” -Tito 3.4-6. Pedro

também falou algo assim: “Eleitos segundo a presciência de Deus

Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do

sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” – 1ª Pedro

1.2. E ainda Judas também apresenta a Trindade Santa

dizendo: “Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a

vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós

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mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor

Jesus Cristo para a vida eterna” – Judas 1.20-21. Depois foi João

quem testemunhou sobre o Deus Triúno: “Nisto conhecemos que

estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito. E vimos, e

testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” – 1ª

João 4.13-14. Temos muitos outros textos bíblicos que

testemunham do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito

Santo, atribuindo a cada um deles divindade e aos três

unidade. Cada um deles é revelado nas Escrituras com os

mesmos atributos gloriosos. Assim cremos que o verdadeiro

Deus é um só em três Pessoas, três Pessoas num só Deus.

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Jesus Cristo: eterno e verdadeiro Deus

Artigo 10: Cremos que Jesus Cristo é, segundo sua

natureza divina, o Filho Unigênito de Deus, gerado desde a

eternidade, não feito nem criado – senão seria uma criatura -,

mas é da mesma substância e coeterno com o Pai, “o resplendor

da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hebreus 1:3), e, em tudo,

igual a Ele.

Ele é o Filho de Deus não somente desde que assumiu a

nossa natureza, mas desde a eternidade, conforme nos ensina

a comparação dos seguintes testemunhos: Moisés afirma que

Deus criou o mundo; o apóstolo João diz que tudo foi criado

pelo do Verbo, o qual chama Deus. A Carta aos Hebreus diz

que Deus criou o mundo por meio do seu Filho; igualmente o

apóstolo Paulo afirma que Deus criou todas as coisas por

meio de Jesus Cristo. Portanto, conclui-se necessariamente

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que aquele a quem chamam de Deus, de Verbo, de Filho e de

Jesus Cristo, existia de fato já no tempo em que todas as

coisas foram criadas por Ele. Por isso é que ele pôde dizer:

“Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou”

(João 8.58); e pôde orar: “Glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a

glória que tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17.5). Logo,

ele é o Deus verdadeiro e eterno, o onipotente a quem

invocamos, adoramos e servimos.

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Comentário: É muito fácil comprovar a divindade de

Jesus Cristo pelas Escrituras, basta conferir as profecias

messiânicas no Antigo Testamento, todas cumpridas em Jesus

de Nazaré, depois ler com atenção os evangelhos e constatar

esse fato maravilhoso. Além disso, temos o testemunho do

Espírito Santo que o comprova, bem como todos os escritos

apostólicos. Embora o Senhor Jesus não ficasse proclamando:

“Eu Sou Deus”, como gostam de fazer muitos falsos profetas,

todavia Ele fez coisas e falou palavras que claramente indicam

sua majestade e divindade. Nenhum homem poderia dizer: “…

antes que Abraão existisse, Eu Sou” – João 8.58, mas só alguém que

é eterno. Nenhum mortal diria ter poder sobre a morte, Jesus

o fez: “… dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira

de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder

para tornar a tomá-la” – João 10.17-18. Pouco mais adiante Ele

diz: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja

morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” –

João 11.25-26. Só alguém que tem a imortalidade poderia fazer

tal afirmação. Mas Ele disse mais: “Eu sou o caminho, e a verdade

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e a vida” – João 14.6), não disse ter, mas ser a verdade – e só

Deus é a verdade absoluta. Na mesma frase, bem como na

referência anterior, disse também ser a vida. Qual criatura

poderia dizer isso? Toda criatura, por mais gloriosa que seja

recebeu vida, mas Jesus disse ser a vida e poder conceder vida

– “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim

também o filho vivifica aquele que quer… Porque, como o Pai tem a

vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo”

– João 5.21, 26. Outra vez estando aqui na terra, Jesus disse

estar simultaneamente no céu – “Ora, ninguém subiu ao céu, senão

o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” – João 3.13,

assim afirmou sua onipresença, e ninguém tem onipresença

senão o próprio Deus; e o mesmo Ele disse em relação a sua

onipotência: “É-me todo o poder no céu e na terra” – Mateus 28.18; e

revelou também seu atributo da onisciência, por exemplo

quando disse a Natanael: “Antes que Filipe te chamasse, te vi eu,

estando tu debaixo da figueira” – João 1.48. Mas a maior revelação

que Ele fez foi quando afirmou ser a expressão e imagem do

Pai: “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e

já desde agora o conheceis, e o tendes visto… Quem me vê a mim vê o

Pai… Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As

palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que

está em mim, é quem faz as obras” – João 14.7-10. E ainda Jesus

recebeu adoração, o que nenhuma criatura temente a Deus

aceitaria, pois a adoração é devida apenas, unicamente, tão

somente a Deus. Contudo, Ele aceitou adoração: “E Tomé

respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!” – João 20.28. E

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também a mulher siro fenícia, o príncipe Jairo, o homem

gadareno, a mulher curada do fluxo, um dos dez leprosos

curados, e muitos outros prostraram-se aos pés de Jesus e Ele

não os repreendeu por isso. Se Ele não fosse Deus não

poderia aceitar essa adoração. Quando João quis adorar o anjo

que falava com ele e o anjo o reprovou: “E eu lancei-me a seus

pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu

conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a

Deus…. E disse-me: Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de

teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro.

Adora a Deus” – Apocalipse 19.10 e 22.9. Poderíamos trazer

muitos outros textos afirmando que Jesus é Deus. Sim, o

nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é Deus, juntamente com

o Pai e o Espírito Santo.

Além de todas as coisas que Jesus fez e falou que

indicam e comprovam sua divindade, e o testemunho dos

apóstolos que conviveram com Ele, podemos acrescentar, a

maneira como o Verbo Eterno invadiu o tempo. Jesus Cristo

de Nazaré foi o único homem que nasceu de uma mulher

virgem. Um anjo disse a jovem Maria que ela conceberia do

Espírito Santo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do

Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que

de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” – Lucas 1.35. E assim

foi, quando Maria de Nazaré se deu conta já estava grávida.

Dessa concepção sobrenatural nasceu o Ungido que se fez

carne, o próprio Criador vestido de criatura – Emanuel, Jesus

Cristo. Também quando Jesus foi suspenso na cruz no monte

Calvário, a criação manifestou-se de forma impressionante.

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Primeiro a terra escureceu-se – “E desde a hora sexta houve trevas

sobre toda a terra, até à hora nona” – Mateus 27.45, como que

representando as trevas espirituais da humanidade que

cometia a maior injustiça, o maior equívoco, crime e traição

de toda a história do tempo. Era como se o sol se escondesse

protegendo Aquele que havia sido exposto à maior vergonha:

martirizado nu sobre um horrível instrumento de suplício,

pois os homens não se contentaram apenas em matar Jesus,

senão também em o humilhar e lhe infligir terríveis torturas.

O escritor sagrado diz também que “o véu do templo se rasgou em

dois, de alto a baixo” – versículo 51, confirmando: 1) que aquele

seria o último sacrifício realizado pelos pecados, pois Jesus era

o Cordeiro prometido, o próprio Deus o entregou e ele se

ofereceu a si próprio como sacrifício; 2) que Deus se mudaria

daquele templo para habitar um novo templo – a Igreja; 3) que

a era mosaica-judaica havia se encerrado e iniciava-se uma

nova era numa nova manifestação da Aliança eterna; 4) que

iniciava-se a era do sacerdócio universal dos filhos de Deus,

encerrando a antiga era do sacerdócio levítico; 5) que Cristo

abriu um novo caminho para chegarmos a presença de Deus;

6) que a aliança do Sinai era passada dando lugar a aliança de

Sião; 7) que o tempo da Jerusalém terrena havia passado

dando lugar à Jerusalém celestial; 8) que agora o povo de

Deus não entraria mais num tabernáculo terreno, que era uma

figura do verdadeiro, mas que entrava no verdadeiro

tabernáculo, o celestial, onde Jesus entrou primeiro; 9) que o

antigo concerto do Cristo velado havia passado dando lugar

ao novo do Cristo revelado; 10) que a era dos tipos, das

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sombras e figuras dava lugar à era da essência, do corpo, da

realidade. O evangelista continuou narrando: “tremeu a terra, e

fenderam-se as pedras” – versículo 51 – não apenas o sol ocultou-se

mas também a terra tremeu, tão violentamente que até as

rochas foram partidas ao meio, como que desejando lançar

fora aqueles que cometiam tamanha maldade, e revelando que

Aquele que estava sendo sacrificado não era um homem

comum, mas era alguém soberano e todo-poderoso. A última

parte da narrativa revela algo ainda mais maravilhoso: “E

abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram

ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele,

entraram na cidade santa, e apareceram a muitos” – versículos 52 e 53.

Jesus afirmara ser a ressurreição e a vida, agora dava prova de

seu divino poder de dar vida a quem quer. Misteriosamente

muitos santos saíram de suas catacumbas e foram visitar seus

familiares e depois subiram com Jesus ao céu. Sim, tais fatos

comprovam e certificam que Jesus Cristo é Deus.

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O Espírito Santo: eterno e verdadeiro Deus

Artigo 11: Cremos e confessamos também que o

Espírito Santo procede do Pai e do Filho desde a eternidade.

Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; pode-se afirmar

apenas que ele procede de ambos. Ele é, pela ordem, a

Terceira Pessoa da Trindade, de igual substância majestade e

glória com o Pai e o Filho, verdadeiro e eterno Deus,

conforme nos ensinam as Sagradas Escrituras.

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Comentário: O Espírito Santo é o Terceiro na

composição da Santíssima Trindade. Composição é uma

linguagem humana e o dizemos com toda reverência. E

terceiro não significa em ordem de importância nem

hierarquia mas de função; Ele é um com o Pai e com o Filho.

Cada uma das Sagradas Pessoas representam a Trindade, onde

está um deles estão os Três. Eles têm funções diferentes mas

são Um só; estão juntos e unidos indivisivelmente. Quando

adoramos o verdadeiro Deus, adoramos as Três Pessoas

juntamente pois são indivisíveis e inseparáveis. O Senhor

Jesus ensinou que os seus seguidores deveriam receber o

batismo em nome dos Três – “Portanto ide, fazei discípulos de todas

as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito

Santo” – Mateus 28.19. Se o Espírito Santo não fosse uma

Pessoa, como afirmam atrevida e equivocadamente alguns,

essa fórmula do batismo cristão seria muito estranha, pois

seria um batismo em nome de Duas Pessoas e de uma energia

ou força ativa de Deus. Isso é impensável, inadmissível e

blasfemo. O Senhor Jesus era um Consolador e antes de

voltar ao céu disse que enviaria outro Consolador, igual a ele

porém distinto [ ἄλλος diferente] para ficar em seu lugar – “E

eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique

convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode

receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque

habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para

vós” – João 14.16-18. A promessa era tão clara: o Senhor Jesus

enviaria outra Pessoa, distinta dele, contudo igual em essência

e divindade. Era como se o próprio Jesus voltasse, por isso

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A Confissão Belga

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disse também: “Eu voltarei para vós”, mas quem veio foi o

Espírito Santo. Aqueles que negam que o Espírito Santo seja

uma Pessoa da Trindade atestam que são do mundo. Jesus

disse que o mundo não O reconheceria, mas somente aqueles

que são do Senhor; esses O reconhecem, O recebem e são

por Ele ensinados e guiados em toda a verdade. Jesus é um

Consolador, o Espírito Santo é o Outro. Jesus foi para o céu e

o Espírito veio para a terra. Jesus disse: “Eu vou, Ele virá”. O

apóstolo Paulo refere-se ao Espírito Santo como Espírito de

Deus e Espírito de Cristo – “Vós, porém, não estais na carne, mas

no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém

não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” – Romanos 8.9.

Quem habita o crente? Alguém, e esse Alguém é o Espírito

Santo – “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de

Deus habita em vós? … Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do

Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois

de vós mesmos?” – 1ª Coríntios 3.16; 6.19. Quem habita um

templo? Uma Pessoa. O Divino Residente em nós é o Senhor

Espírito Santo. Amém.

————————————————————————–

A criação de todas as coisas, especialmente dos

anjos

Artigo 12: Cremos que o Pai, por sua Palavra, isto é, por

meio de seu Filho, criou, do nada, o céu, a terra e todas as

criaturas, quando bem lhe aprouve, e que, a cada uma delas,

concedeu o ser, a forma e a aparência, bem como sua tarefa

específica e função para servirem ao seu Criador. Cremos que

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A Confissão Belga

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ele também continua a sustentá-las e governá-las segundo a

sua providência eterna e pelo seu poder infinito, para que

sirvam ao homem, a fim de que o homem possa servir ao seu

Deus.

Ele também criou os anjos bons, para serem seus

mensageiros e servirem a seus eleitos. Porém, da posição

exaltada em que foram criados por Deus, alguns deles caíram

na perdição eterna, tendo os demais, pela graça de Deus,

permanecido firmes em seu estado original. Os demônios e

os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos

de Deus e de todo o bem. E, como assassinos, esperam –

com todas as suas forças – uma oportunidade para

arruinarem a Igreja e a todos os seus membros, e para tudo

destruírem com os seus artifícios malignos. Por isso, pela

própria malignidade deles, estão condenados à perdição

eterna e aguardam, a cada dia, os seus horríveis tormentos.

Assim, abominamos e rejeitamos o erro dos Saduceus,

que negam a existência de espíritos e de anjos; e também os

erros dos Maniqueístas, que dizem que os demônios não

foram criados, mas que têm origem em si mesmos e que não

se corromperam, sendo malignos pela sua própria natureza.

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Comentário: Os cristãos são criacionistas, isto é creem

que tudo quanto existe tem um Criador Soberano e este é o

Deus Trino – “Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de

Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do

que é aparente” – Hebreus 11.3. Deus criou do nada, todas as

coisas visíveis e invisíveis, no céu e na terra. Não há nada em

toda a criação que tenha origem à parte de Deus. Deus criou

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A Confissão Belga

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os anjos como seres bons, mas uma parte deles caíram. Deus

criou o homem bom, mas ele caiu. Deus criou e também

sustenta, mantém, governa e conduz todas as coisas para o

seu devido fim, designado desde o princípio. A única razão

para Deus criar estava em si mesmo. Tudo quanto criou, Ele

mesmo o aprovou dizendo ser bom – “E viu Deus tudo quanto

tinha feito, e eis que era muito bom” – Gênesis 1.31. Tudo Ele fez para

sua glória – “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de

toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos

céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações,

sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”

– Colossenses 1.15-16. Em relação ao homem e a terra, podemos

dizer que tanto a primeira criação que caiu, quanto a nova

criação que é a redenção, Deus fez para a sua própria glória.

No âmbito maior o começo foi a criação dos anjos, dos quais

uma parte rebelou-se contra a autoridade de Deus. Os anjos

maus, que foram criados bons, foram as primeiras criaturas a

se rebelarem e serem excluídas da presença de Deus. Eles

tornaram-se cruéis assassinos e opositores, odeiam a Deus, a

Igreja e tudo o que é bom. Por isso foram condenados e serão

punidos no fogo eterno – “E aos anjos que não guardaram o seu

principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na

escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia” – Judas

1.6; e também: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de

fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite

serão atormentados para todo o sempre” – Apocalipse 20.10. Temos

que viver próximos do Senhor para sermos protegidos dos

ataques dos nossos inimigos que nos espreitam dia e noite –

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A Confissão Belga

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“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em

derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” – 1ª

Pedro 5.8. De todos os anjos que caíram nenhum só foi

redimido porque não há redenção para anjos; os anjos eleitos

foram impedidos pela graça de Deus de cair. Com os homens

foi diferente, em Adão todos caíram, e Deus redimiu uma

parte deles, os eleitos. De modo que todos os anjos eleitos

(não caídos) e os homens eleitos (redimidos) estarão na

presença de Deus para sempre e se testemunharão a graça

misericordiosa de Deus. Noutra condição estão todos os

anjos caídos (não eleitos) e os homens caídos (não eleitos; não

redimidos) habitarão a “cidade de fogo” para sempre. Assim

Deus será sempre e em tudo glorificado. Nos santos

redimidos, sua misericórdia, graça, bondade, serão

glorificados; nos rebeldes serão glorificados a sua retidão, sua

justiça e ira santa.

————————————————————————–

A providência de Deus

Artigo 13: Cremos que o bom Deus, depois de haver

criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao

destino ou acaso, mas, segundo a sua santa vontade, ele as

rege e governa de tal modo que no mundo nada acontece sem

a sua determinação. Deus, contudo, não é o autor nem é

culpável dos pecados que se cometem; pois seu poder e

bondade são tão grandes e incompreensíveis, que ele ordena e

faz a sua obra de modo mais excelente e justíssimo, ainda que

os demônios e os ímpios ajam com injustiça. E, quanto àquilo

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A Confissão Belga

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que ele faz que ultrapassa o entendimento humano, não

queremos investigar curiosamente além da nossa capacidade

de entender. Mas, com toda humildade e reverência,

adoramos os justos juízos de Deus, que nos são ocultos, e nos

contentamos em ser discípulos de Cristo, que devem aprender

apenas o que ele nos ensina em sua Palavra, sem transgredir

esses limites.

Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando

nos ensina que nada nos acontece por acaso, mas somente

pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cuida

de nós com zelo paternal, guardando de tal modo as suas

criaturas debaixo do seu poder, que nem mesmo um cabelo

da nossa cabeça – pois estão todos contados – ou um pardal

cai por terra sem o conhecimento do nosso Pai (Mateus

10.29-30). Nisso confiamos, pois sabemos que ele reprime o

maligno e todos os nossos inimigos para que não possam nos

ferir sem a sua permissão ou vontade.

Por isso, rejeitamos o detestável erro dos Epicureus, que

afirmam que Deus não se importa com nada, mas tudo

enrega ao acaso.

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Comentário: Quando falamos sobre a Providência de

Deus não devemos pensar apenas em Deus dando provisão

aos seus filhos, como pode parecer a princípio, quando vemos

o tema de maneira superficial. Primeiro, Deus é providente

porque, ele provê para si mesmo, tudo quanto quer para o

cumprimento de seus planos e decretos eternos. No texto de

Gênesis vinte e dois, quando Deus pediu a Abraão, que lhe

sacrificasse Isaque, o seu único filho, o próprio Isaque

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A Confissão Belga

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perguntou a seu pai: “… Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu

filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro

para o holocausto?” – Gênesis 22.7; E Abraão lhe respondeu: “…

Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho…” –

versículo 8. Então Abraão chamou aquele lugar de Javé Jiré,

isto é, o Senhor proverá – “E chamou Abraão o nome daquele

lugar o SENHOR proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte

do SENHOR se proverá” – versículo 14. Javé Jiré significa que Deus

provê para si mesmo e para sua glória todas as coisas. Então,

Providência significa Deus mantendo, sustentando,

governando, dirigindo a história da criação e do tempo para o

fim que Ele decretou. Tudo o que acontece em toda a

extensão da Criação de Deus, seja no céu ou na terra, pode-se

dizer que a Providência está presente e atuante. É grande

tolice e grave insulto ao Sábio Criador, afirmar-se que Deus

não se importa com as coisas que criou. Ele cuida

pessoalmente da sua criação e jamais a abandonou. Ele dirige

história da criação e da redenção (que é a segunda criação),

desde os maiores atos descendo até as minúcias, de modo que

não há acasos, acidentes, coincidências, mas em toda a criação

há apenas propósitos. Muita coisa para nós é fortuita, mas não

para o Senhor. Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu

trabalho também” – João 5.17, isto é, ‘trabalhamos juntos,

mantendo, sustentando, dirigindo a criação para que os

decretos eternos se cumpram’. “O qual, sendo o resplendor da sua

glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas

pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação das

nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” – Hebreus

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A Confissão Belga

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1.3. E em tudo o que faz Deus há um justo, bom e santo

propósito; assim não existem acasos neste mundo mas sim

propósitos divinos. Com relação ao mal que há no mundo,

Deus não é, absolutamente, seu autor, porque o mal nasceu

no coração da criatura. Tudo o que sabemos é que Deus fez

uma criatura perfeita, bela, sábia e poderosa e, trouxe essa

criatura para viver bem perto de si – um querubim. Porém

toda beleza, sabedoria e poder levou esse querubim a adorarse a si próprio e sua própria vontade – ele afrontou a

autoridade de Deus, seu Criador. Nesse dia o mal entrou na

criação de Deus e espalhou-se entre muitos anjos, os quais

foram excluídos da comunhão de Deus. Esses são Satanás e

seus demônios. Quando Deus criou o homem, também o fez

perfeito, dando-lhe inteligência, volição, liberdade de escolha,

até porque Deus quer ser escolhido e amado por suas

criaturas e que elas respondam espontaneamente ao seu amor.

Mas toda essa bondade de Deus novamente não foi apreciada.

E o homem que fora feito a imagem e semelhança de Deus, o

traiu, escolhendo livremente desobedecê-lo, dando mais

crédito à Serpente do que à Palavra de Deus. Assim o mal

chegou à terra e espalhou-se entre a humanidade. Mas nesse

contexto de pecado e rebelião, Deus revelou seu amor

chamando o homem à reconciliação. Todos quantos ouvem a

sua voz e vêm a Ele são perdoados e reconciliados com Ele –

esses são a Igreja de Deus na terra. Porém, Satanás e seus

demônios odeiam a todos quantos tomam esse caminho de

volta. Sabemos, contudo que Deus, através da sua

Providência, protege os seus fiéis e os livra das mãos do

Inimigo. Cada cristão pode ter a certeza de que em tudo

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A Confissão Belga

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quanto nos acontece, a mão do nosso Pai amoroso está

presente. É isso que a Confissão diz, e é uma verdade

grandemente encorajadora. O Deus que reina sobre todo o

universo, com toda segurança, sabedoria e poder, é também o

nosso Pai. Nisso está o nosso consolo e descanso.

————————————————————————–

A criação e queda do homem e a sua incapacidade

de realizar o que seja verdadeiramente bom

Artigo 14: Cremos que Deus criou o homem do pó da

terra, e o fez e o formou à sua imagem e semelhança: bom,

justo e santo. A sua vontade ajustava-se à vontade de Deus em

tudo. Mas, quando o homem estava naquele estado sublime,

ele não o compreendeu nem reconheceu a sua posição

excelente, mas deu ouvido às palavras do diabo e sujeitou-se

por livre vontade ao pecado e, consequentemente, à morte e à

maldição. Porque transgrediu o mandamento de vida que

recebera, por seu pecado ele se apartou de Deus, que era a sua

vida verdadeira, corrompeu toda a sua natureza, tornando-se

pois, merecedor da morte física e espiritual.

Havendo o homem se tornado ímpio e perverso,

corrupto em todas as suas práticas, perdeu todos os dons

excelentes que havia recebido de Deus. Nada lhe restou disso,

senão uns poucos vestígios, suficientes para torná-lo

indesculpável. Logo, qualquer luz que havia em nós

transformou-se em trevas, como nos ensina a Escritura: “E a

luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (João

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A Confissão Belga

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1.5). Aqui o apóstolo João chama a natureza humana de

“trevas”.

Rejeitamos, portanto, todo ensinamento sobre o livrearbítrio que seja contrário a isso, porque o homem não passa

de escravo do pecado – “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em

verdade, vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado”

(João 8.34), e ninguém “pode receber coisa alguma, se lhe não for

dado do céu” (João 3.27). Pois quem é que ousa vangloriar-se de

poder por si mesmo fazer algum bem, quando Cristo afirma

que: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não

trouxer…” (João 6.44). Quem se gloriará da sua vontade própria,

depois de compreender que “o pendor da carne é inimizade contra

Deus?” (Romanos 8.7). Quem pode falar do seu entendimento,

quando “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de

Deus?” (1a

 Coríntios 2.14). Em resumo, quem é que ousa

reivindicar, seja o que for, quando entende que “não somos

capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós mesmos, mas a

nossa capacidade vem de Deus?” (2a

 Coríntios 3.5). Por isso, aquilo

que o apóstolo diz deve justamente permanecer certo e firme:

“Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o realizar,

segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13). Pois, não há

compreensão nem conformidade com o entendimento e a

vontade de Deus, se Cristo não o efetuar em nós, segundo ele

nos ensina: “sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).

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Comentário: É maravilhoso observar e constatar nas

escrituras sagradas que o homem foi a única criatura que

Deus fez com suas próprias mãos. Depois de haver chamado

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A Confissão Belga

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à existência todas as coisas disse Deus: “Façamos o homem à

nossa imagem, conforme a nossa semelhança” – Gênesis 1.26.

“Façamos” – revela que Ele tomou barro em suas mãos,

trabalhou-o e o modelou, em seguida soprou em suas narinas,

dando-lhe vida – “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e

soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma

vivente” – Gênesis 2.7. Diferentemente dos animais e o restante

da criação, que Deus apenas chamou a existência, o homem

Ele manuseou, construiu, edificou. Por isso se diz que o

homem é a coroa da criação de Deus. Porém, muito embora

Adão tenha nascido perfeito, desobedeceu a Deus e deu

ouvidos ao diabo, caindo da sua posição aliando-se ao inimigo

de Deus, colocando toda sua descendência sob a maldição e a

ira de divina. Daí se dizer, contra a teoria evolucionista, que o

homem é um “Adão caído” e não um “primata evoluído”; ele

regrediu e não progrediu, caiu e não evoluiu. Mas Deus que já

sabia que isto iria acontecer, depois da queda, estendeu a mão

ao homem caído, para que ele não fosse condenado com os

demônios. Iniciava-se a grande e maravilhosa obra da

redenção – se houvesse evolução não seria necessária a

redenção. O fato é que a queda trouxe grandes prejuízos à

criação. Em lugar daqueles dons maravilhosos que o homem

havia recebido, agora manifesta uma inclinação para o mal.

Tornou-se corrupto, rebelde, inóspito e indiferente para com

Deus. Sua mente tornou-se entenebrecida e ele perdeu a vida

de Deus – “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de

Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” – Efésios

4.18. Ele tornou-se um fugitivo, vagando sem rumo – “Mas

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A Confissão Belga

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aquele que odeia a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não

sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos” – 1ª João

2.11. Aquela vontade livre que o homem possuía antes da

queda, agora está corrompida e dominada por sua inclinação

pecaminosa e tudo o que pode fazer é pecar, ir contra a lei de

Deus, andar fora dos seus limites. Até mesmo suas melhores

intenções e escolhas apresentam traços do pecado. Não há

ensino, nem educação, nem religião que possa reformar o

homem caído, ele necessita de um novo nascimento – o

nascimento do Espírito. Mas o homem nem mesmo sabe

dessa sua necessidade, não tem entendimento da sua real

condição. E é aqui que entra a pregação das boas novas. A

solução é Cristo Jesus; mas para o pecador vir a Cristo, precisa

ser trazido por Deus, porque por si mesmo nunca fará esse

caminho de volta, pois não tem esse desejo. Como na

parábola das cem ovelhas, que o pastor buscou a ovelhinha

desgarrada, tomou-a sobre os seus ombros e trouxe-a de volta

ao redil, outro tanto, as ovelhas do Senhor precisam ser

“carregadas” de volta para Deus e agregadas ao rebanho.

————————————————————————–

O pecado original

Artigo 15: Cremos que, pela desobediência de Adão, o

pecado original se estendeu a toda a raça humana. Esse

pecado é a corrupção de toda a natureza humana e um mal

hereditário que contamina até mesmo as criancinhas no

ventre da mãe. Como uma raiz, ele produz no homem toda a

sorte de pecados. É, portanto, tão vil e abominável diante de

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Deus que é suficiente para condenar a raça humana. Ele não é

eliminado ou erradicado nem mesmo pelo batismo, pois o

pecado continuamente jorra dessa corrupção como a água

corrente de uma fonte contaminada. No entanto, apesar de

tudo isso, o pecado original não é imputado para a

condenação dos filhos de Deus, mas, por sua graça e

misericórdia, lhes é perdoado. Isso não significa que os

crentes podem descansar tranquilamente em seus pecados,

mas que a consciência dessa corrupção muitas vezes pode

fazê-los gemer, na ansiosa expectativa de serem libertos do

corpo desta morte.

A esse respeito, repudiamos o erro dos Pelagianos, que

dizem ser esse pecado apenas uma questão de imitação.

————————————————————————–

Comentário: Em Adão toda a raça humana pecou e

decaiu daquela glória original, pois em Adão estava

representada. Ele é o cabeça da humanidade, tendo ele caído,

toda a sua descendência tornou-se uma raça caída. O homem

nasce neste mundo e já traz consigo o gene adâmico

contaminado pela queda, ou seja, a hereditariedade caída.

Uma criança não aprende a pecar imitando os mais velhos, ao

contrário, cada novo ser que vem ao mundo traz dentro de si

a semente do pecado, que com o tempo frutificará e

multiplicará, revelando a corrupção do coração do homem e

sua rejeição a Deus e a sua santa lei. O homem é pecador não

porque peca, mas ele peca porque é pecador, esta é a sua

natureza. Um limoeiro produz limões porque é limoeiro, é sua

natureza. Assim como a árvore produz seu fruto de acordo

com sua natureza, assim também o homem. O pecado

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original é a fonte de onde jorram os demais pecados ao longo

da nossa vida. Adão fora criado a imagem e semelhança de

Deus e caíra desse estado glorioso. Por causa da queda Adão

o seu filho já trouxe a sua imagem caída – “E Adão … gerou um

filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” – Gênesis 5.3. Seu

filho ainda nasceu trazendo a imagem de Deus, mas não mais

como era antes da queda; agora seus filhos já nasciam caídos e

depravados. Ser depravado não significa que o homem é tão

mau quanto alguém poderia ser, mas que cada parte de seu ser

está maculada pelo pecado – sua mente, vontade, emoções,

suas motivações, suas ações e reações, tudo está envenenado,

tudo no homem natural é desordenado. Embora nem todos

sejam tão maus quanto um homem se pode tornar, há nele

potencial para tornar-se tão maligno quanto um diabo. O

homem natural peca até quando ora pois suas motivações são

erradas e egocêntricas. Quando o pecador é regenerado, é

liberto da culpa, da escravidão e domínio do pecado, mas

ainda não da presença do pecado, pois esse ainda está em seu

corpo de carne – “… o pecado que habita em mim” – Romanos 7.17.

A Confissão explica que nem mesmo o batismo dá conta

dessa fonte de morte que é o pecado original; nem mesmo a

regeneração do nosso espírito resolve definitivamente o

problema, só a morte encerra sua atividade em nossas vidas

aqui e, depois a glorificação exterminará o pecado de nós para

sempre. Daí a necessidade de travar uma batalha diária contra

as tentações, contra a cobiça, a concupiscência e impurezas;

sim, a importância da renúncia da nossa própria vontade. O

grande sonho do crente é contemplar o dia em que será livre

da presença do pecado para sempre; é ansiar por aquele lugar

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onde o pecado não entrará e pecar será uma opção inválida ou

inexistente para sempre, eternamente, amém.

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A eleição divina

Artigo 16: Cremos que, quando toda a descendência de

Adão se precipitou na perdição e na ruína pela transgressão

do primeiro homem, Deus se manifestou como realmente é:

misericordioso e justo. Misericordioso, por socorrer e salvar

dessa perdição aos que, em seu conselho eterno e imutável,

ele elegeu por pura bondade em Jesus Cristo nosso Senhor, se

levar em consideração nenhuma das obras deles; Justo, por

deixar os outros na queda e na perdição nas quais eles

mesmos se precipitaram.

————————————————————————–

Comentário: O lado bom, por assim dizer, da entrada

do mal na criação é que o melhor lugar para que a graça, a

misericórdia, o amor de Deus se revelem plenamente é este

mundo caído. Alguns dos maravilhosos atributos de Deus só

podem ser conhecidos plenamente no meio do caos que o

pecado trouxe neste mundo. Foi aqui que o Filho eterno veio

para manifestar o maior ato de amor jamais visto. Ele veio

para morrer pelos eleitos e salvá-los da condenação eterna

que a humanidade sem Deus justamente sofrerá. Um pecador

redimido é o único que pode conhecer por experiência

própria as dimensões do amor de Deus – “…a fim de, estando

arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender,

com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e

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A Confissão Belga

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a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o

entendimento” – Efésios 3.17-19. Apenas um homem redimido

pode apreciar devidamente o seu Redentor. Por isso também

a relação de Cristo com seus redimidos é completamente

diferente da que Ele tem com as demais criaturas, incluindo

os anjos eleitos; é uma relação descrita como do Noivo

Celestial com sua Noiva. Dentre a raça criada e caída, Deus

escolheu um povo para si e o redimiu, e quanto aos demais os

abandonou justamente às consequências de seus próprios

pecados. Os eleitos são um presente do Pai à seu Filho Jesus

Cristo – “Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a

vida eterna a todos quantos lhe deste… Eu rogo por eles; não rogo pelo

mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus… Estando eu

com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles

que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição,

para que a Escritura se cumprisse” – João 17.2, 9, 12, e tal presente

jamais será desprezado – “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o

que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” – João 6.37. Por

isso, e somente por isso, o crente fiel jamais perde sua

salvação. Por outro lado, este mundo caído também é o lugar

próprio para Deus revelar seu padrão de justiça e sua ira santa

contra o pecado. Se Deus fosse agir apenas com sua justiça,

ninguém, nenhum filho de Adão seria salvo, antes todos

seriam abandonados na queda e na maldição, justamente. Mas,

ocorre que todos os seus atributos são revelados na criação:

seu poder, sua sabedoria, seu amor, graça e misericórdia, sua

justiça e ira santa e assim por diante. Deus não faria nenhuma

injustiça se abandonasse todos os homens nos pecados deles;

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e se desejasse perdoar a todos os homens também poderia

fazê-lo. Outro tanto, Ele não comete qualquer injustiça

quando se propõe a salvar uma parte deles, e deixar os demais

seguirem para a condenação. Afinal, Ele é o Criador, o Dono

de tudo e não deve explicações à quem quer que seja. O ímpio

ouve essa doutrina e range os dentes, o santo a ouve, prostrase e adora.

————————————————————————–

O socorro do homem caído

Artigo 17: Cremos que, ao ver que o homem se

precipitara na morte física e espiritual e se fizera

completamente miserável, o nosso Deus gracioso, em sua

maravilhosa sabedoria e bondade, saiu em busca dele, quando

fugiu trêmulo da sua presença. Deus o consolou com a

promessa de que lhe daria o seu Filho, nascido de mulher –

“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho,

nascido de mulher, nascido sob a lei”

(Gálatas 4.4), para esmagar a cabeça da serpente – “E porei

inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta

te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3.15); e tornálo bem-aventurado.

————————————————————————–

Comentário: Se após a queda Deus abandonasse o

homem em seu pecado, fá-lo-ia justamente; se Deus nunca

mais falasse com o homem, ele nunca mais veria a Deus e sua

descendência nunca o conheceria. Não, o homem jamais

voltaria para a comunhão de Deus e perder-se-ia na escuridão

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A Confissão Belga

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eterna. Mas Deus quis perdoá-lo e reconciliá-lo consigo, ainda

que para isso teria que entregar seu Filho Unigênito para que

sofresse a pena em lugar do homem pecador e fizesse

expiação por ele. Assim, o Filho Eterno foi entregue pelo Pai,

para que efetuasse a expiação salvadora. Deus buscou o

homem, falou-lhe e lhe anunciou o Redentor e a redenção.

Desde então todo homem que confia no Redentor que Deus

constituiu é reconciliado e volta para a Sua comunhão. Após a

queda e a entrada do pecado na humanidade, duas gerações

espirituais se formaram: uma é chamada de “descendência da

mulher” à qual pertence o próprio Redentor e todos os seus

redimidos, e a outra geração é chamada de “descendência da

serpente” à qual pertencem os demais homens. A partir de

Gênesis três duas linhas são traçadas através das Escrituras,

mostrando o desenrolar da história dessas duas gerações

diametralmente opostas, distintas e rivais. Os nomes para

identificar essas gerações nas escrituras mudam; recebem os

nomes de: luz e trevas; judeus e gentios; pios e ímpios; crentes

e descrentes; fiéis e infiéis; santos e iníquos; bons e maus;

filhos de Deus e filhos do diabo; benditos e malditos; etc. Ao

nascerem neste mundo todos os homens são iguais, mas Deus

tem os seus escolhidos que no devido tempo os chama e os

atrai à Cristo, o Redentor. É tristemente notável na

humanidade, que desde o incidente no Jardim do Éden os

filhos de Adão ajam exatamente como ele agiu:

desobedecendo, desprezando as leis de Deus, fugindo da

presença de Deus, escondendo-se atrás de alguma religião,

justificando-se, empurrando a culpa para longe de si, tentando

esconder sua nudez espiritual, fazendo-se de desentendidos. E

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A Confissão Belga

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a menos que Deus intervenha na vida de cada um, os homens

fugirão de Deus até caírem na boca do dragão, que é a antiga

serpente, e mergulharem nas trevas eternas. Todos os homens,

mesmo os eleitos de Deus nascem no pecado; aos eleitos foi

providenciada redenção, eles são redimidos e libertos da

escravidão do pecado; ainda que enquanto estiverem na terra

eventualmente cometam pecados, todavia o pecado não é

mais senhor de suas vidas, nem mais é seu estilo de vida. Ao

contrário eles resistem e combatem contra o pecado e andam

no temor de Deus. Neste assunto o que difere o salvo do nãosalvo é que este último é pelo pecado e contra Deus,

enquanto que o salvo é por Deus contra o pecado.

————————————————————————–

A encarnação do Filho de Deus

Artigo 18: Confessamos, portanto, que Deus cumpriu a

promessa que fizera aos patriarcas pela boca de seus santos

profetas quando, no tempo determinado por ele, enviou seu

próprio Filho Unigênito e eterno ao mundo, que assumiu a

forma de servo e nasceu à semelhança de homem (Fp. 2.7).

Ele verdadeiramente assumiu a natureza humana verdadeira

com todas as suas fraquezas, sem pecado, pois foi concebido

no ventre da bendita virgem Maria pelo poder do Espírito

Santo e não pela ação do homem. Para que fosse

verdadeiramente homem, ele não apenas assumiu a natureza

humana quanto ao corpo, mas também uma alma humana

verdadeira. Pois, assim como o corpo e a alma estavam

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perdidos, foi necessário que ele assumisse ambos para salválos.

Por isso, confessamos (contra a heresia dos Anabatistas

que negam que Cristo assumiu a natureza carnal da sua mãe)

que Cristo partilhou da carne e do sangue dos filhos (Heb.

2.14). ele é da descendência de Davi (Atos 2.30); nascido da

descendência de Davi segundo a carne (Rom. 1.3); fruto do

ventre da virgem Maria (Luc. 1.42); nascido de mulher (Gál.

4.4); uma renovo de Davi (Jer. 33.15); rebento do tronco de

Jessé (Is. 11.1); procedente da tribo de Judá (Heb. 7.14);

descendente dos judeus segundo a carne (Rom. 9.5); da

semente de Abraão (Gál. 3.16), pois o Filho estava ligado à

descendência de Abraão. Portanto, ele tinha de ser igual aos

seus irmãos em todos os aspectos, contudo, sem pecado

(Heb. 2.16, 17; 4.15).

Assim ele é verdadeiramente o nosso Emanuel, isto é,

Deus conosco (Mat. 1.23).

————————————————————————–

Comentário: A primeira vez que Deus falou sobre o

Messias Redentor, em Gênesis 3.15, disse que ele seria

descendente da mulher. Como não disse descendente do

homem, então estava no âmago desta promessa tanto uma

divina concepção virginal quanto a divindade do próprio

Redentor. Mais tarde revelou-se que Ele seria um descente de

Abraão, depois de Jacó, e em seguida diz que Ele nasceria da

tribo de Judá. E prosseguindo a revelação disse que Ele

nasceria na família de Davi. E assim foi, no fim da era judaica,

Ele veio cumprindo todas as profecias a seu respeito. E, sem

dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: “Deus se

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manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado

aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” – 1ª Timóteo

3.16. Grande é o mistério da encarnação, inconcebível e

incompreensível à mente humana; Deus mesmo fez-se

homem, o Criador vestiu-se de criatura, assumindo a forma

humana; assim o próprio Deus esteve em carne neste mundo

por 33 anos, na Pessoa de seu Filho Jesus Cristo; este é o

Verbo Divino. O Filho Eterno sempre esteve com o Pai, já o

próprio homem Jesus de Nazaré foi uma geração divina no

tempo. Em sua concepção não houve participação do homem

porque Maria concebeu por obra do Espírito Santo.

Enquanto esteve no céu Ele era apenas Divino. Vindo a este

mundo tornou-se também humano. E ao retornar ao céu foi

como Deus-Homem, por isso a encarnação do Verbo mudou

a história do tempo e da eternidade para sempre. Hoje está

assentado naquele alto e sublime trono, a direita do Pai; Ele é

o Deus-Homem – Jesus Cristo, o nosso Senhor e

representante no céu, o cabeça do corpo, sua Igreja. Amém.

————————————————————————–

As duas naturezas na única Pessoa de Cristo

Artigo 19: Cremos que, por essa concepção, a Pessoa do

filho de Deus está inseparavelmente unida e ligada à natureza

humana, de modo que não há dois filhos de Deus nem dua

pessoas, mas duas naturezas unidas em uma única Pessoa.

Cada uma delas mantém as suas características distintas: a sua

natureza divina permaneceu sempre não-criada, sem começo

de dias e nem fim de vida (Heb. 7.3), preenchendo céu e terra.

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A sua natureza humana também não perdeu as suas

características: tem começo de dias e continua criada; é finita e

conserva todos os atributos de um corpo verdadeiro. No

entanto, pela sua ressurreição, ele concedeu imortalidade à sua

natureza humana, não havendo modificado a realidade dela,

pois a nossa salvação e ressurreição dependem também da

realidade do seu corpo.

Contudo, essas duas naturezas estão tão intimamente

unidas em uma única Pessoa que não foram separadas nem

mesmo por sua morte. Ao morrer, portanto, ele rendeu nas

mãos do Pai um espírito humano verdadeiro, que se apartou

do seu corpo. Entretanto, a sua divindade permaneceu sempre

unida à sua naturezas humana, até mesmo quando ele jazia na

sepultura. A natureza divina sempre permaneceu nele,

exatamente como estava nele quando ele era uma criancinha,

embora por um tempo não tivesse se manifestado como tal.

Por isso, confessamos que ele é verdadeiro Deus e

verdadeiro homem: verdadeiro Deus, a fim de vencer a morte

pelo seu poder; e verdadeiro homem, a fim de morrer por

nós, segundo as fraquezas da sua carne.

————————————————————————–

Comentário: As duas naturezas do nosso Salvador é

outro grandioso mistério de Deus. O Filho Eterno é Deus

que é também homem, e homem que também é Deus – isto é

maravilhosíssimo e mais uma vez excede o nosso

entendimento e quedamos extasiados diante de tal mistério.

Jesus Nazareno é o único ser que tem duas naturezas distintas.

Para ser o nosso Salvador ele precisava preencher dois

requisitos essenciais: 1) precisava ser homem, porque só

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alguém da nossa raça, nascido de mulher, poderia nos

representar e sofrer a pena do pecado em nosso lugar – “E

Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós

nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra

pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si

mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus

devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para

reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” – João

11.49-52; esse homem teria que ser sem pecado porque

morreria em lugar dos pecadores e precisava ter um sangue

inocente, sem culpa; 2) precisava ser também Deus, alguém

que tivesse poder para enfrentar a morte, o inferno, Satanás e

todos os demônios, e vencê-los todos; e mais, receberia todo

impacto da infinita, justa e santa ira divina contra o pecado, o

que apenas o Filho de Deus mesmo poderia fazê-lo. Daí

nosso Salvador precisava ter duas naturezas. Sua natureza

humana herdou de Maria e a natureza divina sempre existiu.

Se Maria não fosse totalmente humana, mas fosse uma

espécie de deusa [como afirmam os romanistas], então não

poderia ser a mãe de Jesus, pois ela deveria lhe dar a natureza

humana, pois a divina Ele já trouxe do céu. O Senhor Jesus

era ao mesmo tempo: finito e infinito; dependente e

independente; mutável e imutável; sujeito ao espaço e nãosujeito; sujeito ao tempo e não-sujeito; passível de tentação e

não passível; todo-fraco e todo-poderoso; com conhecimento

limitado e conhecimento ilimitado. Depois da ressurreição Ele

continuou com sua natureza humana, pois dela dependem a

nossa ressurreição e salvação. No último dia Ele “transformará o

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nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso” – Filipenses

3.21. Assim, as duas naturezas de Jesus Cristo é um dos

grandiosos mistérios da eternidade. Jesus Cristo é o único

Deus que se fez homem sem nunca deixar de ser Deus, e será

para sempre o Homem-Deus. Amém.

————————————————————————–

A justiça e a misericórdia de Deus em Cristo

Artigo 20: Cremos que Deus, perfeitamente

misericordioso e justo, enviou o seu Filho para assumir a

mesma natureza na qual se cometer a desobediência, para

fazer satisfação nessa mesma natureza e suportar o castigo do

pecado através de seu sofrimento e morte mui amargos. Deus,

portanto, manifestou a sua justiça contra o seu Filho quando

colocou sobre ele as nossas iniquidades, e, sobre nós, que

éramos culpados e merecedores da condenação eterna,

derramou a sua bondade e misericórdia. Por amor

perfeitíssimo, ele entregou o seu Filho para morrer por nós e

o ressuscitou para a nossa justificação, a fim de que, por ele,

possamos obter imortalidade e vida eternal.

————————————————————————–

Comentário: Olhando de maneira superficial, a justiça e

a misericórdia de Deus podem até parecer inimigas e

contraditórias, mas de fato são irmãs porque são dois

atributos eternos de Deus, de modo que uma não anula a

outra, mas a completa. E por causa de Jesus Cristo, vemos

esses dois atributos operando juntos. Por um lado a justiça

divina exigindo do nosso Substituto a punição que nos era

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devida e por outro lado a misericórdia divina não imputando

a nós nossos pecados. Como poderia um juiz ser ao mesmo

tempo justo e misericordioso, ou ainda mais, justo e

justificador para com um condenado? Se ele for justo apenas

sentenciará o réu, se for justificador deverá inocentá-lo, mas

não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Contudo foi

o que o Supremo Juiz fez em relação a nós. Mesmo sendo nós

culpados e réus, Ele, numa sentença judicial e forense nos

declarou justos – “Para demonstração da sua justiça neste tempo

presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em

Jesus” – Romanos 3.26. Jesus Cristo foi declarado justo e

inculpável perante os tribunais humanos – “ … Não acho nele

crime algum;… Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui

vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum;…

Vendo-o pois os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram,

dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e

crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele” – João 18.38; 19.4,

6; “Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis

que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o

acusais, acho neste homem. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos

remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte” – Lucas

23.14-15. Contudo, o mesmo juiz que o declarou várias vezes

inocente, o condenou à morte; Deus fez assim para que nós,

os verdadeiros culpados, fôssemos declarados justos. Fomos

declarados justificados porque a justa justiça não requer a

mesma dívida duplicadamente. Nossa dívida pecaminosa com

a justiça divina foi creditada à Cristo e a justiça e obediência

de Cristo foram creditadas a nós. Assim fomos justificados

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diante de Deus por causa da propiciação feita por Cristo, isto

é a morte de Jesus nos tornou propícios diante de Deus,

porque a sua justiça foi satisfeita – “E ele é a propiciação pelos

nossos pecados – 1ª João 2.2; sua expiação por nós tornou-nos

agradáveis a Deus. Fomos aceitos diante de Deus no Amado –

“… nos fez agradáveis a si no Amado” – Efésios 1.6. Deus não mediu

sofrimento para nos redimir, antes pagou o mais alto preço,

deixando que Seu Filho fosse sacrificado em nosso lugar.

Nosso Deus e Pai é “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho

poupou, antes o entregou por todos nós…” – Romanos 8.32. Nosso

Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, ofereceu um sacrifício de si

mesmo, isto é, ele, ao mesmo tempo é o Sacerdote e também

o a Vítima oferecida. Ele fez-se homem e assumiu a natureza

humana mas sem pecado, para que pudesse fazer expiação

pelo nosso pecado. “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma

de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de

homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte

de cruz” – Filipenses 2.7-8. Jesus era em tudo semelhante a nós

mas sem pecado – “… Deus, enviando o seu Filho em semelhança da

carne do pecado” – Romanos 8.3. Por isso diz: “em semelhança”

não igual, pois ele não tinha pecado.

————————————————————————–

A satisfação de Cristo, nosso Suma Sacerdote

Artigo 21: Cremos que Jesus Cristo foi confirmado por

juramento para ser Sumo Sacerdote para sempre, segundo a

ordem de Melquisedeque. Ele se apresentou em nosso lugar

diante de seu Pai, aplacando-lhe a ira e satisfazendo-o

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totalmente pela oferta de si mesmo sobre o madeiro da cruz,

onde verteu o seu precioso sangue para a purificação dos

nossos pecados, conforme predisseram os profetas. Pois está

escrito: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas

pisaduras fomos sarados”; “Como cordeiro foi levado ao matadouro”; “Foi

contado com os transgressores” (Is. 53.5, 7, 12) e condenado como

um criminoso por Pôncio Pilatos, que no entanto havia antes

declarado a sua inocência. Ele restituiu o que não havia

roubado (Sal. 69.4). Ele morreu, “o justo pelos injustos” (1a

 Ped.

3.18). Ele sofreu no corpo e na alma, sentindo o castigo

terrível causado pelos nossos pecados e o “seus suor se tornou

como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Luc. 22.44). Finalmente,

ele exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

(Mat. 27.46). Tudo isso ele suportou para o perdão dos nossos

pecados.

Portanto, dizemos, exatamente como Paulo, que nada

sabemos “senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1a

 Cor. 2.2).

Consideramos “tudo como perda, por causa da sublimidade do

conhecimento de Cristo Jesus” nosso Senhor (Fp. 3.8).

Encontramos consolo nas suas feridas e não temos

necessidade de buscar ou de inventar qualquer outro meio de

reconciliação com Deus, senão nesse único sacrifício, ofertado

uma única vez, através do qual os que creem foram

aperfeiçoados para sempre (Heb. 10.14). Por isso, o anjo de

Deus o chamou de Jesus, isso é, Salvador, “porque ele salvará o

seu povo dos pecados deles” (Mat. 1.21).

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Comentário: A frase “segundo a ordem de Melquisedeque”

significa que Jesus não seria da tribo dos levitas de onde,

segundo a lei, saíam todos os sacerdotes, porque

Melquisedeque foi um sacerdote anterior a lei, anterior

mesmo a Arão, ele não era levita. O próprio rei Davi

profetizou: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote

eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” – Salmo 110.4. Jesus

Cristo veio da tribo de Judá de onde não vinham sacerdotes.

Mas dele se dizia que seria um sacerdote eterno e faria um

único sacrifício, perfeito e de valor eterno. Somente tal

sacrifício poderia satisfazer a justiça eterna. Quem receber os

benefícios do sacrifício de Cristo desfrutará de paz e

comunhão eterna com Deus. Os que forem excluídos dos

benefícios da morte de Cristo sofrerão o castigo eterno. O

padrão da justiça de Deus é tão elevado que, para fazer

expiação por alguém que quebrou a sua lei, se fazia necessária

a morte do transgressor ou algum substituto. Só o sangue do

transgressor ou um substituto legal poderia satisfazer a justiça

de Deus – “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com

sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” – Hebreus

9.22. Os sacrifícios no templo do Antigo Testamento tinham

esse sentido de substituição para expiação. Eram tipos que

apontavam para o Cordeiro de Deus. A vítima (que era um

animal) deveria ser perfeita para poder ser sacrificada – “E,

quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, separando dos bois

ou das ovelhas um voto, ou oferta voluntária, sem defeito será, para que

seja aceito; nenhum defeito haverá nele” – Levítico 22.21. Jesus Cristo

foi o verdadeiro Cordeiro do sacrifício, para quem apontavam

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todos os sacrifícios feitos antes da Sua encarnação. Ele era

absolutamente perfeito; tendo sido observado, analisado,

examinado e avaliado durante toda a sua vida, nunca alguém

pode encontrar nele um único defeito. O governador Pôncio

Pilatos o declarou inocente – “E, dizendo isto, tornou a ir ter com os

judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum” – João 18.38. O rei

Herodes não achou nele crime algum – “Haveis-me apresentado

este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na

vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste

homem. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem

feito coisa alguma digna de morte” – Lucas 23.14-15. Judas, o

traidor reconheceu que havia traído sangue inocente – “Então

Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as

trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos,

dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente…” – Mateus 27.3-4. Um

dos homens crucificados ao seu lado sabia que Jesus era

inocente e nada devia – “E um dos malfeitores que estavam

pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti

mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu

nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na

verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam;

mas este nenhum mal fez” – Lucas 23.39-41. O centurião romano

também viu e confessou a inocência de Jesus – “E o centurião e

os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que

haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: verdadeiramente

este era o Filho de Deus” – Mateus 27.54. Finalmente o mesmo

tribunal que o condenou também o declarou inocente. Para

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condenar Jesus o Sinédrio Judaico também teve que montar

um tribunal falso, pois nada tinham contra Ele que pudessem

levar ao governador – “Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e

todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem

dar-lhe a morte; E não o achavam; apesar de se apresentarem muitas

testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram duas

testemunhas falsas” – Mateus 26.59-60. O Senhor Jesus Cristo foi

o único homem que pode dizer: “Quem de entre vós me convence

de pecado?…” – João 8.46. Deus estabeleceu o Conciliador e

Mediador – Seu Filho Unigênito, e não há nada mais ofensivo,

do que o homem querer vir a Deus por outro meio que não o

único que Ele estabeleceu para a nossa reconciliação. Também

constitui-se grande pecado e insulto a Deus desejar

acrescentar algo ao sacrifício de Cristo, como por exemplo:

boas obras, justiça própria, méritos, penitências,

autoflagelação, purgatório, etc. A salvação é um preciosíssimo

dom de Deus, e querer pagar por ela é uma ofensa e injúria a

Deus. Ele estabeleceu o Mediador que faz a reconciliação ou

que restabelece o homem caído à Sua comunhão, e não aceita

nada mais nem nada menos que Jesus Cristo como a perfeita

justiça. Não aceitar a obra de Cristo, o Filho Unigênito de

Deus, como plenamente satisfatória é contradizer a Deus pois

Ele a aceitou e declarou perfeita. Ele disse de seu Filho: “…

Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo! A ele ouvi” –

Mateus 17.5. Quem quiser estabelecer outro mediador ou

quiser chegar-se a Deus por outro meio, fundamentado em

outras base que seja o Filho Amado, não é cristão e não ser

cristão é o pecado que levará muitos ao inferno eterno, pois é

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permanecer em rebeldia contra Deus, sem qualquer chance de

salvação.

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A nossa justificação pela fé em Cristo

Artigo 22: Cremos que, para podermos obter o

verdadeiro conhecimento desse grande mistério, o Espírito

Santo acende em nosso coração uma fé verdadeira. Fé que

abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, que se

apropria dele, e que nada busca além deles mesmo. Pois das

duas, uma: ou em Jesus Cristo não há tudo que precisamos

para a nossa salvação, ou tudo se acha nele e, então aquele que

possui Jesus Cristo pela fé tem a plena salvação. É, portanto,

uma terrível blasfêmia afirmar que Cristo não é suficiente,

mas que se faz necessário algo além dele; pois, a conclusão

seria, então, que Cristo é apenas meio Salvador.

Por isso, dizemos exata e corretamente como Paulo que

“somos justificados pela fé, independentemente das obras da

lei” (Rom.3.28). Contudo, estritamente falando, não

entendemos isso como se a própria fé nos justificasse, pois ela

é apenas o instrumento com o qual abraçamos Cristo, justiça

nossa. Ele nos imputa todos os seus méritos e todas as obras

santas que tem feito por nós e em nosso lugar. Assim, pois,

Jesus Cristo é a nossa justiça, e a fé é o instrumento que nos

mantém com ele, na comunhão de todos os seus benefícios.

Quando estes se tornaram nossos, são mais do que suficientes

para nos absolver dos nossos pecados.

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Comentário: A fé é um decodificador das verdades

espirituais, apenas ela consegue perceber e discernir

claramente o mundo espiritual, do qual o homem natural nada

vê ou nada compreende. Para ele o tal mundo não existe, ou

se existe é incompreensível e inatingível. Ele vive totalmente

alienado de Deus como se Deus também não existisse.

Quando ele pensa no mundo espiritual o faz apenas em

termos de futuro, pós-morte. Quanto ao eleito de Deus, este

recebe a fé salvadora, que vem acompanhada de iluminação

espiritual. Essa fé desvenda a mente do homem natural para

que ele sinta necessidade de um salvador e então Jesus Cristo

lhe é revelado, ele começa a crer ascendentemente e descansar

em Cristo. Qualquer coisa que desvie o pecador de Cristo e o

leve a crer em outros mediadores, ou a confiar em si mesmo,

em suas obras, em sua justiça pessoal, não é a verdadeira fé. A

fé salvífica é singular e exclusiva, ela só é dada aos eleitos, para

que creiam em Cristo. Alguém que professa crer em Deus

mas não crê em seu Filho Unigênito como o único caminho

para Deus é porque não tem a fé salvadora. Contudo, não é a

própria fé que nos justifica nem é ela a causa da nossa

salvação; somos salvos pela obra de Cristo na cruz. A fé que

nos é dada pelo Espírito Santo leva-nos a confiar nessa obra.

De nada adianta alguém supor que tem muita fé, quando esta

fé está em qualquer coisa, fora Cristo – como, por exemplo, fé

na fé, fé nas obras, fé em si próprio, fé nos santos mortos. Tal

fé não o salvaria porque quem salva é Cristo, e a fé autêntica

nos leva a crer e confiar em Cristo e apenas nele – “Pelo qual

também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e

nos gloriamos na esperança da glória de Deus” – Romanos 5.2. A fé

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A Confissão Belga

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que Deus dá, nos leva a Cristo, onde encontramos toda

provisão necessária para a nossa salvação. Jesus Cristo é um

Salvador completo e suficiente, não necessitando de qualquer

ajuda para nos salvar. Ele não necessita de auxiliadores e nem

de nós mesmos. Para aqueles que supõem que Deus fez

apenas uma parte deixando o restante para o homem,

devemos dizer que assim como o homem não participou da

primeira criação, também não participa da nova criação. O ser

criado simplesmente não participa da sua criação. Não é a

vontade da criatura que conta mas a vontade do Criador. Ele

cria e recria para a sua inteira glória. É isso que os cristãos

creem e professam, e nisso descansam.

————————————————————————–

A nossa justiça diante de Deus

Artigo 23: Cremos que a nossa bem-aventurança

fundamenta-se no perdão dos nossos pecados, por causa de

Jesus Cristo, e que nisso consiste a nossa justiça diante de

Deus, segundo nos ensinam Davi e Paulo. Eles declaram que

é “bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça,

independentemente de obras” (Sal. 32.1; Rom. 4.6). O apóstolo

também diz que somos “justificados gratuitamente, por sua graça,

mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rom. 3.24).

Portanto, sempre nos apegamos a esse firme

fundamento. Damos toda a glória a Deus, humilhando-nos

diante dele e reconhecemos aquilo que realmente somos.

Nada temos que reivindicar por causa de nós mesmos nem

por mérito nosso, mas dependemos e descansamos somente

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A Confissão Belga

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na obediência de Jesus Cristo crucificado. Essa obediência é

nossa quando cremos nele.

Ela é o suficiente para cobrir todas as nossas iniquidades

e nos conceder a ousadia de nos aproximarmos de Deus,

livrando a nossa consciência de temor, terror e assombro, de

modo a não seguirmos o exemplo do nosso primeiro pai,

Adão, que trêmulo tentou se esconder e se cobrir com folhas

de figueira. Certamente que seríamos consumidos, se

tivéssemos que aparecer diante de Deus confiados – por

pouco que fosse – em nós mesmos ou em qualquer outra

criatura (ai de nós!). Por isso todos devem dizer com Davi: Ó

Senhor, “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não

há justo nenhum vivente” (Sal. 143.2).

————————————————————————–

Comentário: O maior motivo de alegria para o pecador

redimido é ter sido justificado e reconciliado com Deus,

saindo da condição de inimigo e réu, que o sujeitava à

condenação eterna, para a condição de filho de Deus por

adoção. O pecador aceito na família de Deus é a pessoa mais

feliz do mundo, pois foi tirado do monturo e elevado à

condição de príncipe de Deus – “Levanta o pobre do pó, e do

monturo levanta o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes,

mesmo com os príncipes do seu povo” – Salmo 113.7-8. Tudo isso por

um ato soberano e independente de Deus, que escolhe, elege,

predestina, chama, justifica, santifica e glorifica a quem Ele

decretou fazê-lo. Não há qualquer mérito em nós, mas Deus

nos mostrou sua graciosa benevolência. Por isso a

autojustificação ou caminho da salvação pelas obras e justiça

pessoal está em franca oposição à doutrina da graça. A

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A Confissão Belga

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autojustificação é um insulto e grave ofensa a Deus, porque

Ele já disse que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas

justiças como trapo da imundícia” – Isaías 64.6. Logo, ninguém

tem justiça que o torne aceitável diante de Deus. O Senhor

Jesus disse que tentar justificar-se diante de Deus é um ato

abominável – “E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos

diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que

entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” – Lucas 16.15.

Cristo é a justiça do eleito – “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o

qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e

redenção” – 1ª Coríntios 1.30. A única justiça reconhecida que

atende o padrão divino é a justiça de Cristo. E é essa justiça

que Deus imputa à nós graciosa e gratuitamente. A salvação é

dom de Deus – a graça é dom de Deus, a fé é dom de Deus, o

arrependimento é dom de Deus. Por meio da fé chegamos à

graça e à salvação. Isso quer dizer que a nossa salvação não

dependeu nem mesmo de crermos ou professarmos a fé ou

de recebermos o batismo. Não há qualquer condição prévia

para sermos salvos. O motivo da nossa salvação está oculto

em Deus. Paulo disse: “Mas Deus prova o seu amor para conosco,

em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores… Porque se

nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu

Filho …” – Romanos 5.8, 10. Fomos salvos na nossa

incredulidade, rebeldia e oposição a Deus. Ele nos chamou e

atraiu para si, mudou a inclinação natural do nosso coração,

lavou nossa imundície e nos fez assentar à sua mesa. Por isso

descansamos tranquilamente em Deus e nos dedicamos

totalmente a Ele com toda gratidão dos nossos corações.

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A Confissão Belga

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Nada poderá nos separar do nosso Pai celestial pois o amor

que nos une é eterno e infinito.

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A nossa santificação e as boas obras

Artigo 24: Cremos que essa fé verdadeira operada no

homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pelo agir do Espírito

Santo, regenera-o e torna-o um novo homem; faz com que

viva uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado. Por

isso, não é verdade que essa fé justificadora o torna

indiferente para viver uma vida santa e boa. Ao contrário, sem

ela, ninguém jamais poderia fazer algo por amor a Deus, mas

somente por amor a si mesmo ou por medo da condenação.

É, portanto, impossível que essa fé santa seja inoperante no

homem, porque não falamos de uma fé vã, mas da que a

Escritura chama de “a fé que atua pelo amor” (Gál. 5.6). Essa fé

leva o homem a exercitar-se nas boas obras que Deus

ordenou em sua Palavra. As boas obras, que procedem da boa

raiz da fé, são boas e aceitáveis à vista de Deus porque são

todas santificadas pela sua graça. Apesar disso, elas não

cooperam para a nossa justificação porque é pela fé em Cristo

que somos justificados, antes mesmo de fazermos quaisquer

boas obras. De outro modo, essas obras não poderiam ser

boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a

árvore não for boa.

Por isso, praticamos boas obras, mas não para termos

mérito; pois que mérito poderíamos ter? Antes, somos

devedores a Deus pelas boas obras que praticamos e não ele a

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A Confissão Belga

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nós, “porque Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar,

segundo a sua boa vontade” (Fp. 2.13). Tenhamos sempre em

mente o que está escrito: “Assim também vós, depois de haverdes

feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos

apenas o que devíamos fazer” (Luc. 17.10). Contudo, não negamos

que Deus recompensa as boas obras, mas é pela sua graça que

ele coroa os seus dons.

Além disso, embora pratiquemos boas obras, não

baseamos nelas a nossa salvação. Pois, nada podemos fazer,

por mínimo que seja, que não seja contaminado pela nossa

carne e que não mereça punição. Ainda que pudéssemos

apresentar uma única boa obra, a mera lembrança de um

único pecado seria suficiente para Deus rejeitá-la. Assim,

estaríamos sempre em dúvida, lançados de um lado para o

outro sem certeza alguma e com a nossa pobre consciência

sempre atormentada, se não confiássemos no mérito do

sofrimento e da morte do nosso Salvador.

————————————————————————–

Comentário: Não se pode separar a santificação da

justificação. Uma segue imediatamente a outra e são

inseparáveis. Deus as uniu no novo homem. Ninguém pode

ter certeza de que foi justificado se não tiver uma santificação

crescente e progressiva em sua vida. O homem de fé é um

santo crescendo, sendo aperfeiçoado e conformado a Cristo.

A árvore boa produz bons frutos. Antes de ser regenerado o

pecador não tem boas obras, por isso a justificação pelas

obras é uma completa impossibilidade. Fomos justificados

sendo nós ainda pecadores, isto é, a justificação veio antes de

podermos fazer qualquer coisa boa – “Mas Deus prova o seu

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A Confissão Belga

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amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda

pecadores. Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue,

seremos por ele salvos da ira” – Romanos 5.8-9. A mesma fé que

leva à justificação, também leva à santificação, porque a

mesma graça que justifica também santifica e glorifica. A fé

salvadora é operante, ativa e producente, e os seus frutos são

benditos e agradáveis a Deus. Contudo sejam quantos e quais

forem os frutos na vida do crente, jamais são levados em

conta para a sua justificação, mesmo porque ela ocorreu antes;

a justificação é baseada apenas e tão somente no sacrifício de

Cristo na cruz. Todas as boas obras do crente são fruto da

graça salvadora de Deus. Assim disse Deus: “E (Eu) dar-vos-ei

um coração novo, e (Eu) porei dentro de vós um espírito novo; e (Eu)

tirarei da vossa carne o coração de pedra, e (Eu) vos darei um coração

de carne [nos regenera]. E (Eu) porei dentro de vós o meu Espírito

[nos sela com o Espírito Santo], e (Eu) farei que andeis nos meus

estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” [nos faz praticar

boas obras] – Ezequiel 36.26-27. Tudo o que somos, tudo o que

sabemos, tudo quanto fazemos devemos a Deus. Jesus disse:

“… sem mim nada podeis fazer” – João 15.5. Ele nos regenerou e

nos capacita a andarmos nas boas obras. De fato é ele quem

opera em nós as boas obras. E ainda é bom lembrar que nossa

corrupção é tão grande que até mesmo as melhores obras em

nós não são perfeitas, mas ainda são contaminadas pelo

pecado que habita em nós. O homem natural é uma árvore

que tudo quanto produz é mau, por isso mesmo não poderia

fazer boas obras para sua própria justificação, pois

simplesmente não as tem. O regenerado está agora enxertado

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em Cristo e só por isso pode produzir bons frutos. As boas

obras que o crente faz são devidas a Cristo, elas não

procedem de si mesmo. Por isso até a recompensa que

receberá por fazer tais obras é devida a Cristo – “Porque, quem te

faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste,

por que te glorias, como se não o houveras recebido?” – 1ª Coríntios 4.7.

A santificação, portanto, é o estilo de vida do cristão. Os

crentes são chamados de santos, significando, não que

sejamos perfeitos, mas que não vivemos mais no pecado ou

para o pecado. O Espírito Santo nos lavou: “Não erreis: nem os

devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os

sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os

maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que

alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados,

mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do

nosso Deus” – 1ª Coríntios 6.9-11.

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Cristo, o cumprimento da lei

Artigo 25: Cremos que as cerimônias e os símbolos da

lei cessaram com a vinda de Cristo, e que todas as sombras

foram cumpridas, de modo que o uso delas deve ser abolido

entre os cristãos. Contudo, a verdade e a substância delas

permanecem para nós em Jesus Cristo, em quem foram

cumpridas.

No entanto, ainda usamos os testemunhos tirados da Lei

e dos Profetas para nos confirmar nas doutrinas do

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A Confissão Belga

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evangelho, e para ordenarmos a nossa vida com toda

honradez, conforme a vontade de Deus e para a sua glória.

————————————————————————–

Comentário: A antiga era judaica foi um período de

tipos ou figuras que apontavam para Cristo. O tabernáculo, o

templo, os sacrifícios, os sacerdotes, os shabbats, as festas

religiosas, eram todos, sombras de uma realidade que viria –

Cristo – “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou

por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são

sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” – Colossenses 2.16-

17. Tendo vindo o Messias, encerrou aquela era, dando início

a uma nova, a era do novo Israel, a Igreja, que incluiu também

os gentios na aliança abraâmica. O primeiro sinal de que a era

do templo físico havia acabado foi o véu do Santíssimo

rasgado, quando Jesus morreu na cruz – “E eis que o véu do

templo se rasgou em dois, de alto a baixo” – Mateus 27.51. A glória de

Deus não habitaria mais ali, naquele santuário. As últimas

palavras do Senhor Jesus na cruz foram: “Está consumado” – João

19.30, significando que tudo estava cumprido, sua missão

redentora estava completada, e todos os cerimoniais da Lei

estavam cumpridos, cuja substância agora está em Cristo, pois

ele é o corpo que projetava aquelas sombras. Eram como

profecias cumpridas. A partir daquele momento todo

sacrifício, ofertas e rituais instituídos pela Lei, não faziam mais

nenhum sentido, porque Jesus é o corpo que aquelas coisas

anunciavam chegaria. Ele também cumpriu, isto é, obedeceu a

Lei moral, para nos resgatar da maldição da Lei – “Cristo nos

resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” – Gálatas

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3.13. O segundo sinal do fim da era das sombras foi a

destruição definitiva do Templo, 37 anos após a morte de

Jesus Cristo. Também o Templo era uma figura profética que

teve seu cumprimento no Ungido. O plano da redenção é

ascendente. Ele veio se desenvolvendo desde o Éden, passou

pelos patriarcas, pela era judaica e chegou à era da Igreja.

Judaizantes, ainda hoje, apegam-se à coisas que eram parte do

culto exterior da Antiga Aliança. Celebram festas judaicas,

usam símbolos e a bandeira de Israel, referem-se aos músicos

como levitas, entre outras coisas. Supõem também que algum

dia no futuro o templo judaico será reconstruído em

Jerusalém, com os sacerdotes e sacrifícios. Tudo como na era

passada. Afirmam ainda que Jesus Cristo um dia assentar-se-á

no trono físico de Davi, em Jerusalém, de onde reinará sobre

as nações. Contudo, a construção de um novo templo judaico

e a retomada dos sacrifícios, seriam um retrocesso no plano

da redenção, obviamente inconcebível. Ainda que algum

templo judaico venha a ser reconstruído no futuro ele nada

terá mais com o plano da redenção o qual é crescente e

ascendente em revelação. Conquanto os cerimoniais da Lei

fossem totalmente abolidos, porque eram apenas uma sombra

da realidade que é Cristo, todavia a Lei moral permanece em

plena vigência e deve continuar sendo ensinada, pois, “a lei nos

serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos

justificados” – Gálatas 3.24. Além disso, a Lei moral é o gabarito

de Deus. Ela funciona como um esquadro que esquadrinha e

revela nossa assimetria moral e espiritual. Então buscamos a

ajuda do Espírito Santo para obedecer e sermos fiéis. O povo

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de Deus não é salvo pela obediência da Lei moral. Somos

salvos exclusivamente pela Graça e, a obediência de Cristo

foi-nos atribuída. E sendo salvos, buscamos obedecer todos

os mandamentos de Deus, como prova do nosso amor e

gratidão – “Se me amais, guardai os meus mandamentos… Aquele que

tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama… Se

guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do

mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e

permaneço no seu amor” – João 14.15, 21; 15.10.

————————————————————————–

A intercessão de Cristo

Artigo 26: Cremos que não temos acesso a Deus senão

pelo único Mediador e Advogado, Jesus Cristo, o Justo. Com

esse propósito, ele se tornou homem, unindo as duas

naturezas, a divina e a humana, para que nós homens não

sejamos impedidos, mas tenhamos acesso à Majestade Divina.

Mas esse Mediador, que o Pai constituiu entre ele e nós, não

nos deve amedrontar por sua grandeza, a ponto de fazer-nos

procurar outro, conforme a nossa imaginação. Porque não há

ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que

nos ame mais que Jesus Cristo, pois, por nós, “ele subsistindo em

forma de Deus … a si mesmo se esvaziou tornando-se em semelhança de

homem, e assumindo a forma de servo” (Fp. 2.6,7), e em todas as

coisas tornou-se semelhante a seus irmãos (Heb. 2.17).

Contudo, se fôssemos procurar outro intercessor, acaso

encontraríamos algum que nos amasse mais do que aquele

que entregou a sua vida por nós, mesmo quando éramos seus

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inimigos? (Rom. 5.8,10). se tivéssemos que procurar alguém

que tivesse autoridade e poder, quem os teria mais do que ele,

que está assentado à direita do Pai e que tem toda a

autoridade no céu e na terra? (Mat. 28.18). E quem será

ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus?

Foi, portanto, a total falta de confiança que introduziu o

costume de desonrar os santos, em vez de honrá-los, ao fazer

o que eles mesmos jamais fizeram nem exigiram. Pelo

contrário, como registram os seus escritos, sempre rejeitaram

tal honra, como era seu dever. Aqui não se deve alegar que

não somos dignos, pois não apresentamos as nossas orações

baseadas em nossa própria dignidade, mas somente com base

na excelência e na dignidade de Jesus Cristo, cuja justiça é

nossa, mediante a fé.

Por isso, pelo bom motivo de extrair de nós esse medo

tolo ou, antes, essa falta de confiança, o autor de Hebreus nos

diz que convinha a Jesus Cristo que “em todas as coisas, se

tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo

sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos

pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido

tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Heb. 2.17,18). E

depois, para nos encorajar mais ainda a procurá-lo, ele nos

diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote

que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não

temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas

fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,

mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao

trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para

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socorro em ocasião oportuna” (Heb. 4.14-16). A mesma carta diz:

“Tendo pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo

sangue de Jesus… Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em

inteira certeza de fé…” (Heb. 10.19,22). Cristo, no entanto,

“porque permanece eternamente, tem um sacerdócio imutável. Portanto,

pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus,

vivendo sempre para interceder por eles” (Heb. 7.24,25). Então, que

mais é necessário, visto que o próprio Cristo diz: “Eu sou o

caminho, e a verdade, e a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim”?

(Jo. 14.6). Por que procuraríamos outro advogado, visto que

aprouve a Deus dar-nos seu Filho como o nosso Advogado?

Não o abandonemos por outro que jamais haveremos de

encontrar. Pois, quando Deus o deu a nós, bem sabia que

éramos pecadores.

Portanto, segundo o mandamento de Cristo, clamamos

ao Pai celestial mediante Cristo, nosso único Mediador, como

nos foi ensinado na oração do Senhor. E temos a certeza de

que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em seu nome

(Jo. 16.23).

————————————————————————–

Comentário: Que há um único Mediador entre Deus e

os homens as Escrituras nos deixam muito claro: ele é Jesus

Cristo – “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do

céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos

ser salvos” – Atos 4.12. Estabelecer o expediente para a nossa

reconciliação consigo é prerrogativa de Deus e de ninguém

mais. É ele quem ensina o meio ou caminho para o homem

retornar à sua presença e sua comunhão. A via de retorno

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estabelecida por Deus é única e exclusiva: Jesus Cristo, seu

Filho. Jesus nos amou com amor eterno – amor sacrificial e

infinito, como disse: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar

alguém a sua vida pelos seus amigos” – João 15.13. Os discípulos

provaram esse amor sem limites e que não teme as

consequências – “Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já

era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia

amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” – João 13.1.

Em Cristo fomos amados e aceitos diante de Deus. Portanto,

o ensino romanista que diz que precisamos chegar a Cristo

através de sua mãe terrena Maria, é ignorante, insultuoso e

blasfemo, porque sugere que Jesus seja durão, insensível e não

muito disposto a atender seus súditos, por isso se faz

necessária a intercessão de Maria. Considerar os santos que

estão nos céus como co-mediadores, corredentores,

intercessores, guias, protetores, não honra a Deus e nem aos

próprios santos; tal prática é desconhecida das Escrituras, pois

veio do paganismo. É importante saber que nenhuma criatura

no céu e na terra é onipotente, onisciente, e nem onipresente.

Esses atributos são exclusivos do Criador e são

incomunicáveis e intransmissíveis. Para um santo que está no

céu, ver um pedinte ou ouvir sua oração aqui na terra, esse

santo teria que se onisciente ou onipresente, e isso nem os

santos nem os anjos são. E para que pudesse atender os

pedidos da terra, esse santo teria que ser onipotente e

nenhum santo o é. Logo, nenhuma criatura no céu pode ouvir

pedidos e atendê-los, porque não são capazes disso e nem

receberam essa tarefa. Nosso único Mediador é Jesus Cristo –

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“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens,

Jesus Cristo homem” – 1ª Timóteo 2.5. Quem está em Cristo não

procura outro mediador, fazê-lo é forte indício de que tal

pessoa não esteja de fato em Cristo. O Senhor Jesus é nosso

intercessor diante do trono de Deus e não precisamos de

outro; e não existe nenhum outro. Os méritos de Cristo são

absolutamente suficientes para nos representar diante de

Deus. Isso também tranquiliza nossa consciência pois

estamos muito bem representados e nele fomos plenamente

amados e aceitos. Deus é perfeitíssimo e jamais erra ou falta.

Jamais nos teria ele dado um mediador que não fosse

suficiente por si mesmo. Jesus Cristo, o Filho Eterno é o

único Mediador entre Deus e os homens e ele é

absolutamente suficiente para nos socorrer e salvar. Amém.

————————————————————————–

A Igreja cristã católica ou universal

Artigo 27: Cremos e professamos uma única Igreja

católica ou universal, que é a santa congregação e assembleia

dos verdadeiros crentes em Cristo, que aguardam a sua total

salvação em Jesus Cristo, são lavados por seu sangue, e são

santificados e selados pelo Espírito Santo.

Essa Igreja existe desde o princípio do mundo e existirá

até o final, pois Cristo é Rei Eterno que não pode ficar sem

súditos. Essa santa Igreja é preservada por Deus contra o

furor do mundo inteiro, mesmo que por um tempo pareça,

aos olhos do homem, muito pequena e quase extinta. Assim,

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durante o perigoso reino de Acabe, o Senhor preservou para

si sete mil pessoas que não dobraram os seus joelhos a Baal.

Além disso, essa santa Igreja não está confinada nem

limitada a um lugar em particular, nem a pessoas específicas,

mas está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro. Contudo,

está integrada e unida, de coração e vontade, em um único e

mesmo Espírito, pelo poder da fé.

————————————————————————–

Comentário: Na verdade este mundo só existe por

causa da Igreja de Cristo, que é o povo de Deus. É aqui, na

terra, que os eleitos nascem e conhecem a Deus. A história da

humanidade inclui a história da redenção dos eleitos. Na

verdade a história da humanidade pode ser descrita em três

eventos: Criação, Queda e Redenção. A princípio Deus pôs

Adão e Eva no Paraíso do Éden e disse-lhes que se

multiplicassem. Toda a sua descendência formaria uma

congregação santa e habitaria toda a terra. Mas com a queda,

a entrada do pecado no mundo dividiu a descendência de

Adão em duas classes: uma seria descendência natural (caída e

não redimida) e outra espiritual (caída mas redimida). A

primeira foi chamada de descendência da serpente e a outra

descendência da mulher. A história se desenvolve assim: A

descendência da mulher seria redimida por um descendente

da mulher: O Messias – Jesus Cristo. A descendência da

serpente é formada pelos caídos e não redimidos, e será

condenada juntamente com a serpente no juízo eterno. Aos

santos Deus preparou um reino – “Vinde, benditos de meu Pai,

possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do

mundo” – Mateus 25.34. Aos ímpios e rebeldes Deus condenará

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A Confissão Belga

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no inferno eterno – “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo

eterno, preparado para o diabo e seus anjos – Mateus 25.41. A Igreja

de Cristo que é composta pela descendência da mulher,

sempre dividiu espaço na terra com descendência da serpente

que a odeia e persegue violentamente – “Se o mundo vos odeia,

sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do

mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo,

antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” – João

15.18-19. Houve lapsos de tempo na história em que a Igreja

parecia estar sumindo ou sendo eclipsada, mas Cristo sempre

teve seus servos fiéis espalhados neste mundo. Onde quer que

a Palavra de Deus for pregada, e a redenção anunciada, o

Espírito Santo regenera vidas unindo-as ao Corpo de Cristo.

E onde quer que essas pessoas congreguem ali está a igreja

católica, resultante da pregação da Palavra e da operação do

Espírito Santo. Católica significa que a Igreja não está

circunscrita a uma área restrita, mas espalha-se por todas as

nações. Por isso, católica romana ou católica brasileira é

incorreto, pois se a Igreja é católica, é universal. Católica não é

uma denominação, mas um adjetivo da Igreja de Cristo, e não

significa apenas universal ou mundial mas tem outras

implicações. Universal indica sua extensão geográfica. Isto

significa que existe apenas uma Igreja em toda a superfície da

terra. Jesus Cristo é a cabeça e a Igreja é o corpo de Cristo.

Não há duas cabeças e nem dois corpos, mas um só corpo e

uma só cabeça – “Porque o marido é a cabeça da mulher, como

também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do

corpo” – Efésios 5.23. Então isso se refere a catolicidade

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A Confissão Belga

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geográfica. Mas podemos também falar sobre a catolicidade

temporal que significa que no tempo só existe uma Igreja,

desde o Éden vindo até hoje e até o último dia da

humanidade haverá uma única Igreja. Todos os crentes do

primeiro ao último fazem parte da Igreja de Cristo. Os do

Antigo Testamento serviam a Cristo de maneira velada, com

pouca luz, através de tipos, figuras e sombras. Hoje servimos

a Cristo de maneira revelada pois ele já veio pessoalmente a

nós. Somos todos da mesma Igreja. Isso é catolicidade

temporal. Podemos também falar da catolicidade histórica,

que significa que sendo a Igreja única, tem também uma

história única. A Igreja do Novo Testamento, que incluiu os

gentios na aliança abraâmica, começou a dois milênios. Todo

mistério oculto através dos séculos foi manifestado com a

vinda do Messias, o Senhor Jesus Cristo. Ele é o ápice da

revelação, pois nele estão todos os mistérios de Deus. Jesus

Cristo é a revelação do Pai – “Havendo Deus antigamente falado

muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, a nós falounos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo,

por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua

glória, e a expressa imagem da sua pessoa…” – Hebreus 1.1-3. Depois

que Jesus veio não há mais nada a ser revelado. Todas as seitas

que surgiram depois propondo novas revelações, são

inteiramente falsas. Outro aspecto muito importante da Igreja

de Cristo é a catolicidade doutrinária. Se há uma única Igreja,

obviamente deve haver uma única doutrina. Tudo quanto

diferir das palavras do Senhor Jesus pelos seus profetas e

apóstolos deve ser inteiramente descartado como falso. Todas

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A Confissão Belga

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as congregações fiéis mantêm a palavra dos profetas e a

doutrina dos apóstolos – “E temos, mui firme, a palavra dos

profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que

alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva

apareça em vossos corações” – 2a

 Pedro 1.19; “Assim que já não sois

estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família

de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de

que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” – Efésios 2.19-20.

Duas igrejas fiéis terão necessariamente a mesma doutrina,

mas a que não andar nas antigas veredas será falsa. As seitas

evangélicas que surgiram ao longo dos séculos são

consideradas falsas e satânicas, porque uma igreja que ensina

outra doutrina está oferecendo um mapa adulterado para os

seus membros e alguém com um mapa adulterado jamais

chegará ao destino verdadeiro. Além dessas ainda nos resta

dizer que a Igreja de Jesus Cristo tem também uma

catolicidade litúrgica, isto é, existe um padrão e modelo

apostólico de culto. Deus não deixou a cargo do homem fazer

o culto solene como bem entendesse. Ao contrário Deus é

meticuloso com o aspecto litúrgico de seu culto. Havia uma

catolicidade litúrgica nas sinagogas de Israel. Não se achava

uma sinagoga diferente das demais, nem havia uma variedade

de cultos para que os homens escolhessem conforme mais

lhes agradasse. Três vezes ao ano os israelitas se deslocavam

de suas cidades e iam ao monte do Senhor, ao Templo em

Jerusalém para adorá-lo. Mas durante os demais shabats eles

adoravam nas sinagogas espalhadas pela nação. E nas

sinagogas havia uma catolicidade litúrgica. Todas operavam

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A Confissão Belga

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exatamente iguais. Havia leitura e exposição das escrituras,

cânticos dos salmos [sem instrumentos musicais], orações,

coletas de ofertas. Uma sinagoga não era diferente das outras,

mas todas seguiam a mesma liturgia. As igrejas cristãs foram

formadas no modelo das sinagogas judaicas. Todas as igrejas

cristãs, em todo o mundo, deveriam seguir a mesma liturgia.

————————————————————————–

O dever de juntar-se a Igreja

Artigo 28: Cremos que essa santa assembleia e

congregação é a assembleia dos remidos e que fora dela não

há salvação; por isso ninguém, seja qual for a sua posição ou

reputação, deve se retirar dela e contentar-se com sua própria

pessoa. Todos, porém, são obrigados a juntar-se e unir-se a

ela, conservando a unidade da Igreja. Devem se submeter à

sua instrução e disciplina, curvar sua cabeça sob o jugo de

Jesus Cristo, e servir à edificação dos irmãos, de acordo com

os talentos que Deus lhes concedeu como membros do

mesmo corpo.

Para que isso se cumpra eficazmente, é dever de todos os

crentes, segundo a Palavra de Deus, se separar dos que não

pertencem à Igreja e se juntar a essa assembleia em todo lugar

onde Deus a tenha estabelecido. Devem fazer isso, mesmo

que governos, leis e autoridades lhes sejam contrários, e

mesmo que sejam punidos fisicamente ou com a morte.

Portanto, todo o que se aparta da Igreja ou não se junta

a ela contraria a ordenança de Deus.

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A Confissão Belga

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Comentário: Todos quantos Deus desperta o espírito,

chama ao arrependimento e à salvação em Cristo são unidos à

Igreja – “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se

haviam de salvar” – Atos 2.47. Todos os que foram

reconciliados com Deus são unidos a Cristo e introduzidos na

sua Igreja, pois ela é o aprisco das ovelhas do Senhor.

Doutores e teólogos cristãos, desde os mais antigos,

declararam que fora da Igreja não há salvação, embora não

seja a Igreja que salva – “Mas a Jerusalém que é de cima [Igreja] é

livre; a qual é mãe de todos nós” – Gálatas 4.26. A Igreja é a mãe

dos fiéis; ela é a comunhão dos santos que amam a comunhão

de outros santos. Uma das primeiras evidências da conversão

a Cristo é justamente o desejo de comungar com a irmandade

– “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” – Salmo

122.1; “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba

de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

Como o orvalho do

Hermon, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o SENHOR

ordena a bênção e a vida para sempre” – Salmo 133. Congregar é

uma das grandes alegrias do crente – “E irão muitos povos, e dirão:

Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que

nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de

Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor” – Isaías 2.3.

Deus mandou-nos congregar porque há bênçãos na

congregação. Jesus disse que onde estiverem duas ou três

pessoas reunidas em seu nome Ele está presente. E presente

de uma maneira especial, porque Ele está sempre, todos os

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A Confissão Belga

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dias conosco, mas “anda no meio dos sete castiçais de ouro [igrejas]”

– Apocalipse 2.1. Também disse Davi pelo Espírito Santo que

Jesus está no meio da Congregação: “Então, declararei o teu nome

aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação” – Salmo 22.22.

Todos os crentes, cada um deles, devem submeter-se ao

governo da Igreja, pois é assim que serão: 1) exortados e

encorajados pela pregação da Palavra de Deus; 2) receberão a

ministração dos sacramentos; 3) serão corrigidos e

disciplinados. Se Deus assim o ordenou, não há o que se

discutir. Viver fora da Congregação do Senhor é estar em

rebelião pois está rejeitando o governo de Deus por meio das

autoridades que Ele instituiu. Um crente fora da Congregação

é o mesmo que um israelita no deserto que não estivesse

debaixo da nuvem ou andando fora da nuvem, não seguindo

o mover da nuvem. As Escrituras nos ensinam a preservar a

unidade da Igreja de Cristo, e para isto, onde quer que

vivamos, devemos nos reunir regularmente para a adoração

pública. Jesus orou pela unidade da Igreja: “Pai santo, guarda em

teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós…

Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que

também eles sejam um em nós… E eu dei-lhes a glória que a mim me

deste, para que sejam um, como nós somos um” – João 17.11, 21, 22.

Comete grande pecado aquele que contraria tão grande desejo

do Salvador. Congregar não é opcional mas uma ordem do

Senhor: “Não endureçais agora a vossa cerviz, como vossos pais; dai a

mão ao Senhor, e vinde ao seu santuário que ele santificou para sempre,

e servi ao Senhor vosso Deus, para que o ardor da sua ira se desvie de

vós” – 2º Crônicas 30.8. “Vinde ao seu santuário”, é uma

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convocação, uma ordem. Independente das dificuldades que

há em muitos países, os crentes devem reunir-se em

assembleia solene. A Igreja deve viver neste mundo

separando-se dos pecadores, dando testemunho da verdade e

da luz – “E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava,

dizendo: Salvai-vos desta geração perversa” – Atos 2.40. Que

ninguém deixe a Igreja – “Não deixando a nossa congregação, como

é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto

mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” – Hebreus

10.25. Nosso maior testemunho diante do mundo é a

Congregação cultuando publicamente ao Senhor no dia do

Senhor. Quem estiver fora da Congregação não participa

deste testemunho público. E o culto público deve realizado

ainda que sob ameaças de perseguição e morte. Não ser

cristão é pecado, tentar sê-lo fora da Igreja também é.

————————————————————————–

As marcas da verdadeira e da falsa Igreja

Artigo 29: Cremos que devemos distinguir, com

diligência e muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a

verdadeira Igreja, pois todas as seitas que há hoje no mundo

arrogam para si o nome de igreja. Não falamos aqui dos

hipócritas que se misturam aos fiéis da Igreja, pois, embora

participem visivelmente da Igreja, não fazem parte dela. Mas

falamos do corpo e da comunhão da verdadeira Igreja que se

deve distinguir daquelas seitas que se dizem Igreja.

A Igreja verdadeira é reconhecida pelas seguintes marcas:

ela pratica a pura pregação do evangelho; mantém a pura

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administração dos sacramentos segundo Cristo os instituiu; e

exercita a disciplina na igreja para a correção e punição dos

pecados. Em síntese, governa a si mesma segundo a pura

Palavra de Deus, rejeitando tudo o que lhe for contrário, e

tem Jesus Cristo como o único Cabeça. Assim se re reconhece

com certeza a verdadeira Igreja, e ninguém tem o direito de se

separar dela.

Os que pertencem à Igreja devem ser reconhecidos palas

marcas dos cristãos: eles creem em Jesus Cristo como o único

Salvador; fogem do pecado e buscam por justiça; amam o

verdadeiro Deus e o seu próximo sem se desviar para a direita

nem para a esquerda; e crucificam a carne com as suas obras.

No entanto, ainda permanece neles uma grande fraqueza, à

qual combatem, pelo Espírito, todos os dias da sua vida.

Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e

obediência de Jesus Cristo, no qual têm a remissão de seus

pecados, por meio da fé nele.

A falsa Igreja, contudo, atribui mais autoridade a si

mesma e às suas ordenanças do que à Palavra de Deus; não

quer se submeter ao jugo de Cristo; não administra os

sacramentos conforme Cristo ordenou em sua Palavra, mas

acrescenta e subtrai deles o tanto que lhe convém; baseia-se

mais nos homens do que em Jesus Cristo; persegue aos que

vivem de maneira santa, segundo a Palavra de Deus, e aos que

lhe repreendem os seus pecados, cobiça e idolatrias. Essas

duas Igrejas são facilmente reconhecidas e distinguidas uma

da outra.

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Comentário: No meio da Congregação dos santos

sempre existem aqueles que são falsos e hipócritas, como o

joio que está no meio do trigal de Deus. Mas não é disso que

trata esse ponto da Confissão. Aqui é tratado o problema das

seitas que usam o nome de igreja que são inúmeras e se

multiplicam a cada dia. É preciso dizer que muitas associações

que têm nome de igreja, de fato não passam de seitas que

mentem, desinformam e conduzem ao erro e ao pecado,

desviam o rebanho para o abismo. Temos muitas

comunidades e fundações filantrópicas que usam o nome de

igreja, quando na verdade são organizações com cores

eclesiásticas mas que servem apenas aos interesses de seus

fundadores e associados. Uma igreja verdadeira segue o

modelo apostólico e deve conter: 1) pura e fiel pregação do

Evangelho; 2) pura e fiel administração dos sacramentos; 3)

santo e fiel exercício da disciplina eclesiástica. Assim como

para uma vida física saudável temos que cuidar da

alimentação, da higiene e do exercício, outro tanto em relação

à vida espiritual. A igreja verdadeira orienta-se e governa a si

mesma pela Palavra de Deus. Cada igreja, em cada localidade,

deve instituir seus próprios oficiais, os quais, uma vez eleitos,

irão governá-la conforme a orientação da Palavra. Jesus Cristo

é o único Cabeça da Igreja. Não há, portanto, hierarquia

dentro da Congregação do Senhor. O modelo de um líder

máximo que se põe sobre a comunidade não é bíblico. Os

títulos: Sumo Pontífice, Pastor Sênior, Apóstolo, Bispo, que

lideram outros oficiais como pertencendo a uma casta

superior, é totalmente contrário ao ensino de Cristo – “E ele lhes

disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade

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sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o

maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve.

Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é

quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve” –

Lucas 22.25-27. Na Igreja de Cristo todos os oficiais são iguais

entre si, só se diferindo no que diz respeito às suas funções. É

verdade também que mesmo numa igreja fiel podem existir

hipócritas que enganam-se a si mesmos, contudo esse fato,

por si só, não descaracteriza a igreja. Deus, a seu tempo, os

julgará. Os crentes fiéis devem expressar sua fé e confiança

plena em Jesus Cristo e produzir os frutos da nova vida que

dele receberam. Eles não são perfeitos em tudo, mas resistem

e combatem o pecado, sem trégua e sem temor. Assim como

uma igreja fiel tem suas marcas, do mesmo modo os crentes

verdadeiros também as têm: eles creem somente em Jesus

Cristo para a sua salvação; eles não se embaraçam com as

coisas desta vida; fogem do mal e resistem às paixões carnais;

mesmo em suas maiores fraquezas eles vão até as últimas

consequências na luta contra o pecado e a corrupção da

carne; vivem sujeitos a Cristo e servem na igreja local,

sujeitando-se em amor aos demais irmãos.

————————————————————————–

O governo da Igreja

Artigo 30: Cremos que a verdadeira Igreja deve ser

governada conforme a ordem espiritual que o nosso Senhor

nos ensinou em sua Palavra. Deve haver ministros ou pastores

para pegarem a Palavra de Deus e para administrarem os

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sacramentos; deve haver também presbíteros e diáconos para

formarem, com os pastores, o conselho da igreja. Assim, eles

preservam a verdadeira religião e zelam para que a sã doutrina

siga o seu curso, para que os maus sejam disciplinados de

forma espiritual e sejam contidos, e também para que os

pobres e todos os aflitos sejam socorridos e consolados

segundo as suas necessidades. Assim, tudo será bem feito e

com boa ordem quando tais homens fiéis são escolhidos

segundo a regra que o apóstolo Paulo deu a Timóteo.

————————————————————————–

Comentário: A Confissão nos ensina, que encontramos

no ensino apostólico, três funções diferentes no governo

espiritual da igreja: presbíteros, diáconos e ministros da

Palavra. Os presbíteros podem ser regentes e docentes, os que

governam e os que se dedicam ao ensino. Todos devem ser

aptos para ensinar, mas há alguns que são doutores na

Palavra. Cada uma dessas funções deve ser exercida por

homens escolhidos e eleitos pela congregação em cada

localidade. Todos esses ofícios que encontramos na Bíblia, são

exercidos sempre por homens e nunca mulheres. Os ministros

da Palavra são responsáveis por alimentar o rebanho com o

alimento sólido da Palavra de Deus. Os presbíteros são

responsáveis pela supervisão e cuidado do rebanho, bem

como da disciplina eclesiástica; eles cuidam da formação

espiritual dos membros da congregação, zelam para que falsas

doutrinas não entrem na igreja através de falsos mestres;

também supervisionam a Ceia do Senhor para que ninguém

dela participe estando em pecado e o sacramento seja

profanado. Os diáconos têm a responsabilidade de atender às

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necessidades materiais daqueles que passam por privações,

levar consolo e encorajamento aos que passam por

tribulações. Todos esses homens juntos formam o conselho

da igreja local. Não existe uma hierarquia espiritual entre essas

funções, cada oficial exerce uma função diferente na

congregação e todos eles são igualmente honrados, pois

unânimes eles apascentam e governam o rebanho de Deus.

Quando eleitos legitimamente sua autoridade é confirmada

por Deus. Jesus disse: “Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e

quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita,

rejeita aquele que me enviou” – Lucas 10.16. Nenhum crente pode

dizer que se submete unicamente a Deus. Afirmá-lo seria

desprezar as autoridades delegadas por Deus. Quem não se

submete à autoridade da igreja local também não se submete a

Deus. Nenhum membro do nosso corpo pode ligar-se

solitário à cabeça, mas todos unidos formam o corpo que está

ligado à cabeça. Igualmente, nenhum cristão está ligado

sozinho a Cristo, mas ele forma uma unidade com os demais

membros do Corpo que está sujeito ao Cabeça da Igreja. A

igreja deve submeter-se a autoridade de Cristo e cada membro

deve submeter-se a autoridade da igreja. Assim, cada crente

deve ouvir e obedecer às autoridades da igreja local, e todos

devem ser submissos uns aos outros. Essa é uma sujeição

voluntária a um governo de amor. Quem não entendeu o

princípio da autoridade não entendeu o Reino de Deus – “Por

esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas

que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como

já te mandei” – Tito 1.5. Onde não há autoridade não há ordem,

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por isso Deus a estabeleceu para manter a boa ordem em

todas as igrejas.

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Os oficiais da Igreja

Artigo 31: Cremos que os ministros da Palavra de Deus,

os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para os

seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, com oração

e em boa ordem, como estipula a Palavra de Deus. Por isso,

cada um deve cuidar para não se intrometer no ofício de

modo impróprio; deve esperar até que seja chamado por

Deus, para que possa ter testemunho da sua vocação e, assim

estar certo de que esse chamado vem do Senhor. Os ministros

da Palavra têm igual poder e autoridade onde quer que

estejam, pois todos eles são servos de Jesus Cristo, o único

Bispo universal e o único Cabeça da Igreja. E, para que essa

sagrada ordenança de Deus não seja violada nem desprezada,

instamos a todos para que nutram especial estima pelos

ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão da obra

que realizam, e que estejam em paz com eles, o tanto quanto

possível, sem murmurações ou contendas.

————————————————————————–

Comentário: A Igreja é governada pela Palavra de Deus,

isto é, ela mesma escolhe seus líderes baseados nos princípios

das Escrituras. Temos instruções e exemplos na Bíblia em

como proceder – “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de

boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais

constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na

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oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a

multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e

Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito

de Antioquia; E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes

impuseram as mãos” – Atos 6.3-6. A congregação escolhe e os

que já são oficiais reconhecidos instituem aos novos em seus

ofícios. Ninguém deve forçar a situação para ser um oficial.

Ao contrário, cada oficial deve ser chamado por Deus através

da igreja local. A congregação escolhe, vota e cada deve

pensar muito bem antes de assumir qualquer função para não

dar mal testemunho. Um oficial deve ser exemplo para os fiéis

– “Ninguém despreze a tua mocidade: mas sê o exemplo dos fiéis, na

palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” – 1a

 Timóteo

4.12. Os oficiais devem preencher todos os quesitos que

também estão claros nas Escrituras – “Esta é uma palavra fiel: se

alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o

bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio,

honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não

espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não

contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo

seus filhos em sujeição, com toda a modéstia ( Porque, se alguém não

sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);

Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do

diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de

fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo” – 1ª Timóteo 3.1-

7. Os oficiais devem ser todos homens e homens piedosos,

sábios, modestos, mansos e humildes, que tenham domínio

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próprio, disciplinados, que tenham bom conhecimento da

doutrina apostólica e sejam firmes na fé, bons seguidores de

Cristo, tendo bom testemunho dos que estão fora, isto é,

entre os parentes, na sua vizinhança, no emprego e demais

lugares. Na igreja de Cristo ninguém é maior ou menor, pois

não há hierarquia espiritual. Todos são servos que servem em

funções diferentes e diferentes tarefas. Contudo a Bíblia

ordena honrar os oficiais, respeitando-os e submetendo-se a

eles em amor – “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que

trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos

admoestam; E que os tenhais em grande estima e amor, por causa da

sua obra” – 1ª Tessalonicenses 5.12-13. Os líderes serão cobrados

pela sua fidelidade às Escrituras, por como guiaram o

rebanho, e como honraram ao Senhor e a sua Palavra –

“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas

almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com

alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” – Hebreus 13.17.

Os trabalhadores da obra de Deus serão cobrados pela sua

fidelidade à Palavra do Senhor. Ninguém será cobrado pelo

sucesso ou pelos resultados, mas tão somente pela sua

fidelidade. Os resultados dependem unicamente da ação do

Espírito Santo. Nós pregamos mas o Espírito assopra onde

quer e vivifica a quem quer. Nós chamamos exteriormente, o

nosso chamado chega aos ouvidos físicos, mas o chamado

interior é obra exclusiva do Espírito Santo.

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A ordem e a disciplina da Igreja

Artigo 32: Cremos que, embora seja útil e bom para

aqueles que governam a igreja estabelecer certa ordem para

manter o corpo da igreja, eles devem sempre se guardar para

não se desviarem daquilo que o nosso único Mestre, Cristo,

nos ordenou. Por isso, rejeitamos todas as invenções e leis

humanas introduzidas no culto a Deus, que de algum modo

obrigue e force a consciência. Só aceitamos aquilo que é

apropriado para preservar e promover a harmonia e unidade,

e para manter tudo em obediência a Deus. Para esse fim, a

disciplina e a excomunhão devem ser exercidas de acordo

com a Palavra de Deus.

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Comentário: Os oficiais têm a responsabilidade de

manter a boa ordem na igreja local. Deus lhes deu autoridade

para exercer a disciplina cristã sempre que se fizer necessária.

E Jesus ensinou como proceder – “Ora, se teu irmão pecar contra

ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;

Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela

boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se

não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja,

considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo

o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na

terra será desligado no céu” – Mateus 18.15-18. Primeiramente o

faltoso deve ser repreendido em particular e se ouvir e

arrepender-se será perdoado e o caso encerrado. Se, contudo,

isso não for suficiente e continuar na prática do pecado, a

situação deve ser trazida aos oficiais e o faltoso deve ser

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confrontado e admoestado por mais irmãos; e se ainda assim

não houver arrependimento, então o caso deve ser levado ao

conhecimento da congregação; esta será sua última chance. Se

porém não arrepender-se, mas endurecer-se no pecado, então

deve ser reprovado e desligado da comunhão da igreja. Devese sempre primar pela restauração do transgressor, mas

havendo endurecimento, depois de muitas exortações, tal

pessoa deve ser afastada da comunhão dos santos, para o seu

próprio bem e da congregação. O desligamento da igreja local

é desligamento do Corpo de Cristo e do Céu. Se, depois de

excluído, o faltoso arrepender-se, humilhar-se e rogar pelo

retorno à comunhão dos santos, ainda pode ser perdoado e

readmitido, mas se permanecer no pecado perder-se-á para

sempre. O fato é que alguém que encrueceu no pecado não

pode continuar na congregação dos santos, nem participar da

comunhão do corpo e do sangue de Cristo, mas deve ser

excomungado. O ensino apostólico diz: “E rogo-vos, irmãos, que

noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que

aprendestes; desviai-vos deles” – Romanos 16.17. E também: “Mas

agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se

irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão,

ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em

julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão

dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a

esse iníquo” – 1ª Coríntios 5.11-13. A disciplina eclesiástica é para

manter a saúde espiritual da igreja. Corrigir é amar, por isso

Deus nos corrige quando pecamos. Fazer vista grossa para

com o pecado de alguém não é amar, apoiar ou premiar

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alguém que está em pecado não é amor, não segundo a Bíblia,

porque quando amamos alguém não queremos que viva no

pecado, uma vez que o o salário do pecado é a morte. Os pais

nunca devem premiar os filhos quando estes estão em

desobediência, pois isto seria endossar seu erro. Deus corrige

a quem ama e quando Deus entrega e abandona alguém no

pecado essa pessoa está debaixo da ira e maldição, pois será

destruída. Então, disciplinar e corrigir é um elevado ato de

amor ao faltoso. Quando os líderes aplicam seriamente a

disciplina estão honrando a Deus. Quando não o fazem, estão

dando honra aos homens em detrimento da glória de Deus.

É, contudo, necessário lembrar que quando alguma igreja

começa colocar regras humanas, tradições de homens, usos e

costumes, desvia-se do principal que é a piedade. Alguém

pode ser muito rígido em questões secundárias e não ser de

fato piedoso. Se alguma igreja apegar-se a preceitos humanos

pode incorrer numa adoração vã e num culto inaceitável,

como disse o Senhor: “Mas, em vão me adoram, ensinando

doutrinas que são preceitos dos homens” – Mateus 15.9. Somos

servos de Cristo e do Seu reino, e não da religião dos homens

– “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não

torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” – Gálatas 5.1. Por

isso alguém deve ser disciplinado se houver pecado contra

Deus e não por haver quebrado preceitos ou costumes de

homens. Assim, a disciplina eclesiástica é uma das marcas de

uma igreja fiel.

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Os sacramentos

Artigo 33: Cremos que o nosso Deus gracioso, atento à

nossa insensibilidade e fraqueza, ordenou os sacramentos para

selar em nós as suas promessas, para servirem como penhor

da sua boa-vontade e graça conosco, e para alimentarem e

sustentarem a nossa fé. Ele os acrescentou à Palavra do

evangelho para apresentar melhor diante dos nossos sentidos

externos aquilo que ele nos declara em sua Palavra e o que faz

interiormente em nosso coração; assim, ele nos confirma a

salvação a nós concedida. Os sacramentos são os sinais e os

selos visíveis de algo interior e invisível, por meio dos quais

Deus opera em nós pelo poder do Espírito Santo. Por isso,

esses sinais não são vãos nem vazios de modo a nos enganar,

porque Jesus Cristo é a verdade deles; sem Cristo, não seriam

nada.

Além disso, nos contentamos com o número dos

sacramentos que Cristo, nosso Mestre, nos ordenou, sendo

somente dois, a saber, o sacramento do batismo e da santa

ceia de Jesus Cristo.

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Comentário: Que são os sacramentos? São os selos ou

sinais visíveis que Deus deu à sua Igreja para melhor

compreender a obra da redenção. Juntamente com sua

correspondência interior, obra do Espírito Santo, são como

que penhores da nossa salvação, eles asseguram e garantem

que a obra da redenção será completada em nós e que nós

seremos conservados da corrupção deste e mundo e

permaneceremos firmes até o último dia. Mas se não houver a

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correspondência interior eles serão sinais vazios. Os

sacramentos são: Batismo e Ceia. O santo batismo é, bem

como a antiga circuncisão era, a purificação dos pecados; a

santa ceia, bem como o antigo sacrifício da páscoa, significa o

alimento espiritual para a nossa alma. Os sacramentos estão

unidos – “Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança

da páscoa: nenhum filho do estrangeiro comerá dela. Porém todo o

servo comprado por dinheiro, depois que o houveres circuncidado, então

comerá dela… Porém se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser

celebrar a páscoa ao Senhor, seja-lhe circuncidado todo o homem, e

então chegará a celebrá-la, e será como o natural da terra; mas nenhum

incircunciso comerá dela” – Êxodo 12.43,44,48. Só participavam da

páscoa aqueles que eram circuncidados; só participamos da

santa ceia porque recebemos o santo batismo. Assim todas as

vezes que participamos da ceia lembramos nossa aliança com

o Senhor, pois também fomos selados com o batismo e

fazemos parte do povo do Pacto; então somos fortalecidos na

fé. O santo batismo, tal qual a circuncisão é administrado uma

única vez, enquanto que a ceia tal qual a antiga páscoa, muitas

vezes durante a nossa vida. Os sacramentos apontam para o

sacrifício de Cristo na cruz para nos dar o perdão, a

purificação e a vida eterna. Eles têm o seu valor porque foram

instituídos por Deus. Seu valor não depende do ministro que

os realiza; também o valor do sacramento não depende da

dignidade nem do pleno entendimento de quem os recebe;

nem está nos elementos usados, ou na forma que são feitos.

Se o batismo é realizado com muita água ou pouca, se a água

é salgada ou doce, quente ou fria, se a forma é imersão, efusão

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ou aspersão, nada disso é importante. Também se a ceia é

realizada com mais ou menos pão, mais ou menos vinho, se é

vinho ou suco de uva, pão sem fermento, nenhumas dessas

coisas alteram o valor do sacramento, pois seu valor está na

instituição divina, na Palavra de Deus, na agência pessoal do

Santo Espírito de Deus que opera através do sacramento. O

santo batismo é ordenado a cada membro da Aliança, que

deve recebê-lo uma única vez e não deve ser repetido. Os

sacramentos, como vimos, foram instituídos já na Antiga

Aliança. Apenas a forma e os elementos usados mudaram.

Antigamente a forma era mais grosseira e carnal, na era cristã

são mais espirituais e sem derramamento de sangue. Os

únicos elementos materiais que Deus nos deixou na nossa era

foram: a água que é usada no santo batismo, e o pão junto

com o vinho, usados na santa ceia.

Muitas vezes surgem dúvidas quanto à integridade do

ministro, mas a validade do sacramento não está nele.

Suponhamos que nasceu um menino em Israel e foi levado ao

mohel (oficial que opera a circuncisão dos meninos judeus) e

após a circuncisão descobre-se que aquele homem nem

mesmo crê na berit milá, que a Aliança da circuncisão. Nem

por isso aquele sinal da circuncisão será invalidado. Da mesma

forma, suponhamos que nasce um menino na igreja do

Senhor e é levado para receber a marca a Aliança – o santo

batismo. Depois de batizado, descobre-se que o ministro tem

um fraco entendimento da doutrina ou está em algum pecado

grave. Nem por isso aquele batismo deixa de ter seu valor.

Digamos que um adulto fez profissão de fé e recebeu o

batismo em seguida, porém mais tarde descobre que na época

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em que professou sua fé e recebeu o batismo nada entendia

sobre a obra da redenção, nem sobre os sacramentos. Nem

por isso seu batismo deixa de ter valor. Pois o valor do

sacramento está em si próprio e naquele que o instituiu.

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O sacramento do batismo

Artigo 34: Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que

é o fim da lei (Rom. 10.4), ao derramar o seu sangue, pôs fim

a todo e qualquer derramamento de sangue que se poderia

fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a

circuncisão, que envolvia sangue, e instituiu o sacramento do

batismo em seu lugar. Pelo batismo, somos recebidos na

Igreja de Deus e separados de todas as outras pessoas e falsas

religiões, para estarmos totalmente comprometidos com ele,

de quem carregamos a marca e o emblema, que nos servem

como testemunho de que ele será eternamente o nosso Deus

e Pai gracioso.

Por isso, Cristo ordenou que todos os seus sejam

batizados simplesmente com água pura, “em nome do Pai, e do

Filho, e do Espírito Santo” (Mat. 28.19), dando-nos a entender

com isso que, assim como a água, derramada em nós, lava

completamente a sujeira do corpo, e assim como a água é

vista no corpo do batizado quando derramada nele, o sangue

de Cristo,pelo Espírito Santo, faz a mesma coisa no interior

da alma. Ele lava e limpa a nossa alma do pecado e nos

regenera de filhos da ira para filhos de Deus. Isso não é

produzido pela água em si mesma, mas pelo aspergir do

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precioso sangue do Filho de Deus, que é o nosso Mar

Vermelho, que precisamos atravessar para escapar da tirania

de Faraó, ou seja, do diabo, para entrarmos na Canaã

espiritual.

Assim os ministros, por sua parte, nos administram o

sacramento e aquilo que é visível, mas o nosso Senhor nos dá

aquilo que o sacramento significa, ou seja, os dons invisíveis e

a graça. O Senhor lava, purifica e limpa a nossa alma de toda

imundície e iniquidade; renova o nosso coração, enchendo-o

de todo o consolo; dá-nos a verdadeira certeza da sua

bondade paternal; reveste-nos da nova natureza; e despe-nos

da velha natureza com todas as suas obras.

Portanto, cremos que aquele que almeja a vida eterna

deve ser batizado uma vez com um só batismo. O batismo

nunca deve ser repetido, pois não podemos nascer duas vezes.

Além disso, o batismo não nos beneficia apenas quando a

água está em nós e quando o recebemos, mas por toda a

nossa vida. Por essa causa, rejeitamos o erro dos Anabatistas,

que não se contentam com o batismo recebido uma única vez,

e que também condenam o batismo dos filhos pequenos dos

crentes. Cremos que essas crianças devem ser batizadas e

seladas com o sinal da aliança, assim como os bebês em Israel

eram circuncidados com base nas mesmas promessas que

agora são feitas aos nossos filhos. De fato, Cristo derramou o

seu sangue para purificar os filhos dos crentes do mesmo

modo que o derramou pelos adultos. Por isso, devem receber

o sinal e o sacramento daquilo que Cristo fez por eles, assim

como o Senhor ordenou na lei que fosse oferecido um

cordeiro logo após o nascimento dos filhos, que era o

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sacramento da paixão e morte de Jesus Cristo. Como o

batismo tem para os nossos filhos o mesmo significado que a

circuncisão tinha par o povo de Israel, Paulo chama o batismo

de “a circuncisão de Cristo” (Col. 2.11).

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Comentário: Depois que o Senhor Jesus veio e morreu

na cruz, derramando o seu precioso sangue para nos purificar

de todo pecado, não deve haver mais derramamento de

sangue, como a lei exigia no Antigo Testamento, tanto nos

sacrifícios dos animais como na circuncisão. No lugar da

antiga circuncisão, que era a marca no órgão genital

masculino, o Senhor Jesus instituiu o batismo com água. O

significado do batismo é o mesmo da circuncisão: 1) distingue

um membro do povo de Deus dos demais, os pagãos; 2) selo

ou sinal exterior da Aliança – indica que quem tem o sinal

que pertence à congregação do Senhor; 3) é o sinal da

iniciação na Aliança; 4) lavagem e purificação dos pecados; 5)

regeneração (coração novo); 6) morte e sepultamento da vida

velha e renascimento para a nova vida ressurreta com Deus;

7) é um ato de Deus e não do homem – Deus decide quem

Ele deseja selar, pois é o nosso Dono. Jesus Cristo instituiu o

batismo e a fórmula: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as

nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” –

Mateus 28.19. Tendo o batismo com água substituído a antiga

circuncisão, não apenas os adultos devem batizados, mas

também as crianças, porque cada membro da congregação

deve trazer a marca da Aliança, e os filhos dos crentes

também fazem parte do povo de Deus – “Porque a promessa vos

diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos

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quantos Deus nosso Senhor chamar” – Atos 2.39. Assim Deus o

ordenou, assim devemos cumprir – “No qual também estais

circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo

dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no

batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o

ressuscitou dentre os mortos” – Colossenses 2.11-12. Tanto a

circuncisão quanto o batismo devem ter a correspondência

interior – que é a sua realidade. Ambos expressam a obra do

Espírito Santo no coração do homem. Um verdadeiro judeu

tinha o sinal externo da Aliança e um coração circuncidado

pelo Espírito Santo; outro tanto um verdadeiro cristão tem o

selo por fora e a correspondência interior que é o selo do

Espírito Santo. Portanto, o que salva não é o selo exterior e

sim a realidade interior operada pelo Espírito de Deus. A

igreja deve contentar-se com os sacramentos que Cristo

deixou que são dois: o batismo e a ceia. Não há outros

sacramentos na Bíblia, mas apenas estes; e o batismo não

pode ser repetido, mas uma vez realizado por uma autoridade

oficial da Igreja, com água, “em nome do Pai, e do Filho, e do

Espírito Santo”, ele terá validade para sempre. Sendo como é um

selo ele é visto por Deus sobre nós. O significado do selo

mesmo sendo físico e exterior, é primeiramente espiritual,

pois é Deus quem o ordena e é ele quem o vê sobre os seus.

Isto pode ser compreendido no sinal da circuncisão, no sinal

do arco nas nuvens, no sinal do sangue nas vergas das portas

dos israelitas no Egito, e o mesmo no sinal da água do

batismo. É Deus quem vê o selo que identifica o povo da

aliança. Do arco nas nuvens foi dito: “E estará o arco nas nuvens,

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e eu o verei, para me lembrar da aliança eterna entre Deus e toda alma

vivente de toda carne, que está sobre a terra” – Gênesis 9.16. Do

sangue do cordeiro nos umbrais das portas dos israelitas está

escrito: “Porque o SENHOR passará para ferir aos egípcios, porém,

quando vir o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, o

SENHOR passará aquela porta e não deixará ao destruidor entrar em

vossas casas para vos ferir” – Êxodo 12.23. Deus disse que ele vê o

selo ou sinal e se lembra da sua aliança conosco. Isto é

maravilhoso!

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O sacramento da santa ceia do Senhor

Artigo 35: Cremos e confessamos que o nosso Salvador

Jesus Cristo instituiu o sacramento da santa ceia para nutrir e

sustentar aos que já regenerou e incorporou à sua família, que

é a sua Igreja.

Aqueles que nasceram de novo possuem duas vidas

diferentes. Uma é a física e temporal, que é recebida no seu

primeiro nascimento e é comum a todos os homens; a outra é

espiritual e celestial, que lhes é dada no seu segundo

nascimento e é efetuada pela Palavra do evangelho, na

comunhão do corpo de Cristo. Essa vida não é comum a

todos os homens, mas somente aos eleitos de Deus.

Para a manutenção da vida física e terrena, Deus

estabeleceu o pão material e terreno. Esse pão é comum a

todos, assim como também a vida é comum a todos. Para a

manutenção da vida espiritual e celestial, que os crentes

possuem, ele lhes enviou o pão vivo que desceu do céu (Jo.

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6.51), que é Jesus Cristo. Este nutre e sustenta a vida espiritual

dos crentes quando é comido por eles, isto é, ao ser

apropriado e recebido espiritualmente pela fé.

Para representar o pão espiritual e celestial, Cristo

instituiu o pão visível e terreno como sacramento do seu

corpo, e o vinho como sacramento do seu sangue. Ele nos

testifica que, tão certo como tomamos e seguramos em nossas

mãos o sacramento, e o comemos e bebemos com nossa boca

para sustentar nossa vida física, assim também, com certeza

recebemos pela fé (que é a mão e a boca da nossa alma) o

verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso

único Salvador, para a sustentação da nossa vida espiritual.

Não há a menor dúvida de que Cristo não nos

recomendou os seus sacramentos em vão. Portanto, Cristo

opera em nós tudo aquilo que, nesses santos sinais, ele

representa para nós. Não entendemos o modo isso se realiza,

exatamente como também não compreendemos as atividades

ocultas do Espírito de Deus. Contudo, não nos enganamos ao

dizermos que, o que comemos e bebemos é o corpo

verdadeiro e natural, e o sangue verdadeiro de Cristo. Todavia,

não comemos com a boca, mas em espírito pela fé. Desse

modo, Jesus Cristo permanece sempre assentado à destra de

Deus, seu Pai, no céu, porém, ele não deixa de nos comunicar

a si mesmo pela fé. Esse banquete é uma mesa espiritual, na

qual Cristo nos torna participantes de si mesmo, com todos

os seus benefícios, e nos concede a graça de desfrutar dele

mesmo e dos méritos do seu sofrimento e morte. Ele nutre,

fortalece e consola a nossa alma pobre e desolada pelo comer

da sua carne, e a refresca e renova pelo beber do seu sangue.

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Embora o sacramento esteja unido com o que é por ele

significado, esse significado nem sempre é recebido por todos.

O ímpio certamente toma os sacramentos para a própria

condenação, mas não recebe a verdade do sacramento, assim

como Judas e Simão, o mago, receberam o sacramento sem,

contudo, receberem a Cristo, que é aquilo que o sacramento

representa. Cristo é comunicado somente aos crentes.

Finalmente, recebemos esse santo sacramento na

congregação do povo de Deus, com humildade e reverência,

enquanto celebramos com ações de graça a lembrança sagrada

da morte de Cristo, nosso Salvador, e confessamos a nossa fé

e religião cristã. Por isso, ninguém pode vir à essa mesa sem

cuidadoso autoexame, para que, ao comer desse pão e beber

desse cálice, não coma e beba juízo sobre si mesmo (1a

 Cor.

11.28-29). Em resumo, o uso desse santo sacramento nos leva

a amar fervorosamente a nosso Deus e a nosso próximo. Por

essa razão, rejeitamos como profanação todos os acréscimos e

invenções malditas que os homens acrescentaram e

misturaram aos sacramentos. Declaramos que devemos nos

contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos

ensinaram, e falar disso da mesma maneira que eles falaram.

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Comentário: Como já vimos, a Santa Ceia que é um dos

sacramentos neotestamentários, ficou em lugar da Páscoa,

sacramento veterotestamentário. No próprio dia da Páscoa (a

sua última Páscoa) o Senhor Jesus instituiu a Ceia – “E, quando

comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos

discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o

cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o

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meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos,

para remissão dos pecados” – Mateus 26.26-28. O Cordeiro Pascoal

havia vindo e Ele daria a Sua carne para ser comida pelo Seu

povo – “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste

pão, viverá para sempre: e o pão que eu der é a minha carne, que eu

darei pela vida do mundo” – João 6.51. O apóstolo Paulo disse que

ele é o nosso Cordeiro pascoal: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi

sacrificado por nós” – 1ª Coríntios 5.7. A partir daquele momento,

não apenas a Páscoa, mas todos os outros sacrifícios,

juntamente com todos os demais cerimoniais da lei, não

seriam mais necessários. A realidade de todos os tipos, figuras,

sombras do Antigo Testamento estava ali – Jesus Cristo. Na

Ceia do Senhor, a carne de Cristo é representada pelo pão, e o

sangue de Cristo, representado pelo vinho. A substância

desses elementos não é alterada após as ações de graças do

ministrante; o pão continua sendo essencialmente pão e o

vinho continua sendo essencialmente vinho. Contudo, ao

participarmos da mesa do Senhor e recebermos esses

elementos com fé, o Espírito Santo opera e ministra a nós

verdadeira comunhão espiritual com Cristo – “Porventura o cálice

de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O

pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” –

1ª Coríntios 10.16. Os sacramentos estão unidos com a realidade

espiritual que representam, mas ainda assim, nem todos que

recebem os sinais externos possuem a correspondência

interior. Esse é um mistério que não nos cabe perscrutar. Por

isso diz também o apóstolo que quando uma pessoa

irregenerada ou ímpia recebe os sacramentos, o faz para a sua

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própria condenação. A Ceia é para alimentar a alma do crente,

mas se alguém não tem a nova vida de Cristo e ainda é servo

do pecado, e ainda assim participa da mesa do Senhor, “será

culpado do corpo e do sangue do Senhor…, come e bebe para sua

própria condenação… ” – 1ª Coríntios 11.27, 29. Todo infiel ou

hipócrita que participar, o faz de maneira indigna e

irreverente, portanto será julgado pelo Senhor da Ceia. Mas

para o santo, tomar o pão e beber o cálice é de grande

edificação e fortalecimento. Ele lembra-se das maravilhosas

promessas do Senhor – “Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a

minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue

verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue permanece em mim e eu nele” – João 6.54-56.

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O governo civil

Artigo 36: Cremos que, por causa da depravação do

gênero humano, o nosso Deus gracioso estabeleceu reis,

governos e oficiais civis. Ele quer que o mundo seja

governado por leis e estatutos para restringir as ilegalidades

dos homens e para que tudo transcorra em boa ordem entre

eles. Para isso, colocou ele a espada na mão das autoridades

para castigar os malfeitores e proteger os que praticam o bem

(Rm. 13.4). Eles têm, por ofício, não apenas restringir e

conservar a boa ordem pública, mas também a proteção da

Igreja e do seu ministério para que o reino de Cristo possa vir,

a Palavra do evangelho seja pregada em toda parte, e Deus

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seja honrado e servido por todos – como ele determina em

sua Palavra.

Além disso, cada um, independente da sua qualidade,

condição ou classe é obrigado a submeter-se aos oficiais civis,

pagar impostos, respeitá-los e honrá-los, e obedecê-los em

tudo aquilo que não contrarie a Palavra de Deus. Devemos

orar por eles, para que Deus os dirija em todos os seus

caminhos e também “para que vivamos vida tranquila e mansa, com

toda piedade e respeito” (1a

 Tim. 2.1,2).

Em razão disso, reprovamos os Anabatistas e outros

rebeldes, e, em geral, todos quantos se opõem às autoridades

e aos oficiais civis, subvertem a justiça, introduzem a

comunhão de bens e perturbam a boa ordem que Deus

estabeleceu entre os homens.

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Comentário: Deus estabeleceu as autoridades para

governar neste mundo, para que haja ordem e boa

convivência entre os homens. Diz a Bíblia que “… não há

autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram

ordenadas por Deus” – Romanos 13.1. Todas as essas autoridades

procedem do trono de Deus. Quem de fato reina sobre tudo e

todos é o Senhor Jesus Cristo – “E foi-lhe dado o domínio, e a

honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o

seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal,

que não será destruído” – Daniel 7.14. Toda autoridade que existe

neste mundo é apenas uma delegação direta do trono de Deus

onde está o verdadeiro Comandante – “Os reinos do mundo

vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o

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sempre” – Apocalipse 11.15. Para os crentes é grandemente

consolador saber disto, porque sabemos que todos os postos

de autoridade estão nas mãos de Jesus Cristo. Independente

da forma de governo ou da ideologia política, todos,

absolutamente estão concentrados numa única mão, a mão,

que rege toda a criação nos céus e na terra: “É-me dada toda a

autoridade no céu e na terra” – Mateus 28.18. A Bíblia diz que

Deus eleva e abate a quem quer – “Mas Deus é o Juiz: a um abate,

e a outro exalta…”; “Ele remove os reis e estabelece os reis” – Salmo 75.7 e

Daniel 2.21, e a nós, seus filhos nos ordena que nos

submetamos a todas as autoridades onde estamos inseridos,

que as honremos e oremos por elas, porque isso é bom e

agradável a Ele que nos ordenou: “Sujeitai-vos, pois, a toda a

ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;

Quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos

malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem” – 1ª Pedro 2.13-14.

Contudo, nossa obediência às autoridades delegadas deve ir

até o ponto em que essas autoridades não colidam com a lei

moral de Deus. Por exemplo, se alguma autoridade quiser nos

impedir de adorar a Deus ou congregar, então devemos

obedecer a Deus, que é a autoridade máxima. Se algum

sistema de governo nos proibir de anunciar o evangelho, de

forma alguma devemos obedecer, porque temos a ordem do

Rei dos reis que é: “Ide, e fazei discípulo de todas as nações…”. Os

apóstolos nos dão exemplo dessa submissão às autoridades

delegadas, mas obediência irrestrita a Deus – “Porém,

respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a

Deus do que aos homens” – Atos 5.29. Obediência absoluta e

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irrestrita devemos somente a Deus, e aos homens devemos

sujeição absoluta mas obediência relativa. Entre obedecer a

Deus e obedecer ao homem, obviamente obedecemos a Deus.

Contudo, em caso de termos que obedecer a Deus e

contrariar os homens, jamais devemos agir com rebeldia.

Honramos o rei, mas honramos acima dele o Rei dos reis.

Deus, em sua autoridade ordena as autoridades delegadas a

agirem com justiça e temor – “E no mesmo tempo mandei a vossos

juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente

entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele… Não

torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas;

porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos

justos” – Deuteronômio 1.16; 16.19. Ele julgará e punirá os maus

juízes – “Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos

ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o

necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos

ímpios… Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo.

Todavia morrereis como homens, e caireis como qualquer dos príncipes” –

Salmo 82.2-7.

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O juízo final

Artigo 37: Por fim, cremos, conforme a Palavra de

Deus, que ao chegar o tempo ordenado pelo Senhor – mas

desconhecido por todas as criaturas – e se completar o

número dos eleitos, o nosso Senhor Jesus Cristo voltará do

céu, de maneira visível e corporal, assim como ele ascendeu

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(Atos 1.11), com grande glória e majestade. Ele instalará a si

mesmo como o Juiz dos vivos e dos mortos, e porá este

antigo mundo em chamas para o purificar. E então, todas as

pessoas – homens, mulheres e crianças – que existiram no

mundo, desde o seu princípio até o seu final, aparecerão

pessoalmente diante desse Grande Juiz, intimados pela voz do

arcanjo e pela trombeta de Deus (1a

 Tss. 4.16).

Todos os que morreram antes desse dia, ressurgirão da

terra, quando o espírito deles se reunir ao corpo no qual

viviam. Os que estiverem vivos não morrerão como os outros,

mas, num piscar de olhos, serão transformados de corrupção

em incorrupção. Então se abrirão os livros e os mortos serão

julgados (Ap. 20.12) segundo o que fizeram, de bom ou de

mal, neste mundo (2a

 Cor. 5.10). Na verdade, nesse dia todos

prestarão contas de toda palavra frívola que proferiram (Mat.

12.36), as quais o mundo considera apenas como zombaria e

diversão. E os segredos e as hipocrisias dos homens serão

revelados publicamente diante dos olhos de todos. Por isso,

pensar neste juízo é coisa terrível e apavorante para os ímpios

e malfeitores, mas é grande deleite e conforto para os justos e

eleitos. Para estes, a plena redenção será completada, e eles

receberão os frutos de seus labores e das angústias que

sofreram. A todos será manifesta a sua inocência e

contemplarão a terrível vingança que Deus trará sobre os

ímpios que os perseguiram, oprimiram e atormentaram neste

mundo.

Os ímpios serão condenados pelo testemunho da sua

própria consciência e se tornarão imortais, tão somente para

serem atormentados no “fogo eterno, preparado para o diabo e seus

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anjos” (Mat. 25.41). Por outro lado, os fiéis e eleitos serão

coroados de glória e de honra. O Filho de Deus confessará o

nome deles diante de Deus seu Pai (Mat. 10.32) e dos anjos

eleitos. Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap. 21.4), e a

causa deles – no presente, condenada como herética e maligna

por tantos juízes e autoridades civis – será reconhecida como

a causa do Filho de Deus. O Senhor, por graciosa

recompensa, lhes fará possuir tal glória, que é impossível de

ser concebida pelo coração do homem. Por isso, ansiamos

com grande expectativa por aquele Grande Dia, para

desfrutarmos da plenitude das promessas de Deus em Jesus

Cristo nosso Senhor. “Amém! Vem Senhor Jesus!” (Ap.

22.20).

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Comentário: Jesus garantiu que num dia determinado

por Deus, voltará do céu para o Juízo Final: “E quando o Filho

do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se

assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas

diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes

as ovelhas” – Mateus 25.31-32. O Espírito Santo lembrou aos

apóstolos essa promessa: “Porquanto tem determinado um dia em

que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que

destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” –

Atos 17.31. Naquele grande, glorioso e terrível dia, que será o

fim do mundo, todos os homens, mulheres e crianças, tanto

os que já morreram como os que estiverem vivos,

comparecerão diante do trono de Jesus Cristo para receberem

cada um a sua sentença definitiva e eterna. Todos, sem

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exceção, deveriam ser condenados, “porque todos pecaram e

destituídos estão da glória de Deus… e o salário do pecado é a morte” –

Romanos 3.23, 6.23. Mas, Jesus Cristo, morrendo na cruz,

resgatou seu povo, quitando nossa dívida com a justiça divina,

livrando-nos assim da punição eterna e ira vindoura. Os

crentes não serão condenados, porque condená-los seria

cobrar uma dívida duas vezes, o que Deus jamais faria. O

Filho Eterno já cuidou da nossa falência espiritual, moral e

física. Contudo, os que não creram em Cristo e não foram

redimidos, terão que enfrentar o trono de Deus e seu

julgamento. Baseados nas obras, todos os homens estariam

perdidos eternamente, inclusive os crentes – “E vi os mortos,

grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros;

e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados

pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” –

Apocalipse 20.12. Abriram-se os livros e todos foram julgados e

condenados pelas obras que estavam ali escritas. Mas, abriu-se

outro livro, e nesse livro não há obras, mas apenas os nomes

dos eleitos e agraciados com a salvação – “E aquele que não foi

achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” – vers. 15.

Portanto para os crentes fiéis será um grande dia, porque para

eles não haverá condenação. Eles ressuscitarão para

receberem o corpo glorificado e gozar eternamente da

comunhão com Deus e todos os santos. Estarão de corpo de

alma no céu – “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que

todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz [de Jesus Cristo]. E os

que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram

o mal para a ressurreição da condenação” – João 5.28-29. Entretanto,

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para os incrédulos, ímpios, infiéis, desprezadores de Deus,

será um dia terrível porque para eles não haverá recursos.

Esses, sairão das sepulturas para o terror eterno. Também

receberão seus corpos de volta, mas para receberem a punição

que seus pecados merecem. Estarão de corpo e alma no

inferno – “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a

alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o

corpo” – Mateus 10.28. Glória a Deus, por Jesus Cristo o nosso

Senhor e Salvador. Hoje ele está de braços abertos e pronto a

receber e reconciliar todo que vem a ele. Naquele dia,

contudo, estará assentado no grande trono branco para julgar.

Assim, todos os homens serão conquistados e rendidos por

ele – uns para a salvação e outros para a condenação, mas,

todos reconhecerão que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória

do Pai. Amém.

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Pr. Nelson Nincao

Londrina – Abril – 2023 

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Cultos:

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Central para o nosso culto de adoração são a pregação da Bíblia Sagrada, canto congregacional e oração. A intenção é louvar a Deus; Ele é o foco do serviço.

Quando você se junta a nós para o culto, os recepcionistas estão localizados na entrada do auditório e poderão ajudá-lo a se sentar e responder a quaisquer perguntas que você possa ter.

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